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Capital

Torturada 2h pelo ex, mulher desabafa: "Por que não me matava logo?"

Após sessão de violência, a maquiadora de 27 anos decidiu usar as redes sociais para incentivar a denúncia

Geisy Garnes | 13/05/2019 16:05
A vítima usou a foto tirada pelo próprio agressor para denunciá-lo (Foto: Reprodução)
A vítima usou a foto tirada pelo próprio agressor para denunciá-lo (Foto: Reprodução)

Horas de agressão e tortura psicológica se transformaram em força para uma maquiadora, de 27 anos, para romper ciclo de violência com o ex-marido. Depois de ser espancada por ele, no sábado (11), a mulher decidiu usar os ferimentos como exemplo e alerta para outras mulheres que passam pela mesma situação.

Foram 10 anos de um relacionamento abusivo, marcado por ciúmes doentio. “Eu não podia ter foto sozinha no Whats que era por causa de macho; nosso Facebook era junto”, contou a jovem, que teve três filhos com o suspeito. Há dois meses, um surto de violência no meio da rua, e o medo de ser morta, resultaram no fim do relacionamento.

O tempo passou, mas no sábado (11), a maquiadora encontrou o ex-marido em frente de casa, quando chegava ao local com um amigo. “Pedi para meu amigo ir embora, para não dar problema, mas quando abri o portão ele já me puxou pelo cabelo”.

Dentro da casa, a jovem foi agredida e viu o ex jogar todas suas roupas no quintal. “Ele me bateu, eu não consegui ver com o que, mas fez um corte na minha cabeça, perto da orelha, comecei a sangrar”. O suspeito ainda quebrou todas as maquiagens que a vítima havia comprado durante um curso e que usaria para trabalhar.

Vendo a ex ferida, o gesseiro tirou fotos e ameaçou publicar as imagens “para ver se ainda assim ia ser a bonitinha do Facebook”. Depois a forçou tomar banho para “limpar o sangue” e ainda cortou uma mecha do cabeço dela com uma faca.

Foram quase duas horas de tortura psicológica, agressões e ameaças, até que a polícia chegou. “Pensei que ia morrer. Me perguntei porque ele não me matava logo, para acabar com aquilo. Ele ficava falando, me torturando, não me deixava ir embora, fechou o portão”.

A maquiadora ainda não sabe quem avisou a polícia, mas lembra que o comportamento de ex mudou assim que os militares apareceram e que ele chegou a perguntar se ela de fato ia denunciá-lo. “Ele me perguntou se eu ia ter coragem, que ele ia ficar preso. Falei que ele teve coragem de me bater, que eu também ia ter”.

As marcas no corpo após as agressões serviram de força para a maquiadora, que transformou a dor em denúncia no próprio Facebook. No texto, publicado junto com a foto tirada pelo agressor, à mensagem é apenas uma. “Não ache ciúmes doentio fofo. Não deixe isso acontecer com você. Sejam fortes e denunciem. Não se calem”.

“Fiquei com vergonha, confesso. Mas conversei com minha prima e ela me incentivou. Sempre os caras que fazem isso ficam impune, ninguém sabe de nada”, contou a reportagem. Preso em flagrante, o gesseiro passou por audiência de custódia nesta segunda-feira (13) e foi liberado com o uso de tornozeleira.

Além de usar o aparelho e ser proibido de se aproximar da vítima, o gesseiro ainda vai precisar frequentar 16 encontros do grupo reflexivo “Dialogando Igualdades”, no Centro Integrado de Justiça (Cijus), em Campo Grande.

Casa da Mulher Brasileira atende vítimas de violência desde 2015 (Foto: Arquivo)
Casa da Mulher Brasileira atende vítimas de violência desde 2015 (Foto: Arquivo)

Violência contra a mulher – Do dia 1º de janeiro, até hoje, a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) já registrou 2135 casos de violência doméstica em Mato Grosso do Sul, 631 deles só em Campo Grande. No mesmo período 41 mulheres foram assassinadas em todo o Estado.

Só neste fim de semana, 19 mulheres procuraram a polícia para denunciar agressões na Capital. Nove homens foram presos em flagrante e passaram por audiência de custódia nesta segunda-feira (13). Deles, cinco ganharam a liberdade com o uso de tornozeleira eletrônica, dois com a condições de frequentarem os encontros do grupo reflexivo.

Dos outros quatro presos, dois tiveram a prisão preventiva decretada e dois foram liberados, isso porque não tinham passagens e as vítimas optaram por não pedirem medidas protetivas contra eles.

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