ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUINTA  25    CAMPO GRANDE 31º

Capital

Uma casa fechada e dengue tiram o sono dos moradores da Vila Alba

Zana Zaidan | 25/11/2013 16:33

Um imóvel abandonado na Vila Alba, em Campo Grande, tem tirado o sono dos moradores da região desde janeiro do ano passado. Nas casas, é difícil encontrar alguém que não tenha passado o verão de cama, por causa da dengue. Agora, com a chegada do período chuvoso, o receio é que haja uma nova infestação no bairro, já que, apesar das inúmeras denúncias feitas à Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública), a residência continua sendo usada como depósito, ou seja, é um potencial criadouro de mosquitos.

Os moradores cobram um posicionamento do município, seja para notificar ou multar o proprietário do imóvel, Saul Rocha Lima, ou para que ele se responsabilize pela propriedade, e faça a limpeza regular do local.

No quintal da casa, que fica na esquina da Rua Oviedo com a Avenida Madri, muito entulho, garrafas e equipamentos inutilizados, sem qualquer lona ou cobertura que os esconda da chuva.

No imóvel abandonado, todo tipo de entulho fica exposto à chuva, cenário ideal para proliferação do mosquito da dengue (Foto: João Garrigó)
No imóvel abandonado, todo tipo de entulho fica exposto à chuva, cenário ideal para proliferação do mosquito da dengue (Foto: João Garrigó)

Lima é empresário do ramo alimentício, justificativa apontada para manter o depósito alternativo. “Fechei um dos restaurantes no ano passado, então precisei guardar algumas coisas lá. Agora, vou abrir outro restaurante e, aos poucos, estou comprando coisas novas e deixando lá até que esteja tudo pronto”, explica,

Ele garante que mantém a manutenção da casa em dia. “A Zoonoses mesmo, foi lá não tem 45 dias”, argumenta. No entanto, se esquivou de responder com que com freqüência ele acompanha a situação da casa. O empresário garante que mora a 100 metros da “casa-depósito”, também na Vila Alba.

“Na minha casa tem uma piscina de 35 mil litros, tenho um apartamento da Plaenge e em nenhum desses lugares dá problema. Esses vizinhos que reclamam de mim deveriam olhar para a quantidade enorme de plantas que têm na casa deles porque, lá sim é criadouro de mosquitos”, rebate.

Pracinha – Logo em frente à casa abandonada, fica uma pracinha, segundo os moradores, lotada de crianças na parte da manhã e no final da tarde. “Quando o sol não está forte, isso aqui fica lotado, agora ninguém quer mais trazer os filhos. Quem é que vai expor uma criança ao risco de ser picada pelo mosquito da dengue”, questiona a aposentada Eni Lemes, 75 anos, moradora da Ouviedo.

O receio da aposentada Eni é a pracinha que fica em frente ao imóvel. "E se uma criança for picada pelo mosquito da dengue?" (Foto: João Garrigó)
O receio da aposentada Eni é a pracinha que fica em frente ao imóvel. "E se uma criança for picada pelo mosquito da dengue?" (Foto: João Garrigó)

O marido dela, Walter Lemes, organizou um abaixo-assinado no bairro cobrando providências da Prefeitura quanto à casa. A medida surgiu a pedido da psicóloga Maria Aparecida de Araujo Borges, que mora nos fundos do imóvel abandonado. No dia 18 de janeiro ela pegou dengue, e revoltada, não entende o descaso do vizinho. “Nunca vou me esquecer, no ano passado eu quase morri, é uma doença horrível. O pavor de pegar de novo é enorme”, conta.

O mesmo temor tem Beatriz da Rosa Potrich, 54, vizinha de Maria Aparecida. Na casa dela, todos pegaram dengue. O caso mais grave foi o da filha, Aline, 25, que teve hemorrágica, a forma mais grave da doença. “Quase perdi minha filha, as plaquetas dela estavam praticamente zeradas. Ela não podia nem escovar os dentes enquanto estava internada para não correr o risco de a gengiva sangrar”, relembra sobre o risco de uma hemorragia levar a filha à morte.

Até o ano passado, Aline morava na casa, mas depois que teve uma filha, hoje com 1 ano e meio, resolveu se mudar. “Ela não queria que minha neta ficasse aqui. Mal dormimos pensando que minha outra neta, de 7 anos, pode ter dengue e ficar como a Aline”, diz Beatriz, que, além da neta, hoje mora com o esposo e o filho. "É bem revoltante, com tanta informação sobre a dengue, a gente fazer a nossa parte, e um morador colocar o bairro todo em risco", acrescenta.

Beatriz quase perdeu a filha no verão passado por causa da dengue; hoje, teme pela neta (Foto: João Garrigó)
Beatriz quase perdeu a filha no verão passado por causa da dengue; hoje, teme pela neta (Foto: João Garrigó)
A frente do imóvel é limpa, mas ao olhar pelos muros, muita sujeira. "A Prefeitura vem, mas nada muda", diz moradora (Foto: João Garrigó)
A frente do imóvel é limpa, mas ao olhar pelos muros, muita sujeira. "A Prefeitura vem, mas nada muda", diz moradora (Foto: João Garrigó)

Sesau - O CCZ já esteve na casa e, segundo os moradores, a alegação foi de que nenhum foco de dengue foi encontrado. Um dos fiscais, relata Maria Aparecida, ainda a teria destratado durante uma das visitas. “Ele disse que já tinha ido lá, não tinha nada, e que se eu quisesse que o quintal fosse limpo, que eu pagasse um jardineiro para limpar”, conta.

Outra moradora da rua, que preferiu não se identificar, teme pela filha de 1 anos e pelos pais idosos. “Além disso, minha mãe cuida de três crianças. Já pensou se, por virem aqui, eles pegam dengue?”. Ela explica que as visitas das equipes da Sesau são “constantes”, inclusive no imóvel de Lima, mas nada muda. “A prefeitura vem, mas continua tudo sujo”, comenta.

É o que intriga os moradores. “Se fosse na minha clínica, já teriam interditado, colocado uma faixa. Porque a prefeitura fica protegendo esse senhor?”, se revolta Maria Aparecida.

O Campo Grande News entrou em contato com a assessoria para que a Prefeitura esclarecesse o impasse entre os demais moradores do bairro e Lima, mas até o fechamento desta reportagem, não obteve retorno.

A visão panorâmica do quintal mostra o depósito que o dono de restaurantes fez do imóvel (Foto: João Garrigó)
A visão panorâmica do quintal mostra o depósito que o dono de restaurantes fez do imóvel (Foto: João Garrigó)
Nos siga no Google Notícias