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Cidades

Com atividades radicais, escola festeja Dia do Estudante e incentiva a cidadania

Flávia Lima | 11/08/2015 14:29
Apresentação de manobras de skate foram um diferencial nas atividades do Dia do Estudante. (Foto:Fernando Antunes)
Apresentação de manobras de skate foram um diferencial nas atividades do Dia do Estudante. (Foto:Fernando Antunes)

Os cadernos e livros deram lugar às manobras de skate e as aulas de Educação Artística ganharam o pátio através de intervenções de grafite. Este foi o cenário na manhã desta terça-feira (11), na escola estadual “Hercules Maymone”, no Bairro Itanhangá Parque, na Capital.

Para festejar o Dia do Estudante, o diretor Edilmar Galeano, junto a direção e demais funcionários da escola, ousou e buscou uma parceria com os alunos para lembrar a data de forma lúdica, mas que também levasse à reflexão.

Cansado de discutir e promover expulsões devido a atos de vandalismo e pichações contra a escola, o diretor vem adotando, há mais de um ano, a prática de atividades recreativas que promovam a conscientização dos alunos quanto a importância de preservar o local onde estudam.

A dinâmica vem surtindo um efeito positivo, que pode ser conferido durante toda esta terça-feira, através de gincanas, performances de skatistas, apresentações culturais, esportivas e até grafites em espaços da escola.

Quem está acostumado com o ambiente tradicional escolar, onde as datas festivas são lembradas, no máximo, através de apresentações teatrais e música, estranha a dinâmica adotada pelo diretor.

Reunidos no pátio, os alunos se dividiram em grupos e, de forma amistosa, comemoraram a data, cada um com sua “tribo”, respeitando os limites dos demais colegas.

Enquanto um grupo grafitava uma parede, outro improvisou obstáculos para as performances com skates. Não faltou, claro, as apresentações musicais, regadas a muito rap, com letras abordando, por exemplo, a discriminação e o bullyng sofrido por alguns deles.

"Quando você permite a prática dessas atividades dentro da escola, estabelece um meio termo e faz com que eles respeitem os limites de onde pode haver as intervenções", ensina o diretor.

Lição diária - Mas para chegar ao resultado harmônico e, principalmente de parceria, conferido hoje, foram e continuam sendo, meses de um trabalho diário, onde Galeano procura levar aos estudantes palestras e atividades que discutam os problemas em evidência da sociedade. “Não abordamos apenas temas do universo adolescente. Os profissionais convidados falam desde os conflitos familiares até temas motivacionais sobre como se preparar para o Enem ou concursos”, ressalta.

Nesta segunda-feira, por exemplo, quando foram lembrados os nove anos da Lei Maria da Penha, a escola não ficou de fora e recebeu o projeto que leva o nome da lei para discutir o tema violência doméstica com os estudantes.

Segundo o diretor, a aproximação entre direção, professores e alunos fez cair em 60% o número de atos de vandalismo na escola. “Antes eu expulsava, buscava punições, mas percebi que estava perdendo a batalha porque os alunos punidos traziam colegas de outras escolas para promover pichações aqui”, lembra.

A guinada no comportamento começou quando Galeano começou a pedir que os próprios alunos reparassem os estragos. “Comprava lata de tinta e colocava todo mundo para pintar as pichações. A partir daí começou o envolvimento”, conta.

E são os próprios alunos que, hoje, consolidam as palavras do diretor. “Ficamos mais próximos da direção e aprendemos a respeitar nossa escola”, destaca o estudante Gabriel Silveira, 16. Ele diz que após a implantação das atividades culturais e debates, a conscientização dos alunos e da própria comunidade da região mudou. “Hoje,nós mesmo policiamos os colegas, que vem mudando de atitude porque ficam com vergonha”, afirma Gabriel.

O seu xará, Gabriel Santos, 17 vai além e criou o evento “Reconstruindo”, que visita escolas promovendo a arte de rua de forma responsável. Através de parceria com a prefeitura, ele vai aos colégios e conversa com os alunos sobre a diferença entre pichações e grafite, buscando a desmistificação do tema.

Além disso, o movimento também promove ações sociais, como distribuição de alimentos para famílias carentes. “Com isso quero acabar com o preconceito de quem ainda acredita que só jovens de baixa renda promovem vandalismo. Às vezes essas pessoas só criticam e não ajudam em nada”, destaca.

Para ele, as atividades culturais e debates organizados pela direção do “Hércules Maymone”, um dos maiores colégios da Capital, atualmente com 1,5 mil alunos, vem transformando inclusive a realidade familiar dos estudantes.

“Muitas palestras que ouvimos às vezes servem para situações que enfrentamos em casa. Se o aluno sofre com um pai violento, por exemplo, poderá refletir e tirar algo bom de alguma palestra e, quem sabe, ajudar a resolver o problema”, explica Gabriel Santos.

Levar os alunos a um confronto com a própria realidade e buscar meios de modificá-la não é o único propósito da direção da escola. Galeano afirma que as raízes dos problemas enfrentados pelos jovens são mais profundas e começam na família. “Tudo o que eles vivem em casa ou na sociedade reflete na escola, por isso é importante eliminar o preconceito que muitos jovens carentes enfrentam, de que são responsáveis por todo tipo de confusão”, ressalta.

Para Galeano, é importante também divulgar as ações positivas desenvolvidas por eles. A tarefa é árdua, mas necessária para estimular uma mudança de comportamento, e deve ser aplicada por toda a sociedade. “Eu mesmo sofri com um grupo de estudantes que era viciado em drogas, mas consegui recuperar três deles. A exclusão seria mais fácil, mas o desafio de incluir esses jovens na sociedade novamente é o único meio de buscarmos a paz nas escolas”, conclui.

Através do grafite, alunos aprendem aprendem a respeitar limites. (Foto:Fernando Antunes)
Através do grafite, alunos aprendem aprendem a respeitar limites. (Foto:Fernando Antunes)
Com professores e funcionários, estudantes do Hércules Maymone organizam gincana e desafios de rap (Foto:Fernando Antunes)
Com professores e funcionários, estudantes do Hércules Maymone organizam gincana e desafios de rap (Foto:Fernando Antunes)
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