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Cidades

Indústria e comerciantes reagem a proposta de abolir canudinhos em MS

Projeto de lei foi aprovado em primeira votação e segue agora para análise de comissões de mérito da Assembleia Legislativa.

Anahi Gurgel | 12/08/2018 09:37
Fábrica de canudinhos possui dois funcionários específicos para a função. "Gera insegurança". (Foto: Paulo Francis)
Fábrica de canudinhos possui dois funcionários específicos para a função. "Gera insegurança". (Foto: Paulo Francis)

Tem dividido opiniões de muitos empresários a proibição do fornecimento de canudinhos plásticos em estabelecimentos de Mato Grosso do Sul. A proposta foi aprovada na quarta-feira (08), em primeira votação, na Assembleia Legislativa, e já vem gerando polêmica entre os que alegam depender do produto para manutenção do negócio e os favoráveis à medida, como forma de preservar o meio ambiente.

Não tem como negar que o intuito do projeto de lei, apresentado na Casa de Leis em junho, é muito positivo, mas a indústria e boa parte do setor alimentício estão bastante preocupados com a possibilidade da proibição do canudinhos em restaurantes, lanchonetes, bares e hotéis.

Virgílio recebe equipe do Campo Grande News em sua empresa, nesta tarde (09). (Foto: Paulo Francis)
Virgílio recebe equipe do Campo Grande News em sua empresa, nesta tarde (09). (Foto: Paulo Francis)

“Por que só canudo? E os outros produtos feitos de plástico?”. Esse é questionamento corriqueiro entre empresários que fabricam ou dependem desse pedacinho de polipropileno.

“Preocupa porque fizemos investimento pesado em maquinário e capacitação de pessoal voltada à fabricação de canudos. Resolvemos apostar na fabricação de canudos há pouco mais de 1 ano, jpois já tínhamos a estrutura montada e não existiam indústrias no estado. O material vinha de fora, principalmente Mato Grosso, São Paulo e Paraná”, explica Virgílio Dorneles, 71 anos, que há 40 é proprietário de uma convertedora de papel, com sede em Campo Grande.

A empresa é a única do Estado a fabricar canudinhos de plástico. No local, o investimento em maquinários foi de R$ 400 mil, e o planejamento era ampliar o negócio, adquirir outros equipamentos para diversificar os tipos de canudos.

“Essa polêmica gera um cenário de insegurança. Estávamos já conquistando uma boa clientela, que passou a ver vantagens adquirindo produto sul-matogrossense, diz o empresário Leonardo Dorneles, 45, filho de Virgílio. Ele se refere ao barateamento de custo com frete, e outros benefícios de logísitica, crédito de ICMS e quantidade de carga.

O jovem Daniel Moraes Xavier, funcionário da empresa, está angustiado com as incertezas. “Fico tenso porque a fabricação de canudos é hoje minha ocupação na indústria. Ou serei dispensado ou remanejado”, disse.

Indústria de canudos plásticos em plena atividade nesta quinta-feira (09), na Capital. (Foto: Paulo Francis)
Indústria de canudos plásticos em plena atividade nesta quinta-feira (09), na Capital. (Foto: Paulo Francis)

Nos restaurantes - Segundo o presidente da Abrasel/MS(Associação de Bares e Restaurantes), Juliano Wertheimer, a medida esta tirando sono de muitos empresários.

“Somos a favor da proteção ao meio ambiente, mas não é justo penalizar somente um setor por causa de um mau hábito. Não será proibido fabricar ou revender, somente fornecer aos clientes nos bares e restaurantes”, pontua.

Ele acredita que o empenho envolvendo a questão deveria ser muito mais instrutivo, estimulando as pessoas a recusarem canudinhos, por exemplo.

Defendemos a redução dos descartáveis, a reutilização, mas é importante trabalhar no consumidor da ponta. Ele pode não conseguir no restaurante, mas nada o impedirá de comprar canudinho no mercado ou de usar 3 sachês de mostarda, que também são feitos de plástico”, compara.

Estamos buscando apoiadores do setor para ampliar o debate em relação ao projeto de lei. Atualmente, o estado possui 3.170 bares e restaurantes, abrangendo cerca de 30 mil trabalhadores.

Copos retornáveis foram opção de milkshakeria para incentivar consumo consciente. (Foto: Divulgação/Gatito)
Copos retornáveis foram opção de milkshakeria para incentivar consumo consciente. (Foto: Divulgação/Gatito)

Criatividade - Tem, sim, empresário que optou em encarar o desafio de abolir canudinhos. Foi o que aconteceu em uma milkshakeria do Bairro Parati. “Abraçamos a ideia e o perfil de nossos nos ajuda muito nisso. Investimos em copos retornáveis, ecologicamente corretos e criamos promoções para quem usá-los como refil”, conta a proprietária Jéssica Benitez.

Os produtos foram encomendados de Santa Catarina, onde era mais vantajoso, considerando o custo/benefício. “Não iremos retirar os canudos de repente, mudança de cultura é lenta. Também não podemos obrigar os clientes a comprarem os copos, mas é um incentivo", diz. Lá, cada recipiente sai por R$, 7,50, e tem desconto se a pessoa levar o produto para “recarregar” com milkshake numa próxima compra.

"Não é fácil. Dificuldade maior é o custo e encontrar fornecedor, mas é uma tendência. Tem uma adolescente de 13 anos que se recusa a tomar no canudo. É a nova geração preocupada com o futuro. Isso nos inspira”, descreve.

Projeto de lei - O texto, de autoria do deputado Pedro Kemp (PT), foi apresentado em junho, prevendo a proibição, em âmbito estadual, do fornecimento de canudos de material plástico aos clientes de hotéis, restaurantes, bares, padarias, conveniências, clubes noturnos, salões de dança e eventos musicais de qualquer espécie, entre outros estabelecimentos.

Pela proposta, os canudinho plásticos poderão ser substituídos por canudos de papel reciclável, material comestível, ou biodegradável. A proposta agora segue para as comissões de mérito, para depois ser votada novamente na Assembleia. Se receber o aval, segue para sanção do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), que pode tornar a matéria lei estadual ou vetá-la, em função de análise jurídica.

Considerado “vilão” da natureza, não é de hoje que o canudo plástico vem sendo alvo de ações ambientais mundo afora, para abolir seu uso. A guerra tem como principal mote o descarte quase que instantâneo do produtos: média de 4 minutos após o uso, sendo que o produto le leva quase 200 anos para decompor.

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