Decoada ressurge com força no Pantanal e começa a provocar morte de peixes
Fenômeno deixa água rica em matéria orgânica em decomposição, o que altera níveis de oxigênio nos rios
RESUMO
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As fortes chuvas que atingiram o Pantanal em abril causaram a decoada, fenômeno natural que altera as características das águas dos rios. Com o aumento do nível dos rios Paraguai, Miranda e Aquidauana, matéria orgânica em decomposição e cinzas de queimadas são carregadas para os rios, tornando as águas turvas e com baixa oxigenação. O fenômeno, mais intenso em Porto Murtinho e áreas altas do Pantanal, afeta principalmente os peixes, que buscam oxigênio na superfície ou migram para outras áreas. Em Porto Murtinho, a subida repentina do Rio Paraguai intensificou a decoada, impactando a pesca. No Paraguai-Mirim, pequenos peixes, principalmente pintados, debatem-se na superfície em busca de oxigênio, enquanto pescadores relatam a redução da pesca na região.
A subida das águas do Rio Paraguai e afluentes acima da média do ano passado, principalmente depois dos temporais de abril na região de entorno da bacia pantaneira, começa a provocar com maior intensidade a chamada decoada. O fenômeno natural ocorre com as alterações nos parâmetros físicos, químicos e biológicos das águas com o carreamento de biomassa vegetal seca depositada nas margens, além das cinzas das queimadas, o que pode matar peixes, por falta de oxigênio.
O extravasamento dos rios em direção às áreas de planície de inundação e lagoas marginais deixa as águas mais turvas, resultado da presença da matéria orgânica em decomposição, fator já registrado nos rios Miranda, Aquidauana e Paraguai. Neste ano, a reação foi mais forte em Porto Murtinho, onde o rio subiu mais de dois metros em abril, e já ocorre na parte alta do Pantanal, em Corumbá, com peixes se acumulando na superfície do Rio Paraguai-Mirim.
“Com as águas do Norte (das cabeceiras, em Mato Grosso) chegando e as chuvas de abril e do Rio Taquari inundando os campos, o fenômeno volta a acontecer numa região castigada pela seca e o fogo em 2024”, informa Nelson Araujo, presidente do Instituto Agwa, que tem base instalada no Paraguai-Mirim, a 150 km de Corumbá. “Não tivemos decoada no ano passado com a falta de chuvas, mas agora tem muita água e os peixes já sentem a reação.”
Peixe agitado - No Paraguai-Mirim, que está volumoso e encobrindo o barranco de quase 2 metros em alguns trechos, pequenos peixes (a maioria pintados) debatem-se na superfície em busca de oxigênio, durante o dia e a noite. Há registros também da presença mais frequente de arraias nas margens, indicando que as mudanças químicas da água estão em curso. Uma preocupação para os ribeirinhos: o peixe tem cauda com espinho e pode causar ferimento grave.
Na mesma região, o fenômeno se estende até a Barra do São Lourenço, cerca de 70 km rio acima, com relatos de morte de peixes. Pescadores reclamam da redução da pesca, o que é natural: os peixes não se alimentam nestas circunstâncias, interferindo na probabilidade de captura, e migram para outras áreas em busca de oxigênio. A decoada também é percebida próximo a Corumbá, segundo relatos de pescadores profissionais e amadores.
Em Porto Murtinho, região pantaneira do Nabileque, a subida repentina do Rio Paraguai em mais de 2,70m, entre abril e início de maio, acelerou o processo de inundação nas margens e a decoada tem causado grande impacto na pesca. “O rio está ruim de peixe há mais de um mês, água muito suja. A chuva de abril lavou o campo e toda a sujeira (vegetação morta) veio para o rio”, detalha o empresário Marco Aurélio Nunes (Marcão), dono de pesqueiro.