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Interior

Em lugar de onde até o TJ avalia sair, moradores relatam ‘toque de recolher’

Instalada há quatro meses, comarca pode ser desativada diante da situação de violência

Mayara Bueno | 19/05/2019 15:14
Linha internacional entre Brasil e Paraguai. Do lado direito, Coronel Sapucaia e do outro Capitán Bado. (Foto: Mayara Bueno).
Linha internacional entre Brasil e Paraguai. Do lado direito, Coronel Sapucaia e do outro Capitán Bado. (Foto: Mayara Bueno).

Basta começar a escurecer e o silêncio impera nas ruas de Coronel Sapucaia, cidade a 400 km de Campo Grande, onde até a Justiça não quer permanecer por conta da insegurança. O município de 15 mil habitantes faz fronteira com Capitán Bado, no Paraguai, e tem fama de “terra sem lei” de Mato Grosso do Sul.

Moradores, que preferem não se identificar por motivos de segurança, relatam que já faz um tempo em que o movimento na cidade reduz drasticamente à noite e poucas pessoas são vistas nas ruas desde o entardecer no lado brasileiro, mesmo que não haja qualquer ordem para recolhimento. 

A atitude é imposta pela condição de insegurança em que vivem. Estabelecimentos fecham cedo e poucos lugares são vistos com a porta aberta até mais tarde. Contudo, servidores da segurança pública local relataram à reportagem que a situação é natural por se tratar de uma cidade de interior.

Os números, no entanto, mostram que o medo não é a toa. Relatório divulgado no começo do ano pelo Idesf (Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras) apontou que Coronel Sapucaia é vice-campeã na lista das mais violentas da fronteira do Brasil com o Paraguai.

O caso mais recente de violência a qual a população foi exposta ocorreu em 5 de abril, quando pelo menos 15 assaltantes chegaram em veículos em uma agência bancária localizada na Rua José Guiomar, no Centro de Coronel Sapucaia.

Outros criminosos foram para o batalhão da Polícia Militar e para a delegacia de Polícia Civil, que ficam em lados opostos do município, mas ambos próximos à linha internacional. Um terceiro grupo foi para o acesso da cidade em direção a Amambai, para impedir a saída de carros.

A tiros, os bandidos arrombaram as portas de vidro e dispararam ao menos 200 cápsulas deflagradas de fuzil, escopeta e pistola 9 milímetros. Em áreas mais próximas da agência, moradores acordaram com o barulho e a impressão foi de que “estavam destruindo a cidade”. Um mês depois, moradores contam com temor os rastros que o crime deixou no local. Pelo menos R$ 100 mil teriam sido levados do banco.

Registro tirado por volta das 18 horas mostra rua deserta. (Foto: Direto das Ruas).
Registro tirado por volta das 18 horas mostra rua deserta. (Foto: Direto das Ruas).

Reação – Em 17 de janeiro, o município virou comarca da Justiça. Entre criminais, de tráfico, ações previdenciárias, estima-se três mil processos em trâmite. A mais recente informação é de que o Poder Judiciário avalia a desativação do local, diante da falta de segurança.

O secretário da Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública), Antônio Carlos Videira, é objetivo ao afirmar que a cidade “está melhor do que já foi” e que os índices de crimes na região diminuíram em cinco anos. 

Sobre a possibilidade da desativação da comarca, o titular disse que existe decreto autorizando a cedência de policiais militares para segurança de fóruns.

Contudo, para que isso ocorra, precisa haver uma “compensação” do Poder Judiciário ao Executivo, que pagará aos militares uma espécie de “hora extra” para a realização da jornada extraordinária.

“É justa a preocupação do Poder Judiciário, mas não tivemos nenhum incidente em relação à comarca. Mas, se o furto é motivo para fechar o fórum, que afeta a população, é uma avaliação deles. A preocupação é com a segurança dos magistrados. Nós queremos crer que vai resolver”.

De acordo com Videira, o Estado colocou à disposição da Justiça a possibilidade do termo no qual prevê a cedência de policiais para segurança da comarca, com a contrapartida de compensação. O TJ-MS (Tribunal de Justiça de MS) resolveu adiar por pelo menos mais um mês a permanência da estrutura no município - situação que segue incerta.

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