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Para vender gás mais caro, cartel ameaçava quem fazia promoção

Escutas telefônicas gravadas com autorização da Justiça mostram comerciantes mandando outros revendedores suspenderem promoção de gás mais barato; “Tem que segurar nos 75”

Helio de Freitas, de Dourados | 05/04/2018 12:18
Policiais militares e agentes do Gaeco em revendedora de gás durante operação, na semana passada (Foto: Arquivo)
Policiais militares e agentes do Gaeco em revendedora de gás durante operação, na semana passada (Foto: Arquivo)

Até quem fazia promoção vendendo botijão mais barato era ameaçado pelo cartel que agia em Dourados e em outras cidades sul-mato-grossenses para controlar o preço do gás de cozinha.

As investigações conduzidas pelo Ministério Público mostram que os chefes do cartel mandavam os concorrentes retirar até mesmo faixas e cartazes informando preço abaixo do valor definido pelo esquema. O inquérito está em segredo de justiça, mas o Campo Grande News teve acesso a alguns documentos, com transcrição das conversas dos comerciantes, gravadas por escutas telefônicas.

Sete empresários de Dourados e um de Nova Andradina foram presos no dia 27 de março na Operação "Laisse Faire", feita pelo Ministério Público em Dourados com apoio do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado). Dois já tiveram a prisão preventiva revogada.

Os douradenses Gregório Artidor Linné, Edvaldo Romera de Souza, César Meirelles Paiva, Rosemar Evangelista Machado, Mauro Victol, Márcio Sadão Kushida, Rubens Pretti Filho e Rogério dos Santos de Almeida, de Nova Andradina, são acusados de cartelização, crime contra a ordem econômica e organização criminosa.

Edvaldo e Gregório já conseguiram liberdade, mas a justiça negou revogar a prisão de Mauro Victol e Rubens Pretti Filho, que também foram flagrados com armas no dia da operação e são apontados como os mais violentos do grupo nas ameaças para fazer valer o poder do cartel.

Segurar o preço – “É segurar o gás nos R$ 75, né cara. Porque senão nós não aguenta, né? De todos os lugares o que tá bagunçado é Dourados. Todos os lugares oitenta e cinco, noventa... então vai tentar segurar o gás nos R$ 75 e daqui uns 15 dias jogar pros R$ 80 né? Senão como é que faz? A despesa é grande, né Marcos. Senão nós não aguenta”, afirmou Rubens Pretti Filho em conversa com outro empresário do setor.

As gravações foram feitas em escutas autorizadas pela justiça. A investigação sobre o cartel começou em 2016, após denúncias de comerciantes do setor que foram ameaçados inclusive com armas para adotar as regras da quadrilha.

Explosivo – O próprio Rubens Pretti Filho disse em conversa interceptada pelas escutas que tinha colocado a arma “na cara” de um concorrente, para intimidá-lo. Rubens é apontado pelo Ministério Público como uma das pessoas mais influentes e perigosas do grupo e conhecido por seu “temperamento explosivo”.

Em outro diálogo sobre o preço do gás, Rubens reclama da promoção feita por uma concorrente, a Pantanal Gás, que havia postado no Facebook preço de R$ 69,99 pelo gás de cozinha.

A pessoa que conversa com Rubens, não identificada na investigação, diz que se o preço anunciado na rede continuasse, iria baixar seu gás para R$ 64,99 por telefone de plantão. “Por Facebook não vende gás”, disse o interlocutor a Rubens Pretti Filho, completando que sua vontade era vender o botijão de R$ 75 a R$ 78.

Em outra conversa, Rubens reclama para outro comerciante do setor da promoção feita por uma rede de supermercados e faz ameaça: “Quem tem que resolver é nós, se não resolver, vamos resolver diferente, ué! Porque eu não vou deixar o cara vender gás mais barato do que eu!".

Faixas - Outro empresário de gás com forte influência na padronização de preços, não só em Dourados, mas também em Aquidauana e Corumbá, é Mauro Victol. Em uma das conversas gravadas, Mauro liga para outro comerciante do setor em nome da gerente de outra distribuidora, mandando retirar faixas com preço promocional.

Na conversa, Mauro diz que era a hora de tirar todas as faixas, para a tentativa de acerto de preço e só deveria voltar com as faixas se o acerto desse errado.

Em outra conversa, Mauro tenta convencer um dos revendedores a continuar recebendo o gás que ele distribui e promete lucro fácil.

“Vocês vão ganhar mais dinheiro. Só que é assim, Alex, eu tô vendo que as pessoas não querem aceitar, quer vender mais barato. Eu vou baixar o preço de novo. Só que nós vamos ganhar menos. O que a gente tava tentando é fazer todo mundo ganhar mais. Você ganhar mais. Aqui em Campo Grande, cara, o povo tá vendendo gás a R$ 60. Mas é um mercado totalmente diferente porque em Campo Grande qualquer revenda pequenininha vende mil bujão, porque tem muita gente, tem 800 mil habitantes”, disse Mauro.

Segundo o Ministério Público, mesmo sem perceber, Alex concordou a entrar no esquema, convencido por Mauro de que o gás precisa ser vendido com o preço mais caro com a justificativa de ter lucros maiores. “Notadamente, Mauro estava tentando convencer Alex a entrar no esquema. Mauro finalizou sua manipulação dizendo ‘então vamos ver cara, fazer força pra esse negócio dar certo, pra gente tentar ganhar um pouco mais’, firmando, claramente, um acordo com Alex”, diz trecho do parecer do MP contra a revogação da prisão de Mauro Victol.

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