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Interior

Peão que matou ex-prefeito é condenado a 16 anos de prisão

Crime ocorreu em fevereiro do ano passado. Réu matou patrão após ser questionado sobre o serviço

Mirian Machado e Adriano Fernandes | 30/04/2021 22:36
No canto direito, Luis por videoconferência durante julgamento nesta tarde em Amambai (Reprodução)
No canto direito, Luis por videoconferência durante julgamento nesta tarde em Amambai (Reprodução)

Luis Fernandes, conhecido como “Paraguaio”, de 55 anos, foi condenado a 16 anos de prisão nesta noite (30) durante julgamento no Tribunal do Júri de Amambai, cidade a 360 km de Campo Grande, pelo assassinato do ex prefeito da cidade Dirceu Lanzarini em fevereiro do ano passado. Ele também terá de pagar multa de R$ 25 mil referente às custas do processo. O julgamento terminou por volta das 22h20 depois de aproximadamente 12h de discussão. Luis acompanhou a sessão por meio de videoconferência.

A partir de agora ele cumprirá pena de 14 anos pelo crime de homicídio qualificado, e mais 2 anos de reclusão e 10 dias-multa, para o porte de arma de fogo. O júri absolveu o réu da acusação de tentativa de homicídio contra o genro da vítima, Kesley aparecido Vieira Matricardi, de 34 anos, que também foi baleado no atentado. 

No dia do crime, Kesley e o sogro haviam descarregado carga de sementes e veneno para a lavoura na fazenda e encontraram Luis Fernandes na porteira enquanto deixavam a propriedade. Kesley dirigia a caminhonete S10, enquanto o sogro ocupava o banco do passageiro. Ambos pararam o veículo ao lado de “Paraguaio” e Dirceu Lanzarini perguntou ao empregado porque ele e outros funcionários não trabalhavam semeando naquela manhã. “Escuta, aconteceu alguma coisa, porque não estão trabalhando?”, questionou o patrão, segundo testemunhou o genro.

Foi neste momento que Luis Fernandes perguntou por que Lanzarini estava nervoso, sacou arma e disparou contra a caminhonete. “Foi muito rápido, eu ouvi os tiros, de dois a três. Ele atirou e eu arranquei com o carro. Depois, vagamente, ouvi um ou dois tiros”, narrou Kesley aos jurados.

Polícia durante reconstituição do assassinato do ex prefeito de Amambai (Arquivo/AGazetaNews)
Polícia durante reconstituição do assassinato do ex prefeito de Amambai (Arquivo/AGazetaNews)

Luis Fernandes negou as acusações durante o julgamento. Ele contou que seguia pela estrada quando quase foi atropelado pela dupla na caminhonete por duas vezes. Na primeira ao passar próximo de Luis, de dentro do veículo Dirceu teria apontado uma arma em sua direção, por esse motivo reagiu e atirou. Momento em que a caminhonete seguiu em frente. “Quando eu fui pro meio da pista, eles deram ré no veículo e eu atirei de novo em direção ao pneu”, explicou em depoimento.

Ao ser questionado, contou que por causa do barulho da caminhonete não ouviu os disparos feitos por Dirceu contra ele.

Sobre a arma, Luis contou que achou o objeto próximo a um pesqueiro e que entregou ela à Dirceu. Posteriormente o patrão o ordenava a seguir armado quando ficasse sozinho na fazenda. As munições encontradas em sua casa, disse não saber de quem são.

“Ele me devia, mas nunca discutimos. Nunca reclamei de ninguém, nem dele. Eu comentava algumas vezes com a minha esposa que ele ainda não tinha me pagado, mas só isso”, explicou.

A defesa relatou que a intenção do réu não era atingir Kesley, por esse motivo pedia durante julgamento que ao invés de tentativa de homicídio fosse julgado por lesão corporal. Ainda contrariou as qualificadores em relação ao homicídio. "Ele estava dentro do carro, não em uma jaula. Ele consegue arrancar com o veículo. Um cara acertar alguém dentro do carro é raro, é só ele arrancar. Já motivo fútil seria uma 'mosca na sopa'", explicou ao questionar o que teria levado uma pessoa de família a matar alguém e acabar com duas famílias por uma coisa insignificante.

Durante a sua fala no julgamento o advogado do réu, André Luiz Prieto, chegou a citar uma suposta "vaquinha" feita por fazendeiros da região de Amambai, à época do crime, para "eliminar a vida" do peão. Mesmo com toda polícia em seu encalço, Fernandes só foi preso porque se entregou, dezessete dias depois de assassinar o patrão um com tiro na cabeça.

"Já havia uma cota entre empresários, fazendeiros que estavam monetizando os valores para fazer uma caçada ao Luís Fernandes, porque já estavam completamente desalinhados", diz. A informação, conforme o advogado, teria sido repassada pelo secretário de segurança pública de Mato Grosso do Sul, Antônio Carlos Videira. "Os valores que estavam sendo monetizados para eliminar a vida dele já estavam quase todos arrecadados", completou Prieto. Contudo, nenhuma alegação foi suficiente para evitar a condenação do acusado.

Confira o vídeo da fala do advogado, registrado pelo colaborador Tião Prado do Ponta Porã Informa.

O crime – No dia 24 de fevereiro do ano passado, Dirceu Lanzarini, que exercia cargo de secretário especial da Casa Civil, no Governo de Mato Grosso do Sul, foi atingido na cabeça e morreu horas depois em Dourados. Kesley foi ferido no braço e de raspão no pescoço, mas sobreviveu.

Fernandes trabalhava há uma década na fazenda de Dirceu Lanzarini. Ele se apresentou na delegacia após passar 17 dias escondido, quando foi cumprido o mandado de prisão.

Para o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), responsável pela acusação, o homicídio e a tentativa de assassinato foram praticados mediante recurso que dificultou a defesa das vítimas, tendo o Luis Fernandes agido repentinamente contra pessoas desarmadas, que estavam no interior do veículo. O motivo dos crimes, segundo a denúncia, é fútil, porque ele agiu quando conversavam sobre trabalho referente ao plantio e outros serviços.

Dirceu sendo socorrido após ser atingido a tiros pelo funcionário (Foto: Arquivo Adilson Domingos)
Dirceu sendo socorrido após ser atingido a tiros pelo funcionário (Foto: Arquivo Adilson Domingos)


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