Heróis dos bairros: mercados sobrevivem aos grandes concorrentes batendo à porta
Só no ano que se passou, três novos supermercados e seis “atacarejos” ergueram imponentes estruturas em Campo Grande
Eles sobrevivem mesmo com a concorrência de grandes redes batendo à porta. Como heróis dos bairros, os mercados e supermercados não levam esse nome apenas por salvar a dona de casa no apuro da falta de um ingrediente para o almoço, é por sobreviver às cargas tributárias e aos concorrentes, cada vez maiores.
Só no ano que se passou, três novos supermercados e seis “atacarejos” ergueram imponentes estruturas em Campo Grande. O nome vem da junção atacado e varejo. Opção que abastece muitas dispensas a preço de custo.
Mesmo com todo este cenário que tende a desvalorizar os pequenos, eles se mostram verdadeiros heróis. Dados da Amas (Associação dos Supermercados de Mato Grosso do Sul) revelam que os supermercados de bairros cresceram 6% no ano passado. Um deles é o Pires, que há três anos e meio viu poucos passos adiante um Comper abrir as portas na Vila Sobrinho.
“No começo a gente ficou triste com a concorrência né, mas no geral acaba que traz mais sucesso, você vê que continuou mesmo com a concorrência”, fala a gerente Elaine Pereira de Oliveira, 29 anos.
Com o negócio no sangue, ela e a família tocam o ramo de supermercados há uma década. Longe de fechar as portas, o supermercado ganhou o 4° lugar na premiação da Amas, em 2011. Com 13 lojas espalhadas pela cidade, ainda neste trimestre mais três abrirão ao público.
“É o atendimento, o que a gente cultiva há 10 anos todo santo dia. O atendimento ao público é o carro chefe do supermercado”, explica Elaine sobre o segredo da sobrevivência.
O resultado são clientes satisfeitos e o estabelecimento cheio. “Esse é o problema de ter perto de casa. Toda hora você está no Pires, se esquece alguma coisa, eu venho mais de uma vez por dia”, conta o socorrista Alfredo Mendes, 54 anos.
Ele e o restante da clientela não escondem que vão ao supermercado da frente. Ter os dois por perto traz à tona um costume de quem quer pagar o menor preço, pesquisar. A peregrinação pelo bom preço é rotina para o médico Marcos Vinícius Bento, 48 anos.
Ao procurar os tomates mais maduros ele confessa que dependendo do tamanho da compra, vai até os tradicionais atacados e varejos, mas as compras “frescas” para a semana são ali na redondeza mesmo.
“Eu compro parte aqui e parte lá, venho primeiro aqui, o que está acima do preço eu vou lá. Eu levo pelo produto, onde tiver mais em conta”, observa o médico.
Há três anos, quando viu as portas de uma rede de supermercados abrir, o que a pedagoga Vivian Regina Moura, 28 anos, sentiu foi que o mercado mais chegado fecharia as portas.
“Achei que pelo nome, o Pires não fosse aguentar, mas não, me superou está aí até hoje. Cliente fiel não sai e o que é muito bom são as promoções”, comenta.
Estratégia de marketing que deu certo, cada dia da semana tem promoções, não só a quinta verde, como a quarta também. A sexta da carne, o domingo “mix” de churrasco e bebidas e a segunda de padaria e perecíveis.
“O cliente já está acostumado, se a gente muda, reclamam”, brinca a gerente Elaine.
Para quem acompanha o cenário de perto há muito tempo, o vice-presidente da Amas, Adeilton Feliciano do Prado, vê a situação como transcorrer natural. “É a tendência das grandes redes virem chegando. Eles pesquisam para onde ir e vão entrando. E o pequeno é que tem que se virar”, afirma.
O “se virar” é em relação ao preparo dos pequenos mercados que precisam obrigatoriamente acompanhar a modernização.
“A gente percebe que no decorrer dos anos, o mercado que se modernizou mais e tem um bom atendimento está ficando, mesmo com os grandes. Porque o consumidor além do atendimento quer praticidade, rapidez, acesso fácil e geralmente estamos próximos a casa deles”, relata.