Ligações disparam com cobradores e golpistas de olho no 13º do trabalhador
Com dinheiro extra chegando, celular não para, inclusive, com as ofertas que se multiplicam
RESUMO
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Na véspera do pagamento do 13º salário, trabalhadores e aposentados enfrentam uma avalanche de ligações indesejadas, incluindo cobranças e tentativas de golpes. O assédio telefônico se intensifica neste período devido à expectativa de dinheiro extra nas contas dos beneficiários. Especialistas alertam que, embora a cobrança seja um direito, existem limites legais. As ligações devem respeitar horários comerciais e não podem ser excessivas ou coercitivas. Para se proteger, recomenda-se registrar as ocorrências abusivas e manter cautela com ofertas suspeitas, especialmente durante este período do ano.
Às vésperas do pagamento do 13º salário, o celular de trabalhadores e aposentados passa a tocar sem parar, em um período em que cobranças se intensificam e golpes aumentam justamente porque milhões terão dinheiro extra na conta. A rotina de ligações se transforma em pressão, medo e sensação de perseguição diária.
A aposentada Alice Kotbis, de 56 anos, vive sob bombardeio constante. “Tem dias que eu nem atendo o meu celular. Eu deixo no silencioso porque incomoda. É muito número desconhecido, muita operadora. Deve ser de presídio também, porque é uma ligação atrás da outra.” Segundo ela, até bancos entram na pressão. “A gente é aposentada e eles tentam fazer de tudo pra julgar. ‘Ah, você tem dinheiro pra esse bem’. É muita enganação.”
Alice conta que já caiu em golpe envolvendo falsa restituição do Fundo de Garantia. “Eu passei meus dados, paguei uma taxa ainda e acabei caindo no golpe.” Ela diz que toda abordagem foi por ligação. “Isso que eu sou super instruída. Acabei caindo no golpe por ligação mesmo.” Hoje, tem medo até de atender. “No final do ano piora, né? Mas pra mim é o ano inteiro. É o ano todo, é dia, noite… é muito golpe mesmo.”
Ela estima receber de 20 a 30 ligações por dia. “De manhã, de tarde, de noite, não tem horário. Às vezes você está dormindo às seis horas e eles estão te ligando porque no horário de São Paulo já são sete.” Mesmo sem dever nada, as abordagens não cessam. “É oferecendo produto que você não quer saber. Incomoda muito. Tinha que ter uma lei pra bloquear esses números.”
A técnica em radiologia Maria Aparecida da Silva, de 70 anos, adotou a estratégia de só atender quem já conhece. “Se não mandar mensagem, se o telefone não for da minha lista, eu não atendo.” Ela relata receber muitas ligações de números suspeitos. “Vai bastante. Aquele 0300 lá e outros que a gente nem conhece. Quando não é daqui, eu não atendo. E, se é daqui também, não atendo, porque geralmente é presídio.”
Para Maria, o final do ano piora tudo. “No final do ano piora muito. Parece que é por causa do 13º, né?” Ela conta que basta pesquisar algo na internet para ser bombardeada por contatos. “De repente entra no celular. Você nem pediu pra pôr no WhatsApp e aí não tem nem como tirar.”
O incômodo é tanto que ela evita atender o telefone. “Às vezes é uma ligação importante e você deixa. Mas não atendo.” Maria passou a usar até um aviso automático. “Coloquei lá o recado no WhatsApp: só mensagem. Quando liga pra mim, eu não atendo porque meu celular avisa: ‘pode ser golpe’. Aí eu já não atendo mesmo.”
Ela diz que muitas chamadas vêm de cobranças insistentes. “Às vezes passa de dez. E agora aumenta ainda mais, porque vai chegando o final do ano, parece que eles querem, né?” Para ela, muita oferta esconde riscos. “Eles falam umas coisas pra você poder pagar, e você nem sabe se é verdade. Hoje em dia não dá pra acreditar. Tem que desconfiar até do Papai Noel.” O 13º dela já chegou comprometido. “Caiu na conta e já foi.”
No caso de Janaína Pinheiro da Silva Borges, 52 anos, quem mais sofre é a mãe, de 74 anos. “Ela que recebe bastante ligações. A gente já instruiu: escuta e desliga.” Segundo Janaína, não dá para saber se as chamadas são de cobrança real ou golpe. “Ela fica ‘alô, alô’ e desliga. Não dá pra saber se é de presídio, se é cobrança de verdade.”
O volume, segundo ela, é diário e constante. “É todo dia. Hoje mesmo recebeu quarenta ligações. De manhã, de tarde, de noite. Ligação toda hora.” Janaína afirma que bloquear não resolve. “A gente quer bloquear, mas não tem como com esses números que você não sabe de onde são.” A orientação da família é simples: “Ela vê o número, reconhece que não é conhecido e já nem atende.”
O que é cobrança legal e o que já virou abuso ?
Em meio a esse cenário, a advogada e professora de direito digital Luiza Faccin explica que a cobrança é um direito, mas há limites. “A cobrança de uma dívida é um exercício regular de direito do credor. Ele pode ligar, enviar cartas ou e-mails para informar sobre o débito e oferecer negociações. Porém, a linha é cruzada quando a cobrança se torna vexatória ou coativa. O artigo 42 do Código de Defesa do Consumidor é claro.” Ela diz que é ilegal ligar para o trabalho do consumidor expondo a dívida, deixar recados com parentes, ameaçar prisão ou tomada de bens sem processo real e fazer ligações agressivas ou excessivas. “Ligações demais, a cada 10 minutos, por exemplo.”
Quantas ligações por dia e o que diz a lei?
Sobre horários, Faccin lembra que não existe número exato na lei, mas vale a razoabilidade. “As ligações devem respeitar o horário comercial. Ligações aos domingos, feriados ou tarde da noite são abusivas.” Ela reforça que dezenas de chamadas diárias já são suficientes para caracterizar abuso e que alguns estados têm leis locais limitando faixas de horário.
O que fazer diante de ligações excessivas
A especialista orienta que o consumidor registre provas quando enfrentar cobrança excessiva: anotar horários, números, nomes de empresas e gravar as ligações, já que isso é permitido quando a pessoa participa da conversa. Plataformas como Não Me Perturbe, Consumidor.gov.br e Procon são os principais caminhos para denunciar.
Golpes que crescem junto com o 13º salário
Com a chegada do 13º, golpes também disparam. Segundo Faccin, criminosos usam manipulação psicológica baseada em urgência e oportunidades falsas. Entre os mais comuns, estão falsas centrais de renegociação oferecendo descontos irreais, boletos falsos e mensagens fraudulentas do banco induzindo o consumidor a ligar para números falsos. “Não clique em nada que você não conhece.”
Como o trabalhador pode se proteger
Ela recomenda postura de “confiança zero”, verificando beneficiários antes de pagar boletos, evitando links desconhecidos e sempre entrando diretamente nos canais oficiais do banco ou do Serasa.
Se o golpe acontecer, o que fazer primeiro?
Em caso de golpe, a especialista reforça a importância da rapidez: acionar o banco, solicitar o Mecanismo Especial de Devolução no caso de Pix, contestar compras feitas no cartão, registrar boletim de ocorrência e denunciar nas plataformas onde o golpe ocorreu.
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