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Economia

"Desidratação" de leilão para exploração de petróleo salva Pantanal de riscos

Bioma em MS não integra negociação, mas estado tem caminho aberto para técnica de perfuração polêmica

Por Silvia Frias | 18/06/2025 14:55
"Desidratação" de leilão para exploração de petróleo salva Pantanal de riscos
No campo verde, o lote do Pantanal do norte de MT que entrou no leilão da ANP, mas não foi arrematado (Foto: Instituto Internacional Arayara)

O leilão do petróleo da ANP (Agência Nacional do Petróleo) terminou com arremate de 34 dos 172 blocos ofertados, segundo dados do governo. Para o Instituto Internacional Ayara, a “desidratação” do certame foi considerada positiva, por conta do elevado risco ambiental das áreas envolvidas e que não foram arrematadas, entre elas, da Bacia de Parecis, que engloba parte do Cerrado e do Pantanal de Mato Grosso.

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O leilão de petróleo da ANP resultou na venda de 34 dos 172 blocos disponíveis, com destaque para a Bacia de Parecis, onde apenas um bloco foi arrematado. O Instituto Internacional Arayara considerou positiva a "desidratação" do leilão, que evitou áreas de alto risco ambiental, como o Pantanal. O diretor Juliano Bueno alertou sobre os perigos do fracking, técnica de perfuração que pode prejudicar a agricultura e a biodiversidade. Apesar de algumas proibições em municípios de Mato Grosso do Sul, um projeto para suspender o fracking por dez anos não foi aprovado. O leilão atraiu nove empresas, com investimentos previstos de R$ 1,45 bilhão na exploração.

O Pantanal de Mato Grosso do Sul está fora da rota deste leilão, mas o alerta do diretor técnico do Instituto Internacional Arayara, Juliano Bueno sobre o estado refere-se a situação pendente há anos: o caminho aberto para exploração de petróleo e gás por fracking, o fraturamento hidráulico, polêmica técnica utilizada para realizar perfurações.

Em MS, há potencial de exploração para gás de xisto, gás convencional, petróleo convencional e de xisto.

Segundo dados do instituto, por meio da tubulação instalada nessas perfurações, é injetada grande quantidade de água em conjunto com solventes químicos comprimidos. A pressão gerada por essa água provoca explosões que fragmentam a rocha.

Juliano Bueno diz que o fracking é nocivo ao agro, já que dezenas de países não importam soja ou alimento de regiões que fazem uso deste sistema. O fato de a atividade também queimar gases tóxicos com chamas sempre acesas altera a dinâmica ambiental do local, com maior exposição de insetos, mortes e contaminação de fauna e biodiversidade.

A técnica é proibida no Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Bahia está em tramitação para evitar o uso deste tipo de perfuração. Em MS, segundo Bueno, um projeto chegou a tramitar na Alems (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul), em 2018, com objetivo de suspender o fracking por 10 anos, mas não foi aprovada.

Em MS, diz o pesquisador, alguns municípios proibiram este tipo de perfuração. Em nota, o Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) informou que "não há no âmbito deste órgão ambiental, qualquer normativo que regulamente ou autorize o uso da técnica mencionada". O instituto acrescentou que houve debate na Alems, mas com parecer negativo.

O Instituto Arayara é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, feita em parceria entre cientistas, gestores urbanos, engenheiros, urbanistas e ambientalistas que defendem uso sustentável dos recursos naturais.

"Desidratação" de leilão para exploração de petróleo salva Pantanal de riscos
BASE de exploração no litoral nordestino (Foto: Marcelo Brum/Assessoria Petrobras)

Último leilão - O 5º ciclo da oferta permanente de concessão colocou em disputa blocos exploratórios em cinco bacias sedimentares brasileiras: Foz do Amazonas, Parecis, Potiguar, Santos e Pelotas. Foram ofertados 16 setores, sendo dois terrestres e 14 marítimos.

Lideranças indígenas do povo Tapayuna, de Mato Grosso, organizaram uma manifestação em frente ao Hotel Courtyard, no Rio de Janeiro, onde foi realizado o leilão. O jovem líder Yaiku Tapayuna disse que o leilão representava um ataque aos povos tradicionais.

A Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) emitiu nota de repúdio ao leilão, em especial, o do Bloco 59, na costa do Amapá, próximo dos territórios quilombolas.
Nove empresas vencedoras, duas nacionais e sete estrangeiras, desembolsaram mais de R$ 989 milhões na aquisição dos blocos. A previsão de investimento mínimo na fase de exploração é de R$ 1,45 bilhão. A Petrobras foi um dos destaques, ao adquirir dez blocos na Bacia Foz do Amazonas e três blocos na Bacia de Pelotas, com desembolso de R$ 139 milhões.

Juliano Bueno diz que Parecis é uma bacia de nova fronteira, pouquíssimo explorada, com cinco poços perfurados na região, o último em 2014.

Em Parecis, localizada no Centro-Oeste, dos 21 blocos, apenas um foi arrematado, este, pela empresa independente Dillianz comprou o bloco PRC-T-121, ofertando um bônus de assinatura de R$ 55 mil. Essa foi o único lance proposto para a bacia.

“Uma vitória parcial com a desidratação do leilão. Em relação aos blocos do Alto Xingu e da Costa Amazônica arrematados, permaneceremos no esforço jurídico e técnico em não permitir que estes contratos sejam assinados”, afirmou Bueno, em entrevista ao O Globo.

O diretor do Instituto Internacional Arayara conta que teve retorno de diversos departamentos jurídicos de petroleiras e investidores, de que teriam optado por não fazer ofertas nos blocos amazônicos, em Parecis e nos próximos a Fernando de Noronha, devido aos riscos operacionais, à pressão internacional, o fato da sobreposição dos blocos ofertados pela ANP a áreas de conservação e terras indígenas, conforme alertou o instituto. (Com informações do O Globo e Agência Brasil).

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