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Economia

Nova fronteira de eucalipto em MS tem capacidade de dobrar produção de celulose

Projeção indica expansão do plantio do Leste para o Alto Taquari; florestas ocupariam área do tamanho do CE

Por Viviane Monteiro, de Brasília | 26/11/2025 16:53
Nova fronteira de eucalipto em MS tem capacidade de dobrar produção de celulose
Rolos de papel no interior de fábrica de celulose (Foto: divulagação)

Mato Grosso do Sul caminha para abrir uma nova e robusta fronteira de florestas plantadas de eucalipto, ampliando de forma inédita o plantio do Vale da Celulose, no Leste do Estado. Hoje, a produção envolve 12 municípios numa extensão de terra da ordem de 7,8 milhões de hectares. A silvicultura começa a avançar para municípios do Alto Taquari, como Camapuã e Figueirão, situados mais ao Nordeste do Estado, onde o complexo industrial tem potencial para dobrar a área de produção para 13,5 milhões de hectares.

RESUMO

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Mato Grosso do Sul prepara-se para expandir significativamente sua fronteira de florestas plantadas de eucalipto, podendo aumentar a área de produção de 7,8 para 13,5 milhões de hectares. A expansão abrangerá municípios do Alto Taquari, como Camapuã e Figueirão, representando a maior expansão territorial já estimada para a cadeia florestal do estado.O estado, que já é responsável por 24% da produção nacional de celulose, monitora o uso do solo desde 2010 e mantém 38% de sua vegetação nativa preservada. A nova fronteira beneficiará principalmente a fábrica Arauco, em Inocência, e projetos de crédito de carbono, aproveitando áreas com solos degradados, inadequados para grãos, mas propícios para o cultivo florestal.

O cenário foi traçado pelo diretor-executivo da Reflore/MS, Benedito Mário Lázaro durante audiência pública no Senado para discutir o impacto da celulose nos municípios da região. A projeção representa a maior expansão territorial já estimada para a cadeia de base florestal sul-mato-grossense, que avança para além da área tradicional do Vale da Celulose.

Empresas do setor começam a atuar nesses novos municípios tanto para abastecer o polo industrial, especialmente a Arauco, em processo de implementação em Inocência — quanto para projetos de crédito de carbono, que ganham força no mercado global.

Superfície maior que a Nicarágua

“Há necessidade de aumentar esse raio. A capacidade de produção daqueles 11 ou 12 municípios gira em torno de 7,8 milhões de hectares. Agora, com a projeção para outros municípios, o potencial sobe para 13,5 milhões de hectares que poderão ser plantados com eucalipto”, disse Lázaro. A área total compreende de 14 a 16 municípios entre Leste e o Nordeste sul-mato-grossense. A título de comparação, as florestas ocupadas pela silvicultura _ quase a totalidade por eucalipto _ em Mato Grosso do Sul terão, conforme as projeções, cerca de 135 mil quilômetros quadrados, o equivalente a 1,6% do território nacional e uma superfície maior que países como a Nicarágua ou igual a Estados como o Ceará.

Segundo Lázaro, são regiões marcadas pela degradação do solo, o que abre espaço para um grande potencial de recuperação ambiental. Ou seja, são áreas pobres para grãos, mas viáveis para florestas. O zoneamento agroecológico feito pela Embrapa Solos, em conjunto com o governo estadual, classificou a área como de alta vocação florestal por conta dos solos arenosos e quartzosos, além de condições do solo e clima favoráveis ao plantio de árvores. Para culturas como soja e milho, porém, a viabilidade é baixa devido à irregularidade de chuvas. “Como plantar soja que em 120 dias precisa ser colhida? Um veranico derruba a safra inteira.”

Na avaliação do executivo, a região é mais adequada para culturas agrícolas de ciclo mais longo, como eucalipto, seringueira e citricultura, que se adaptam melhor ao solo. Para Lázaro, plantar grãos ali exigiria estruturas caras de logística e armazenamento para uma área reduzida, o que torna a operação pouco competitiva.

Apesar da expansão territorial, não há, por ora, negociações para novos projetos industriais na nova fronteira, nem previsão de deslocamento de investimentos do Vale da Celulose para essa região. As áreas plantadas servirão para reforçar o abastecimento das fábricas atuais, sobretudo a Arauco, em Inocência, dentro do raio de alcance.

“Uma fábrica dessa, de R$ 25 bilhões a R$ 28 bilhões, permanece de 60 a 100 anos no mesmo local. São investimentos vultuosos, impossíveis de deslocar.”

Mesmo com a nova fronteira, o avanço da produção de celulose depende da demanda global. “A cada 18 meses ocorre um crescimento vegetativo da população, aumentando o consumo de fraldas, papel e outros produtos. A celulose está presente em mais de 5 mil itens. Alguns são nichos, mas outros têm grande volume. Então há uma demanda permanente , desde que haja mercado. E precisamos ser competitivos, porque outros países também produzem, e não podemos perder espaço. Temos áreas degradadas para recuperar, e isso é fundamental.”

Nova fronteira de eucalipto em MS tem capacidade de dobrar produção de celulose
Diretor-executivo da Reflore/MS, Benedito Mário Lázaro durante audiência pública no Senado

Consumo em alta

O secretário-executivo de Desenvolvimento Econômico Sustentável da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), do governo estadual, Rogério Thomitão Beretta, afirma que o consumo de eucalipto para celulose deve mais do que dobrar nos próximos anos. O uso do eucalipto como fonte de biomassa — especialmente em indústrias de etanol de milho e secagem – também cresce de forma significativa.

Beretta apresentou o panorama do setor de eucalipto, que já representa 17% do PIB industrial do Estado. “Somos responsáveis por 24% da produção nacional de celulose”, disse ele em audiência pública no Senado Federal.

Mesmo como o avanço do setor, Mato Grosso do Sul – que possui três biomas (62% Cerrado, 27% Pantanal e uma pequena área de Mata Atlântica) – mantém 38% da sua vegetação nativa preservada.

No contexto de eventuais impactos ambientais, Beretta disse que o Estado monitora o uso e ocupação do solo de forma contínua desde 2010. “Identificamos mudanças importantes, como a redução de mais de 5 milhões de hectares de pastagem e o aumento das áreas de remanescentes nativos”, disse.

Dessa forma, a preocupação com a questão ambiental fica superada, uma vez que esses 5 milhões de hectares de pastagens “vêm sendo realocados para ampliar nossa produção de grãos, nossas florestas plantadas e a produção de cana. Isso comprova que temos um modelo de crescimento sustentável.”

Conforme Beretta, o Plano Estadual de Desenvolvimento Florestal, revisado em 2021/2022, estabelece ainda diretrizes baseadas no desenvolvimento sustentável, consolidação da cadeia de papel e celulose, diversificação da base florestal e fortalecimento da matriz econômica, com foco em competitividade. Além disso, o setor contribui fortemente para a meta estadual de carbono neutro até 2030.

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FÀbrica da Eldorado em Três Lagoas (Foto: Divulgação)

Vale da Celulose

Liderado pelo Vale da Celulose, formado por 12 municípios, Mato Grosso do Sul é o segundo maior produtor de eucalipto do Brasil, atrás apenas de Minas Gerais – por enquanto. “Esperamos alcançar essa liderança em breve.”

Segundo Beretta, o plantio de eucalipto já se aproxima de 2 milhões de hectares cultivados no Estado. “Temos 1.897.000 hectares de eucalipto, considerando também áreas de pinus e seringueira. Esse número vem das medições semestrais de uso e ocupação do solo; a última, em outubro, confirmou esse avanço.”

As árvores estão distribuídas entre Ribas do Rio Pardo (32%), Três Lagoas (21%), Água Clara (11%) e Brasilândia (10%), totalizando quase 1,7 milhão de hectares no Vale da Celulose.

A região concentra ainda as principais indústrias transformadoras. Além das fábricas de celulose, Água Clara hospeda ainda uma indústria de painéis e outras madeireiras com potencial de expansão.

O Estado também investe, paralelamente, no programa de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. “Somos o primeiro Estado na adoção dessa tecnologia, que combina agricultura, pecuária e floresta, diversificando a produção e fortalecendo especialmente a indústria de celulose”, disse Beretta.

Estima-se que o setor florestal tem capacidade de produzir 11 milhões de toneladas por ano, podendo chegar a 12 ou 13 milhões. “Hoje, 18 municípios têm operações florestais, somando mais de 20 mil empregos diretos, além da geração de 780 megawatts de energia renovável. Mato Grosso do Sul tem 94% de sua matriz energética proveniente de fontes renováveis, apenas 6% fóssil”, disse.

Já o diretor de Relações Institucionais da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), José Carlos da Fonseca, afirma que a indústria investe em pesquisa para mitigar eventuais impactos do eucalipto, especialmente no uso intensivo de água. Segundo ele, nos últimos 40 anos o setor se desenvolveu muito no Brasil, em meio às polêmicas sobre monoculturas que poderiam afetar o balanço hídrico ou a biodiversidade. Esse conhecimento gerado em manejo florestal tornou-se tema de estudos em universidades e centros de pesquisa.

“Trabalhamos com um conceito de manejo conhecido como mosaicos de paisagem, em que intercalamos florestas cultivadas – monoculturais – com áreas de vegetação nativa. A silvicultura funciona como uma atividade agrícola: plantamos eucalipto, em grande parte das regiões onde atuamos – e também pinus –, da mesma forma que se planta café, tomate ou laranja, mas com todo o rigor científico, desde o melhoramento genético até a logística. Sem isso, não alcançaríamos a capacidade produtiva atual, que envolve o plantio de até 1,8 milhão de árvores por dia.”

“Investimos em pesquisa e desenvolvimento para que essas espécies sejam adequadas a cada microclima e microrregião do Brasil. Hoje, graças ao melhoramento genético, isso é plenamente possível, e certificações internacionais atestam esse processo. Assim, conseguimos produzir mais consumindo menos recursos.”