Preços da carne e do café devem voltar a subir, apesar de queda em agosto
Economistas veem impacto passageiro do tarifaço dos EUA e projetam pressão nos preços a partir de setembro
A trégua no preço da carne bovina e do café ao consumidor em agosto deve durar pouco. Esses dois itens, tão presentes na mesa dos brasileiros e diretamente afetados pela sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos, registraram recuo temporário, mas especialistas apontam que a tendência é de retomada de alta já nos próximos meses.
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A queda nos preços da carne bovina e do café registrada em agosto deve ser temporária, segundo especialistas. Após a sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos, que reduziu as exportações brasileiras para aquele mercado, outros países como México e China aumentaram suas importações, pressionando novamente os preços. A tendência de alta é reforçada pela redução de matrizes no campo, demanda sazonal mais forte no fim do ano e, no caso do café, pela queda de 10% na safra nacional de arábica e novos contratos com países da Europa e Ásia. Economistas preveem que o efeito desinflacionário do tarifaço americano deve desaparecer já em setembro.
Segundo estudo da consultoria LCA 4intelligence, divulgado pelo jornal O Estado de S. Paulo, a tarifa americana reduziu a atratividade das exportações brasileiras para aquele mercado, abrindo espaço para maior oferta interna em julho. Esse excesso ajudou a derrubar preços no atacado, movimento que chegou ao varejo em agosto. O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), prévia da inflação, registrou queda de 0,94% nas carnes, 1,47% no café moído e 1,32% nas frutas.
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O alívio, porém, não se sustentou. Com os EUA fora do radar, outros mercados abriram espaço para absorver a carne brasileira. O México assumiu em agosto a vice-liderança das importações, atrás apenas da China. A reacomodação puxou novamente o preço da arroba do boi gordo, que voltou para R$ 310 na terceira semana de agosto, após ter atingido o menor nível do ano no mês anterior.
Economistas destacam ainda dois fatores: a redução de matrizes no campo, que aperta a oferta, e a demanda sazonal mais forte no fim do ano, impulsionada pelo pagamento do 13º salário. Juntos, esses elementos devem manter a pressão sobre a carne no atacado e no varejo.
Café: menor safra e novos compradores
No café, a trajetória é semelhante. Após cair abaixo de 300 centavos de dólar por libra-peso em julho, a cotação do arábica voltou a subir em agosto, superando 360 centavos em Nova York. O impulso veio da habilitação da China para importar de 183 empresas brasileiras, da queda de 10% na safra nacional de arábica e da ampliação de contratos com países da Europa e da Ásia.
Os economistas reforçam que o efeito desinflacionário do tarifaço é passageiro. “O impacto ficou restrito a agosto e deve desaparecer já em setembro”, diz Fábio Romão, da LCA 4intelligence. A projeção da consultoria é de alta de 0,21% no grupo alimentação no domicílio no próximo mês.
Ainda assim, a inflação caminha em ritmo de desaceleração. O Boletim Focus do Banco Central mostra projeção do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de 4,85% para este ano, com tendência de queda lenta até 2026. Para os especialistas, a carne é hoje um dos pontos de maior incerteza nesse cenário.
“É uma desaceleração lenta da inflação. A cautela está no comportamento da carne, que pode segurar parte do efeito positivo esperado”, avalia Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco.