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Educação e Tecnologia

Despertando amor e ódio, internet completa hoje 30 anos de revolução sem volta

Veja curiosidades, como o primeiro layout do Campo Grande News e ouça o som infernal da internet discada

Por Ângela Kempfer | 01/05/2025 10:49
Despertando amor e ódio, internet completa hoje 30 anos de revolução sem volta
Imagem gerada por Inteligência Artificial, mostrando como eram os computadores e a tela de conexão.

Neste feriado, além do Dia do Trabalhador, o Brasil marca uma data histórica pouco lembrada, mas que mudou completamente a vida de milhões de pessoas: há exatos 30 anos, em 1º de maio de 1995, o acesso comercial à internet foi oficialmente liberado no país. Era o início de uma revolução silenciosa, que, sem estardalhaço, passou a fazer parte da rotina, dos afetos, dos negócios e dos conflitos de uma sociedade inteira.

Na cronologia, no Brasil a exploração comercial da internet começou em 1994, através de um projeto piloto da Embratel com 250 usuários. Mas só foi aberta para o público em geral em 1995.

Programador desde a adolescência, Leandro Farias sofreu como todo mundo no início. "Peguei bem no começo quando instalava internet com disquete. Usava chat no escritório do meu pai. Até que um dia um colega meu me mostrou algumas coisas e comecei a pegar gosto por programação. Era absurdo conseguir qualquer coisa se comparado a hoje. Não tinha Google, por exemplo. Para conseguir alguma coisa, passava dias e dias procurando informações".

Nos primórdios, conectar-se era um ritual que exigia tempo, linha de telefone disponível e muita paciência. Tem gente que ainda hoje se irrita só de ouvir aquele barulho insuportável gerado durante a tentativa de conexão discada. Eram sons mecânicos inconfundíveis, de uma experiência limitada e cara. Quem não sofreu, pode experimentar agora o barulho insuportável das tentativas (muitas vezes sem sucesso) da conexão discada, por telefone:

A internet virou profissão para Leandro quando ele tinha apenas 15 anos, incentivado pelo pai que o indicou à empresa de um amigo. "Já no segundo dia de trabalho eu vi que todo mundo da empresa consultava o outro cara que trabalhava ali com internet pra tudo, ai eu pensei "quero ser assim um dia'. Mas toda hora caia internet era terrível. Até evoluir e a gente conquistar a internet 24 horas. Mas ainda hoje me irrita quando não tem conexão. Tipo, vai para Bonito e não consegue conexão, isso me tira do sério", comenta Leandro.

Mas a curiosidade sempre foi maior do que qualquer perrengue. Em pouco tempo, e-mails, chats, blogs e portais de notícias passaram a fazer parte do vocabulário do brasileiro e do sul-mato-grossense. Há 26 anos, surgia o primeiro grande portal de notícias, o Campo Grande News, que deu origem a sites por todo o Estado, que até hoje levam o "news" no nome.

Despertando amor e ódio, internet completa hoje 30 anos de revolução sem volta
Layout do Campo Grande News em 2003, simples como os demais sites de notíciais pelo Brasil. (Foto: Arquivo)

O amor pela internet cresceu com a velocidade das conexões. Surgiram fóruns, redes sociais, vídeos, plataformas de compras, bancos digitais e agora a nova revolução: a inteligência artificial, que como nos tempos discados, ainda engatinha diante do que pode fazer.

A rede virou escola em tempos de pandemia e segue forte no segmento; É palco, confessionário, loja e palanque em 92,5% dos domicílios brasileiros. Esta na casa de 72,5 milhões de famílias segundo o IBGE. Tudo passou a ser mediado por ela: desde o reencontro com amigos de infância no antigo Orkut até a criação de grandes empresas baseadas apenas em um aplicativo. O .br passou de cerca de 1.000 domínios em 1995 para mais de 5,6 milhões em 2025.

Pedro Vinícius Freitas de Oliveira nunca soube o que viver sem a internet. Hoje, aos 18 anos, o estudante diz que a "lembrança mais antiga da internet é de 2009, quando, ainda criança, acessei o YouTube para ver vídeos de desenhos e jogos. Hoje, passo cerca de oito horas por dia conectado, principalmente no TikTok e Instagram".

Para ele, a internet "atrapalha um pouco nos estudos, por conta das distrações, mas ajuda a não ficar alienado. Também me aproximou de pessoas que nunca vi pessoalmente, como um amigo que mora fora do Brasil e que conheci jogando na internet há três anos", conta.

Mas essa relação intensa nunca foi simples. Ao lado da facilidade e do encantamento, veio também a dependência. A internet abriu espaço para o ódio gratuito, as bolhas ideológicas, as fake news e os julgamentos sumários. A privacidade virou miragem.

"Já me arrependi de coisas que publiquei quando era mais nova, fotos e postagens que hoje não faria. A cabeça muda, a gente se expunha muito sem pensar. Hoje em dia, trabalho com o celular e, mesmo depois do expediente, continuo conectada. Não sei dizer exatamente quantas horas passo online, mas deve ser por volta de sete. Sou viciada, admito. Nunca pensei de verdade em me desconectar — até seria bom —, mas o problema é conseguir", admite a biomédica Eduarda Lawren Moraes, 22 anos.

Os algoritmos passaram a moldar gostos e comportamentos, criando um ambiente onde tudo é medido por cliques, curtidas e visualizações. E com o crescimento, vieram outros males, como o vício em jogos eletrônicos.

Despertando amor e ódio, internet completa hoje 30 anos de revolução sem volta
Orkut, desativado em setempo de 2014, foi uma das primeiras redes sociais aos moldes do que vemos hoje. (Foto: IA)

Aos 30 anos, a internet brasileira já não é novidade — é vício, ferramenta, esperança, ameaça. Ao mesmo tempo em que transformou para melhor o acesso à informação e à comunicação, também escancarou o lado sombrio das relações humanas e da exposição constante. Amar ou odiar a internet não é mais uma escolha: é conviver com ela, diariamente, com todas as suas contradições.

Funcionário de um hotel em Campo Grande, Vanderlei Ducatti, 57, é do tempo do fax e hoje se preocupa com os males da conexão. “O que mais odeio são as fake news. Também acho que, apesar de aproximar famílias distantes, a internet afastou as pessoas que estão perto. Minha filha tem 10 anos e só quer saber de joguinho no celular. As crianças não brincam mais na rua. No trabalho, a internet só ajuda, mas para os estudos dela vejo os dois lados: ela aprende muita coisa pelo Google, mas também fica viciada. E quando a internet cai, dá raiva — até a máquina de cartão para. Sem internet, parece que a gente volta para a Idade da Pedra.”

O Congresso Nacional brasileiro analisa atualmente uma série de projetos de lei que tratam da regulação da internet, com foco em responsabilidade das plataformas, proteção de dados e combate à desinformação. Um dos principais é o PL 2630/2020, conhecido como "PL das Fake News", que estabelece regras de transparência para redes sociais e serviços de mensagens privadas. Também está em tramitação o PL 2338/2023, que propõe diretrizes para o uso ético da inteligência artificial no Brasil. Já o PL 1199/2025 pretende responsabilizar plataformas pela monetização de conteúdos que atentem contra o Estado Democrático de Direito.

Outros projetos incluem o PL 785/2025, que trata da atuação de crianças e adolescentes como influenciadores digitais, exigindo autorização judicial e maior proteção; o PL 295/2025, que proíbe agentes políticos de monetizar perfis em redes sociais; e o PL 4097/2023, que propõe medidas para garantir a soberania digital brasileira. Além disso, o PL 2821/2022 visa coibir conteúdos de ódio e discriminação nas redes. Juntos, esses projetos mostram a tentativa do Legislativo de atualizar o marco legal diante dos impactos crescentes da tecnologia e do ambiente digital na sociedade.

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