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Esportes

Esquecido no passado, futebol da Capital nem existe para os mais jovens

Torcedores confessam preferência por times nacionais e europeus diante da "qualidade" do futebol apresentado em MS

Gabriel Neris e Liniker Ribeiro | 26/08/2018 09:27
Esquecido no passado, futebol da Capital nem existe para os mais jovens
Time de futebol do Operário de 1969 atuando no antigo estádio Belmar Fidalgo (Foto: Divulgação)
Time de futebol do Operário de 1969 atuando no antigo estádio Belmar Fidalgo (Foto: Divulgação)

Os bons momentos do futebol campo-grandense são como o placar do Morenão. Praticamente não existem mais. A popularidade dos times locais ficou no passado e a missão de quem está à frente hoje é voltar a fazer o estádio pulsar novamente.

Nos 119 anos da cidade, o Campo Grande News foi às ruas e, apesar de haver times que estão a caminho do centenário, entre os jovens, é como se não houvessem Os clubes brasileiros de massa são os mais citados, além dos gigantes europeus. Uma realidade distante.

O militar José dos Santos, de 20 anos, não tem dúvidas. Diz que acompanha o futebol europeu, principalmente por causa de Cristiano Ronaldo. “Desde o início da carreira dele, na época de Manchester United. Quanto ao futebol brasileiro acompanho mais a etapa final”.

O rapaz diz que esteve na final do Campeonato Estadual deste ano no Morenão entre Operário e Corumbaense, porém acredita que ainda “falta mídia” para o futebol local evoluir.

Vestindo a camiseta do mexicano Necaxa, João Pedro da Silva, de 17 anos, também tem sua preferência: “o futebol nacional”. “Quem quer jogar profissionalmente tem que ir para fora”, cita o estudante flamenguista.

Gabriel Oliveira diz que acompanha o Operário e o Novo, mas ainda opta pelo futebol nacional (Foto: Paulo Francis)
Gabriel Oliveira diz que acompanha o Operário e o Novo, mas ainda opta pelo futebol nacional (Foto: Paulo Francis)

Para Gabriel Oliveira da Silva, de 19 anos, falta incentivo para que os times cresçam e consequentemente levem mais pessoas ao estádio. Cita que acompanha notícias do Operário e Novo, mas ainda opta pelo futebol nacional. “Operário, por exemplo, tem tradição, história. É o que me faz acompanhar um pouco mais”, diz.

O desinteresse pelo futebol local se reflete na arquibancada. Os times de Campo Grande apresentaram juntos média de 678,8 pagantes por jogo na edição 2018 do Campeonato Estadual de acordo com os borderôs publicados pela Federação Estadual de Futebol.

Somente duas partidas na Capital passaram dos mil pagantes, Novo x Corumbaense pela semifinal (1.065) e a decisão entre Operário x Corumbaense (9.453). Terminou com título do Galo campo-grandense e o fim de um jejum de 20 décadas sem conquistas.

Comper foi construído onde funcionava o centro de treinamento do Comercial (Foto: Paulo Francis)
Comper foi construído onde funcionava o centro de treinamento do Comercial (Foto: Paulo Francis)
Antiga sede do Galo na Bandeirantes se tornou garagem de veículos (Foto: Paulo Francis)
Antiga sede do Galo na Bandeirantes se tornou garagem de veículos (Foto: Paulo Francis)

O pedreiro Vitorino Arantes de Souza, de 53 anos, é categórico. “A qualidade caiu muito. Também faltam patrocinadores. Operário e Comercial chegaram a disputar grandes campeonatos. E hoje? Quando algum time consegue disputar alguma coisa acaba sendo eliminado na primeira etapa”. Ele conta que frequentava o Morenão antigamente e já assistiu partidas com até 45 mil partidas. Espera que isso volte a acontecer.

Já o empresário Manoel Paulino, de 56 anos, conta que acompanha o Estadual, porém “faltam investimento e credibilidade. Inclusive por parte da federação”, critica. “Sou do Estado e quero ver ele bem. Assisti aos jogos pela TV, não fui ao estádio porque o cenário não estava convidativo”, reclama. “Até os jogadores reclamam. Você vê gente de fora, joga e depois não recebe. Isso desanima até a gente. Os próprios times não cumprem com seus compromissos”.

Apesar disso, ele tem elogios de sobra para um único time: o Corumbaense. “Acompanhei e torci muito por eles no estadual”. Elogiou a evolução e representatividade. Sobre o futuro do futebol no Estado espera que mude tudo. “Para mim, Mato Grosso do Sul tem o pior futebol do país, até o Tocantins, que começou há menos tempo, está melhor”.

Reestruturação – Com o passar dos anos os clubes de Campo Grande mergulharam em graves crises. A falta de calendário fez com que os investimentos diminuíssem e consequentemente as dívidas foram aumentando. Resultado, Comercial e Operário viram suas sedes se tornarem prédios comerciais.

Ex-goleiro Plínio conta que deixou Catanduva para atuar em Campo Grande (Foto: Guilherme Rosa)
Ex-goleiro Plínio conta que deixou Catanduva para atuar em Campo Grande (Foto: Guilherme Rosa)

O tradicional Galo da avenida Bandeirantes perdeu sua sede, hoje garagem de automóveis de veículos seminovos. Quem passa pela rua Brilhante e vê o prédio do Comper não imagina que ali era a então então Vila Olímpica, centro de treinamento do Comercial. Também na mesma região havia o antigo estádio Elias Gadia, atualmente praça esportiva destinada a população. Este último utilizado para treinamento do Esporte Clube Taveirópolis, simpático clube da cidade que também se definhou no início dos anos 2000.

Entre aqueles que já vestiram a camisa dos três clubes está o ex-goleiro Plínio, de 78 anos. Conheceu o futebol de Campo Grande em 1984 justamente pelo “Taveira”. Vestiu as camisas de Comercial, Operário, Corumbaense e retornou para o time de bairro para encerrar a carreira. “Era a zebra. Um time de ex-profissionais que moravam em Campo Grande”, conta

Logo na sua estreia passou por um momento curioso. O goleiro morava na Coophavila e jogaria no Morenão contra o Comercial. De ônibus, o então jogador avistou do Trevo Imbirussu os refletores acesos do estádio Morenão e decidiu descer acreditando estar perto do palco do jogo. Enganou-se e já chegou aquecido para a partida.

Encerrou a carreira e decidiu permanecer na Capital. “A família, os filhos cresceram. A cidade é boa, tem custo de vida mais fácil que São Paulo. É capital com cara de interior. Me sinto campo-grandense”, diz o paulista de Catanduva. Hoje, Plínio trabalha como preparador de goleiros da Escola Pública de futebol.

Plínio guarda recordação de atuação com a camisa do Taveirópolis (Foto: Arquivo pessoal)
Plínio guarda recordação de atuação com a camisa do Taveirópolis (Foto: Arquivo pessoal)
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