Adrielle salva plantas que todo mundo já tinha desistido de cuidar
Tudo começou na pandemia, quando ela percebeu que poderia ajudar outras pessoas

Ela chega sem jaleco, mas com olhar clínico. Observa a folha, vira o vaso, afasta o substrato com cuidado. Não pergunta o nome da planta, pergunta onde ela fica, quanta luz recebe, como anda a rotina da casa. Adrielle Oliveira trabalha com recuperação de plantas e, na prática, faz algo muito parecido com medicina: investiga sintomas, identifica causas, prescreve mudanças de hábito e, quando possível, devolve a saúde.
Virou moda ter planta. Urban jungle, selva urbana, estética verde no feed. Mas pouca gente fala da parte menos instagramável: planta dá trabalho. Exige atenção diária, leitura de sinais, paciência. “Não basta sol e água”, como muita gente ainda acredita. Às vezes, dá mais trabalho que cachorro filhote e morre com mais silêncio.
A relação de Adrielle com as plantas começou cedo, mas à distância. “Desde criança, eu sempre amei flores e árvores, sempre observei muito o formato das folhas, as variações de cores, o formato dos galhos… porém, era só isso mesmo, observação.” Na família, ninguém cultivava. Natureza era algo do lado de fora.
Tudo mudou na pandemia. Recém-casada, em home office, com o curso de Ciências Biológicas trancado, ela se viu passando mais tempo em casa e nas floriculturas. Primeiro vieram os cactos e suculentas. Depois, as folhagens. Um ano depois, como ela mesma define: “minha casa virou uma floresta”.
A virada emocional e profissional veio com uma planta específica, quase um trauma botânico: a begonia maculata. “Ela foi um marco!” Influenciada por perfis gringos e pelo movimento de urban jungle, Adrielle comprou a planta quando ela chegou ao Brasil por um preço acessível. O tesouro morreu rápido. Comprou outra. Morreu de novo. Foi aí que algo mudou.
“Foi durante essa curiosidade de entender o que estava acontecendo com a planta que uma chave virou na minha cabeça. A partir daquele momento eu precisava saber tudo sobre a planta, virou um hiperfoco.”
Ela estudou, testou, errou, acertou. As plantas começaram a responder. As pessoas ao redor começaram a notar. O que para ela era apenas manter plantas saudáveis, para os outros parecia mágica.
“Até que um dia, essas mesmas pessoas começaram a sugerir que eu trabalhasse com isso.” Ela não percebeu sozinha que estava recuperando plantas, precisaram contar. “Eu não achava que era um grande feito meu recuperar plantas até que meus amigos me dissessem isso e me contassem as suas dificuldades no cultivo.”
O trabalho se estruturou quando ela encontrou referências e buscou mentoria. “Eu não sabia por onde começar, como captar clientes, como organizar e precificar o trabalho.” A partir dali, a recuperação de plantas deixou de ser um favor e virou ofício.


Recuperar plantas, ela explica, é lidar com o tempo e com a ansiedade humana. “Quando se recupera uma planta, existe um intervalo incerto entre a ação e o resultado.” Algumas reagem rápido. Outras levam meses. Às vezes, não reagem. “Outro desafio é quando a planta realmente não tem mais recuperação. É difícil comunicar isso e, ao mesmo tempo, acolher a frustração do cliente.”
Existem plantas mais resistentes, que respondem melhor aos cuidados. Outras são quase pacientes crônicos. “Alocasias, calatheas, begônias e qualquer planta que seja variegata, essas são realmente complexas e exigem muito mais atenção.”
A convivência diária com as plantas reorganizou a vida dela inteira. “As plantas me obrigaram a mudar esse comportamento.” Planejamento, inspeção, rotina, disciplina. “Com certeza posso afirmar que cultivar plantas mudou completamente a forma como eu vivo a minha vida.”
A casa acompanha esse processo. Planta na sala, no banheiro, na cozinha, na varanda, no quintal. “Onde tem boa iluminação, tem planta!” A família brinca que ela vai reflorestar a Mata Atlântica. Quem entra sente outra coisa: aconchego, vida, bem-estar. E um efeito colateral importante. “Elas também transformaram minha saúde mental. Me tornei mais observadora, mais atenta aos detalhes e, principalmente, muito mais presente.”
Oficialmente, Adrielle lançou o trabalho há seis meses. Na prática, já são cinco anos de experimentação. Quando as pessoas chegam, quase sempre começam do mesmo jeito: “o que é a manutenção?”, “como funciona?”. Depois vêm as perguntas clássicas, onde colocar, se é tóxica, qual planta “não vai morrer na minha mão”.
A maior causa de adoecimento das plantas, segundo ela, não é falta de amor. É falta de informação. “Existe uma ideia equivocada de que as plantas vivem só de sol e água.” Luz errada, rega fora do ritmo, leitura equivocada dos sintomas. E a internet, esse prontuário coletivo caótico. “É mais comum do que se imagina as pessoas ‘adubarem’ suas plantas jogando restos de comida diretamente na terra ou até mesmo limpando as folhas com água de café.”
Nas redes sociais, o que mais conecta é o que comprova: antes e depois, bastidores, casos reais. Ver a planta quase desistindo, e depois voltando. Talvez porque, no fundo, cuidar de plantas exige tempo, observação e responsabilidade.
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