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Arquitetura

Após 3 anos sob regime especial, começa estudo para tombar Hotel Americano

Ângela Kempfer | 05/08/2013 17:06
Prédio só teve térreo transformado ao longo de 74 anos.
Prédio só teve térreo transformado ao longo de 74 anos.
Corredor hoje é mostra do abandono.
Corredor hoje é mostra do abandono.

Só quem tem o tempo de olhar para cima percebe a arquitetura estilo art déco na esquina da 14 de Julho com a rua Cândido Mariano, no Centro de Campo Grande. Desde 2010, o prédio do Hotel Americano está sob regime especial de proteção histórica, não pode sofrer alterações. Assim, vem definhando com o tempo e a falta de atenção.

Agora, a prefeitura abre processo para tombamento como patrimônio histórico e cultural do município, nomeando os primeiros peritos que vão verificar as condições estruturais e a importância do prédio de 1939.

Ao saber da possibilidade, a primeira imagem que salta da memória do vendedor de coco Valdir da Silveira é da calçada ainda de paralelepípedos em frente ao Hotel. “Fecho o olho e vejo. Era uma época que interditavam a 14 para os carros e o povo vinha passear no fim de semana”, lembra o senhor que tem a idade do prédio, 74 anos.

Para o vizinho, Armando Ali, dono de uma loja de produtos infantis ao lado do antigo Americano, a lembrança é das “janelas abertas”. “Ficava tudo aberto. Depois foi suspendendo o atendimento, parando tudo e fechou”, comenta o empresário.

Apesar do interior ser um mistério, porque nunca mais os proprietários (que hoje vivem em Santa Catarina) deixaram a curiosidade entrar no prédio, a fachada preserva os símbolos da arquitetura déco dos anos 30, com as linhas verticais, o revestimento em massa de pó de pedra, misturado ao pó de mica, para garantir a cor vermelha, cintilante.

Valdir da Silveira tem a idade do prédio, 74 anos.
Valdir da Silveira tem a idade do prédio, 74 anos.

Há também histórias, revela o jornalista Celso Bejarano, que morou no Hotel por dois anos. Uma das “lendas” é de que um dia Che Guevara se hospedou no Hotel Americano, antes de seguir para a Bolívia, onde acabou morto.

Celso lembra da escada estreita, iniciada na pequena porta de ferro que dá acesso à rua. “Aquela escadaria tinha até um romantismo. Depois, a gente virava à esquerda e entrava em outro período da história”.

Os quartos, com “cheiro de velho”, conta o jornalista, tinha de mais moderno uma TV de botões, do tempo em que controle remoto ainda não era usado em grande escala. “Era tudo robusto, antigo. A cozinha tinha os armários, mesas e cadeiras antigas preservadas”, recorda.

O imóvel, desenhado pelo arquiteto Frederico Urlass, ficou durante anos disponível para aluguel. Começou a ser reformado para abrigar uma clinica odontológica, mas o regime de proteção impediu que a obra continuasse e o prédio permanece fechado desde então.

Para quem já viu vários imóveis perdidos ali pelo Centro, o reconhecimento como patrimônio é imprescindível, mas não só isso. “Tem de tombar, mas também transformar em um espaço vivo, que traga gente para visitar e tirar fotografia. Precisamos de pontos que tragam as pessoas para o Centro”, reforça a vendedora Luci Vidal, que há 23 anos trabalha em uma loja de roupas femininas na 14 de Julho.

Luci Vidal é "vizinha" do Hotel Americano há 23 anos.
Luci Vidal é "vizinha" do Hotel Americano há 23 anos.
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