Betinha cantou sem medo em tempos difíceis e virou documentário
Assista abaixo o documentário que mostra a história da dupla e o bom humor de Betinha

Betinha sempre foi mais do que a voz que acompanhava a irmã nos palcos. Ao lado de Beth, ela fez parte da primeira dupla musical feminina de Mato Grosso do Sul, as lendárias Princesinhas da Fronteira, abrindo caminhos em um cenário em que mulheres ainda eram desacreditadas como artistas. A história da dupla, que ultrapassou 67 anos de carreira, virou documentário e se tornou registro vivo de uma época em que cantar era, acima de tudo, resistência.
Nascidas em Rio Brilhante, Beth e Betinha começaram a cantar ainda adolescentes, em meados dos anos 1950, rodando o país e enfrentando os preconceitos de um meio musical dominado por homens. Em uma das entrevistas concedidas ao Campo Grande News, em 2016, Betinha recordou como o público reagia à presença de duas jovens artistas: “Mulher artista era igualzinho mulher de zona na boca do povo antigamente. Hoje em dia não. Na época […] plateia nem nos ouvia direito, só diziam ‘que mulheres lindas’”.
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O documentário Beth e Betinha, dirigido pela cineasta Marinete Pinheiro, lançado em 2019, resgata essas memórias com sensibilidade e sem drama ostentatório. Com cerca de 30 minutos, a produção destaca as dificuldades do início da carreira, os causos engraçados, histórias de composições e as apresentações que marcaram a trajetória das irmãs. A cineasta propôs um olhar que não busca comover pela tragédia, mas inspirar pela luta e pelo amor à música que jamais as abandonou.
A cineasta soube da morte de Betinha enquanto estava em viagem e falou ao Campo Grande News nesta manhã após receber a notícia. Para ela, a convivência com as irmãs durante as filmagens foi mais do que um trabalho audiovisual.
“Beth e Betinha foram a primeira dupla sertaneja feminina de Mato Grosso do Sul, superando o machismo com talento e sensibilidade. Para mim, o filme não foi apenas uma obra cinematográfica, mas o encontro com duas fortalezas”, afirmou.
Marinete destaca que a força de Betinha ia além da música. “Digo isso não só pela força na voz, mas também na vida. Ainda adolescente, ela saía com a irmã Beth e o pai para tocar sanfona. Era um instrumento pesado, difícil, e ela o carregou até os 80 anos, sem reclamar do peso ou da idade”, relembra. “A música, a história e a arte de Mato Grosso do Sul agradecem tudo o que ela fez.”
Segundo a cineasta, Betinha tinha uma presença marcante fora do palco. “Ela era a que falava mais, brincava muito. Me chamava para churrascos em sua casa. Lembro de um dia em que fomos com Eduardo Martinelli e ele, com violão, cantou com Betinha tudo o que a voz permitiu”, contou. “Sentirei saudades. Sigo em oração para que ela descanse em paz.”

Betinha, que sempre se destacou pelo bom humor e pela determinação, aparece no documentário falando sobre a alegria de cantar mesmo diante de tantos desafios: “[…] o amor que a gente recebeu do público e o amor que a gente tem em cantar supera qualquer desafio”. Essa frase, proferida em frente às câmeras, resume bem a energia com que ela viveu sua carreira, apesar da escassez de shows nos últimos anos e do reconhecimento tardio de grande parte da crítica.
Em entrevistas ao longo dos anos, Betinha também demonstrou consciência histórica sobre o papel que a dupla desempenhou no cenário musical sul-mato-grossense. Relembrando a estrada, as rádios e os circos que foram palco de sua vida, ela destacava o esforço necessário para simplesmente ser ouvida: “[…] tínhamos que saber afinar um violão, ter a voz e acompanhar enquanto gravava”, contrapondo as tecnologias modernas à prática artesanal de quem aprendeu música na lida diária.
Marinete também autorizou a utilização do documentário na reportagem, como parte fundamental da preservação da memória de Betinha e de sua contribuição para a música sul-mato-grossense.
Assista o documentário de Beth e Betinha.
Velório e cremação - Quem quiser se despedir da cantora, o velório de Betinha ocorrerá nesta quinta-feira (18), a partir das 8h, na Capela Jardim das Palmeiras, localizada na Avenida Tamandaré, 6934, no Bairro Jardim Seminário. A cerimônia de cremação será realizada às 16h.
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