Com café e animais, literatura de conforto mostra dor sem drama
Gênero ganhou popularidade nos países asiáticos e histórias acontecem em bibliotecas, livrarias e cafeterias
Você já ouviu falar em literatura de conforto? O termo ganhou as redes sociais e tem ocupado cada vez mais espaço nas prateleiras das livrarias. Com histórias que acontecem em ambientes aconchegantes como bibliotecas e cafeterias, o gênero que ganhou popularidade nos países asiáticos, oferece ao leitor uma sensação de bem-estar, acolhimento e tranquilidade. Eles ainda falam das dores da vida, mas sem o drama dos romances norte-americanos.
O Lado B trouxe a pesquisadora de literatura coreana Jaqueline Mendes Santana para explicar melhor o tema. Nas histórias, os personagens passam por lutas internas, transformações e processos de autodescoberta. As narrativas usam muito animais como cães e gatos, junto a um toques de "magia" para transmitirem mensagens de alívio e consolo.
Os livros também falam de problemas, dores e sentimentos. A literatura de conforto, também conhecida como "comfy books" ou "healing fiction", também ganha o nome de de 'literatura de cura' para alguns, como no caso da pesquisadora.
“Isso é quase um novo nicho de literatura, mas fala das mazelas do cotidiano e angústias a partir de um viés literário, com personagens que permitem um reconhecimento dos leitores. Literatura de cura é uma das nomenclaturas associadas a textos, especialmente de autores asiáticos, que têm como objetivo ser uma leitura leve, que fala sobre saúde mental e sobre desacelerar em meio ao caos do dia a dia em que vivemos”, explica.
Ela conta que, no Brasil, os títulos coreanos têm sido traduzidos desde 2023, como resultado de feiras internacionais que promovem a tradução de livros para alcançarem o título de "best-sellers", como 'A Inconveniente Loja de Conveniência', de Kim Hoyeon, 'A Grande Loja de Sonhos', de Miye Lee, ou 'A Incrível Lavanderia dos Corações', de Yun Jungeun".
“Esses títulos ajudam a entender um pouco do que falam esses livros a partir da sua ambientação, espaços que são tranquilos, como a loja de sonhos, a loja de conveniência ou biblioteca/livrarias, onde os personagens encontram a possibilidade de troca ou reflexão.”
Segundo a pesquisadora, a literatura de cura não nasce nos países asiáticos, pois há títulos publicados em países onde o inglês é a língua principal ou predominante desde 1990. “Os títulos japoneses ganham destaque, e a partir das traduções coreanas destes, também temos publicações na Coreia do Sul, e são esses livros (japoneses e coreanos) que se popularizaram no Brasil agora.”
Jaqueline explica que a nomenclatura de literatura de cura ou conforto pode ser diferente nos países e que, no Brasil, o termo mais usado é o primeiro.
“Alguns pesquisadores falam sobre a categorização como 'autoajuda ficcionalizada', porque as temáticas abordam aspectos que trazem conforto, especialmente num período pós-pandemia.
Alguns livros não são classificados como literatura de cura, mas se encaixam bem na proposta, como o livro O Cão que Guarda as Estrelas. Embora ele não tenha sido publicado originalmente com o rótulo formal de 'literatura de conforto', muitos leitores encontram na graphic novel exatamente os elementos que caracterizam esse gênero.
A história, narrada pelo próprio cão, aborda temas como lealdade, perda e amor incondicional, convidando o leitor a refletir sobre a finitude e a saudade de forma suave e sensível. Esses aspectos podem trazer alívio e ajudar quem lê a lidar com sentimentos difíceis.
Já um dos títulos mais famosos no gênero literatura de conforto/cura e que ganhou o coração dos brasileiros é A Biblioteca da Meia-Noite, do escritor Matt Haig. O livro acompanha a história de Nora Seed e sua jornada de descoberta e cura em uma biblioteca mística. Ele ajudou a popularizar o gênero e alcançou grande sucesso entre os leitores.”
Outros títulos que estão na lista dos queridinhos dos leitores são: Bem-vindos à Livraria Hyunam-Dong, A Biblioteca dos Sonhos Secretos, Chocolate Quente às Quintas-feiras , O Pequeno Caderno das Coisas Não Ditas, Vou te Receitar um Gato; O Gato que Amava Livros, A Lanterna das Memórias Perdidas, entre outros.
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