Do menino acorrentado aos Menudos, Roberto Higa lança a história de MS em fotos
Nove capítulos, 192 páginas e quase 200 fotos. Imagens de quem escolheu viver por trás das lentes. Da virada das páginas, o barulho não será da folha de papel e sim do "click click".
O "Olhar" do fotógrafo Roberto Higa foi catalogado em páginas de um livro que será lançado agora, dia 19. Vale dizer que foram 15 anos tentando até conseguir fechar contrato. O livro será publicado pela Editora Alvorada.
Desde a mocidade à fase adulta, a obra reúne os registros de quem sempre esteve em cena, acompanhou da visita do Papa ao show dos Menudos em Campo Grande, a divisão de um Mato Grosso em dois, as paisagens que só um Pantanal pode ser dono, as enchentes, a seca, o acampamento de Sem Terra. As alfinetadas políticas, os palanques, quem subia, quem descia.
O acidente aéreo com um Bufalo da FAB que matou o alto escalão militar da época da Ditadura, na década de 70. O olhar pesado das lutas indígenas, o sorriso aberto de Manoel de Barros sem camisa. Os casos policiais de grande repercussão.
Aos 63 anos, Roberto Higa volta e meia brinca que hoje vive para contar histórias. "A gente chega nessa idade e não presta para mais nada, só para contar histórias", diz. De coadjuvante a protagonista, as luzes agora se acendem para ele, as palmas são para o "Olhar" dele.
Fonte inesgotável para a imprensa, garantia de volta ao passado para os amigos. Agora, do acervo de mais de 250 mil imagens, vai ser possível ter um pouquinho do Higa na estante de casa. Todas as imagens tem a descrição do que era, quem estava e o que representava tal cena. As legendas são por conta da historiadora Áurea Coeli.
Os capítulos são divididos entre a biografia do fotógrafo, natureza, arquitetura da cidade, importantes momentos políticos, agricultura, pecuária e por aí vai. Do pouco que já vi das fotos preto e branco até os megapixel das digitais, o livro é dele com a nossa história.
A foto de capa já traduz o que as páginas guardam. A sensibilidade de quem optou por registrar o lado humano da vida. Nos anos 70, a Polícia recebeu a denúncia que num barraco de tábua um menino de 11 anos tinha os pés acorrentados. "A mãe dele trabalhava como doméstica e o manteve assim por anos. Por causa disso, vivendo praticamente sozinho ali, ele não aprendeu a falar, só chorava. Me marcou bastante essa foto", frisa Higa.
Roberto Higa teve AVC (Acidente Vascular Cerebral), lida com o esquecimento provocado pelo Alzheimer. Se esquece do hoje, mas se recorda como se o passado de 45 anos de carreira tivesse começado ontem.
"Esse livro simboliza o encerramento de um ciclo profissional, enquanto outros ciclos se iniciam. Sempre tive o sonho de publicar um livro com meu material fotográfico e por isso fui separando as fotos que mais gostava. Foi um processo demorado o de escolher as melhores fotos, mas o resultado saiu muito bom", diz.
O lançamento será na terça, dia 19 de agosto, a partir das 19h, na Estação Ferroviária. Junto do livro, estarão expostas fotos não publicadas em homenagem ao Dia Mundial de Fotografia e também ao mês em que Campo Grande completa 115 anos. A obra será vendida na hora e posteriormente na Editora Alvorada, por R$ 180. Segundo a editora, serão aceitos cartões para o pagamento.
Entre tantas reportagens feitas pelo Campo Grande News, aqui vão algumas fotos que contam a história da cidade, do Estado, de Higa, de todos nós e que provavelmente estarão no livro.
