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Artes

Judith só queria mostrar que pode ser o que quiser, mas virou alvo de boicote

Depois de protesto na porta de teatro, diretores reclamam da ignorância que ganhou as ruas de Campo Grande

Lucas Arruda | 16/10/2017 08:21
Imagem do espetáculo Judith e Sua Sombra de Menino.
Imagem do espetáculo Judith e Sua Sombra de Menino.

No palco, Judith descobre que adulto adora complicar as coisas. Percebe que não precisa ser menino ou menina, gostar de rosa ou de azul. Felicidade, no caso da garotinha, é a possibilidade de brincar, independente de padrões ou questionamentos que gente grande inventa. Para mostrar às crianças que a vida só vale a pena se for leve, um grupo de 13 pessoas veio de Dourados com a peça Judith e Sua Sombra de Menino. Na história, de tanto falarem que a menina parecia menino, o garoto apareceu, mas em forma de sombra. O espetáculo é cheio de cor e fantasia, com cara de infância e direito a circo, pernas de pau, teatro de bonecos e música ao vivo. 

Mas quem chegava esperando uma noite lúdica para a criançada, encontrou protesto de gente que nunca assistiu a peça. Com base apenas na sinopse, o movimento Direita MS levou faixas para o Teatro do Prosa na noite de sábado e passou a abordar as pessoas com perguntas do tipo: "Você não é pai de família? Sabe o teor dessa peça? Vai ter coragem de assistir a esse espetáculo que denigre a família?"

Segundo a produtora da peça, Junia Pereira, foi é a primeira vez que tentam boicotar uma apresentação da peça. “Nós fizemos uma temporada de 10 apresentações aqui em Dourados e todas ocorreram normalmente, sem nenhum tipo de manifestação contra”, enfatiza.

Junia reitera que até o momento não receberam nenhuma notificação do Ministério Público Estadual, questionando algum ponto do espetáculo. "Nossa peça está dentro da lei, existe o manual de classificação indicativa que diz que o espetáculo é livre para todos os públicos. Ela foi concebida para crianças e ganhamos prêmio da Funarte com ela", completa.

Para ela, toda a situação foi lamentável e fere a liberdade de ir e vir do outro, já que o grupo abordava pessoas que queriam assistir a peça. “Nosso diretor tentou diálogo com eles, os chamou para assistir, mas não quiseram por ter lido a sinopse e não ter gostado, não viram o espetáculo. Até aí tudo bem, ninguém é obrigado a ver, mas eles estavam constrangendo o nosso público com essa abordagem. Como se pode falar mal de algo que não assistiu?”, questiona.

O diretor do Teatro Imaginário Maracangalha, que também participa da mostra com a Tragicomédia de Dom Cristóvao e Sinhá Rosinha, no CRAS Rosa Adri do Lageado, acredita que as crianças devem ter acesso a todo tipo de informação para que a sociedade seja mais justa e menos violenta.

“As crianças tem que ter acesso a tudo, não temos que mantê-las na ignorância. Este é um comportamento medieval, para se ter o conhecimento amplo ela deve ter a informação dentro da família, escola e através da arte. Quanto mais soubermos melhor a sociedade será. Essa sociedade violenta que estamos vivendo é reflexo da ignorância”, enfatiza.

Porém ele enxerga uma luz no fim do túnel. “Este tipo de atitude que tomaram revela o quão desqualificado este tipo de movimento é, pois muitos dos grupos que estão se apresentando na mostra já ganhou prêmios nacionais, tem um grande reconhecimento. Ainda bem que eles angariam poucas pessoas, não tem grande repercussão porque o movimento é fraco e sem embasamento”, declara. “Eles ficam falando de pedofilia na arte e se esquecem que a maioria esmagadora desses casos acontecem em casa e nas igrejas. Eles devem repensar o modo de agir”, conclui.

Ilustração do cartaz da peça, feita por Eder Berzuini
Ilustração do cartaz da peça, feita por Eder Berzuini
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