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Artes

No Coophavila II, balé transforma a vida e leva crianças para a Áustria

Projeto começou há 6 anos e agora alunos vão participar de evento mundial de dança

Thailla Torres | 15/03/2018 07:43
Aulas acontecem diariamente na Associação de Moradores do Bairro.
Aulas acontecem diariamente na Associação de Moradores do Bairro.

Alguns dos alunos vivem uma rotina difícil, com condições de vida extremas em relação a moradia, educação e relação familiar. Mas há 6 anos, um projeto de dança na Associação de Moradores do Coophavila II transformou a vida de crianças e adolescentes, que viram na expressão cultural um jeito de se manifestar e crescer. O projeto virou companhia de dança, a Amoc, que agora vai levar mais de 100 alunos para o Gymnaestrada 2019, considerado o maior evento de ginástica e dança amadora do mundo, que será realizado na Áustria.

A ideia começou com apenas 5 bailarinos e a vontade de ver alunos deixarem os problemas de lado pelo balé clássico. Marcos André de Oliveira, de 35 anos, é o bailarino e coreógrafo  encarrecado de fazer sonhos do Coophavila II ganharem o mundo, que não mede esforços para ver o projeto dar certo por tanto tempo.

"O balé começou com a antiga gestão, de Maria Bernadete, como presidente do bairro. Coincidentemente eu fazia aulas de inglês na associação e sou bailarino. Decidi dar aulas na oficina, começamos com cinco alunos e a cada ano vem aumentando. Hoje temos centenas de alunos de 4 a 18 anos", diz.

Lívia chegou na companhia pequena.
Lívia chegou na companhia pequena.

A ideia da Associação é espalhar a dança pela periferia, mostrar o poder da expressão e da disciplina, inspirar jovens a seguir carreira na dança ou se identificar com uma nova profissão. "Eu vim da periferia, sei o quanto a dança é inacessível para a gente. É difícil para muitos pais, pagar uma boa escola, a roupa, o espetáculo e acompanhar os filhos na rotina. Aqui é a chance que eles têm de conhecer todo o universo do balé".

As aulas não são gratuitas, mas a mensalidade de apenas R$ 30,00 tornou acessível a modalidade no bairro. "É um valor que ajuda a manter as aulas, programar espetáculos pela cidade e aos poucos, trazer melhorias ao nosso espaço".

Antigamente as aulas eram feitas no salão, sem nenhum preparo. "Não tínhamos espelho, barras e iluminação. Aos poucos, a Associação foi conseguindo transformar a nossa sala. Hoje ainda falta um piso adequado, mas nada que impeça a turma de dançar".

Mesmo com grana curta, há bons motivos para que a companhia celebre, princialmente, para Marcos que veio da mesma realidade. "Eu sou da periferia e os amigos que eu tinha quando criança, já foram vítimas da violência, miséria extrema ou estão presos. A dança foi o que me tirou disso. Me fez enxergar um mundo onde eu era capaz". 

Ao ver os alunos executarem com precisão e delicadeza os movimentos característicos do balé, a sensação é que os sonhos têm dado certo. "Aqui eles encaram a disciplina, a rotina e voltam pra casa inspirados pela mudança. Daqui procuram novas escolas, tentam se profissionalizar e quem sabe dançar em companhias fora de Mato Grosso do Sul. Temos alunos que já estão longe daqui, crescendo cada vez mais".

João venceu o preconceito.
João venceu o preconceito.

Quando surgiu a proposta de levar balé clássico para crianças carentes, uma das dúvidas era se os meninos sofreriam resistência, o que de fato aconteceu. "Eles enfrentam o preconceito da própria família, depois surgem as brincadeiras na escola e nas ruas. O maior desafio é mantê-los. Muitos meninos chegam até aqui, mas desistem de dançar diante da pressão".

João Vitor Rodrigues, de 18 anos, venceu o preconceito nas ruase ganhou apoio de toda família. "Hoje meus pais se emocionam de me ver em um espetáculo, eles sabem que a dança é a minha vida e fazem de tudo para que eu cresça com ela".

Ele já dançou em uma companhia do Rio de Janeiro, mas em Campo Grande, não abre mão das aulas na associação. Começou dançar há 1 ano, na igreja, quando viu que o balé era sua fonte de inspiração. "É o que me motiva, todos os dias. Acho que sem dança não fico mais".

Entre idas e vindas, Livia Angela de Oliveira, de 15 anos, começou ainda criança na associação e hoje sonha em estar nos palcos fazendo o que ama. "Comecei quando a turma era pequenininha, fui rebelde e larguei durante um tempo, mas a dança faz muito falta e decidi voltar. Hoje quero ser uma profissional, reconhecida", diz.

Marcos diz aos alunos que quer vê-los como simples integrantes de companhia Amoc, mas que eles ocupem postos de destaque no mundo da dança. "Quero que eles voem, Amoc é o começo e chance que eles tem de brilhar no futuro".

Exterior - A dedicação rendeu, neste ano, uma oportunidade única aos alunos. Durante uma seletiva, a companhia Amoc foi selecionada para representar o Brasil no Gymnaestrada 2019.

"É um evento em qual vários países se encontram a cada quatro anos para realizar apresentações, trocar informações e discutir a modalidade. Mas até agora o nosso maior desafio é levar todos os alunos, não queria deixar ninguém para trás".

Para viajar, cada aluno precisará desembolsar em torno de R$ 6 mil. Sem patrocínio, o jeito tem sido realizar eventos na esperança de arrecadar o valor que pagaria passagens, hospedagens e alimentação durante os sete dias de evento. "É uma oportunidade única, de sair do Brasil e representar o nosso país em um momento tão importante".

Quem quiser contribuir com a companhia, pode entrar em contaot com Marcos pelo telefone: (67) 99296-7555.

Marcos e os alunos da companhia Amoc.
Marcos e os alunos da companhia Amoc.
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