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Artes

Professor que exibiu "Crime Barato" em escola procura a polícia após ameaças

Thaís Pimenta | 04/10/2018 16:26
Filme foi exibido ontem, na Escola Estadual Maria Constança de Barros. (Foto: Paulo Francis)
Filme foi exibido ontem, na Escola Estadual Maria Constança de Barros. (Foto: Paulo Francis)

O professor de artes de 47 anos, responsável pela exibição do filme "Crime Barato" na Escola Estadual Maria Constança de Barros, registrou hoje (04) um Boletim de Ocorrência. Ele diz estar sofrendo ameaças pela internet. 

"Eu não esperava sofrer por conta disso. Você não sabe como se defender. As pessoas disseminam o ódio. Me ameaçam de morte, de linchamento e convocam até pessoas para participar do linchamento", diz o homem que pediu para ter o nome preservado depois das agressões virtuais.

De uma vida anônima para a exposição nas redes sociais, o reflexo veio de maneira assustadora, comenta. "Eu era anônimo e vi minha vida exposta, isso não é agradável", diz ele. O professor diz que recebeu mensagem com ameaças de linchamento, de morte e de agressões do tipo "vou te pegar na sua casa". Ele diz que não conseguiu trabalhar nesta quinta-feira, tudo por causa de "um post irresponsável" de pai de aluno no Facebook. "Felizmente, tem muita gente me apoiando também, inclusive, alunos."

O B.O foi registrado na DEPAC (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário). À Polícia Civil, o professor contou que tem um projeto que acontece geralmente às quartas-feiras na escola, no tempo livre dos alunos. O projeto mistura arte e cultura com ensino, priorizando produções locais. Já teve apresentação de teatro e ontem resolveram exibir o novo longa-metram de Mhiguel Horta.

O professor viu avaliações sobre o filme em pesquisa e sugeriu para o diretor da escola a exibição, o que sugere que a diretoria tinha ciência de tudo. "É um tema que ainda agride muito as pessoas, o tema da homossexulidade. E o filme fala da família, de como ela deve tratar esse assunto", comenta.

A escolha de "Crime Barato" aconteceu porque muitas cenas foram gravadas na Antiga Rodoviária, que é próxima à escola. Uma forma de também criar identificação com a turma, diz o professor, já que os alunos veem travestis se prostituindo quase que diariamente por estarem muito próximos do ponto que já é conhecido pelo abandono. "É só uma verdade nua e crua, de uma região que os alunos conhecem", avalia.

Ele ainda rebate que a publicação do pai informa, de que os alunos teriam sido proibidos de sair durante a exibição do filme e ressalta que houve uma preocupação com a classificação indicativa do filme, de 14 anos. "Foi uma postagem falsa, agressora, em um momento de fragilidade política", avalia.

O Centro de Defesa dos Direitos dos Humanos Marçal de Souza Tupã-i divulgou nota de apoio ao "trabalho de combate à homofobia" que o professor realiza.

"As agressões sofridas pelo professor são mais um sintoma da escalada de ódio e violência que vem ocorrendo e que se vem disseminando no país. É necessário que todos aqueles que defendem a democracia se movimentam e garantam que ataques como este não sejam naturalizados. Os impropérios e ameaças sofridos pelo professor ofendem a todos aqueles que defendem uma educação e uma sociedade justas, plurais e abertas ao pensamento crítico", defende o centro em nota.

O grupo pede à Secretaria de Educação o devido apoio e proteção ao professor e seu trabalho.

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