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Artes

O sucesso de instrumentistas sul-mato-grossenses Brasil afora

Mariana Lopes | 01/06/2012 12:48
Juntos eventualmente, Sandro Moreno, Marcelo Ribeiro e Adriano Magoo começaram a tocar em Campo Grande e ganharam visibilidade em São Paulo (Foto: Gustavo Monge)
Juntos eventualmente, Sandro Moreno, Marcelo Ribeiro e Adriano Magoo começaram a tocar em Campo Grande e ganharam visibilidade em São Paulo (Foto: Gustavo Monge)

Em comum, eles têm a paixão pela música, a dedicação ao estudo e o sucesso do talento reconhecido. Marcelo Ribeiro, Sandro Moreno, Adriano Magoo e Wlajones Carvalho, todos instrumentistas que saíram de Mato Grosso do Sul e hoje tem trabalho de sobra pelo País.

Cada um traçou rota diferente, mas em vários momentos das carreiras se cruzaram sobre os mesmos palcos. A trajetória começou em Campo Grande mesmo, tocando com Jerry Espíndola, Paulo Simões, bandas...

O baixista Marcelinho, o tecladista Magoo e o baterista Sandro Moreno, de terras sul-mato-grossenses fizeram as malas, há nove anos, e foram tentar a sorte em São Paulo.

Na metrópole brasileira, os instrumentistas arregaçaram as mangas e foram atrás de contato. “No nosso caso, o que manda é indicação. A maioria dos trabalhos que conseguimos é através de outro músico que já nos ouviu, gostou e acaba indicando”, conta Marcelinho.

Depois de tocar para Pena Branca e Xavantinho, Tetê Espíndola, Dani Black, hoje ele leva projetos musicais paralelos enquanto substitui o baixista da Fafá de Belém em um show e outro. Com a cantora, ele tocou até em Portugal. “Um baterista que tocava com o baixista da Fafá que me indicou, o cara gostou e perguntou se eu podia substituí-lo em alguns shows”, lembra.

Outra característica bem comum em instrumentistas é ter vários trabalhos em andamento, e por conta disso, acabam tendo que apelar para músicos substitutos. “É normal a gente receber convite para tocar para artistas, mas só para substituir um músico que está tocando em outro projeto”, explica Marcelinho.

Marcelo Ribeiro (Foto: Gustavo Monge)
Marcelo Ribeiro (Foto: Gustavo Monge)

E assim é a atual vida do baixista, que há nove anos mora na capital paulista, onde também criou raízes, ganhou família e muitos contatos profissionais.

“Gosto muito de Campo Grande, é o lugar onde nasci, cresci, dei meus primeiros passos na música, mas minha vida agora é em São Paulo,e para a minha profissão, é complicado voltar, não tem espaço”, comenta.

A história de Adriano Magoo é bem parecida. De Mato Grosso do Sul para São Paulo, de São Paulo para a França, e da França para as estradas brasileiras. Há sete anos ele é tecladista oficial do cantor Zeca Baleiro. “Eu estava na Europa quando o Zeca me ligou, me convidando para tocar para ele. Fui indicado por outro tecladista”, conta.

No currículo, Magoo já tocou com Tom Zé, Fagner, Alcione, Geraldo Azevedo, Cleiton e Cledir. “Tem que ter coragem e estar no meio musical”, afirma. Carioca de nascença e sul-mato-grossense de coração, o tecladista também começou a carreira em Campo Grande, mas ir embora de São Paulo está longe dos planos dele.

“Já até tentei voltar, mas para o músico aqui é restrito, limitado”, pontua Maggo, que toca profissionalmente desde os 13 anos. Ele tem shows praticamente todos os dias das semanas e, assim como outros músicos, ainda arruma tempo para os projetos paralelos.

Magoo (Foto: Gustavo Monge)
Magoo (Foto: Gustavo Monge)

O baterista do grupo, Sandro Moreno, 35 anos, foi para a capital carioca três anos antes de se juntar com os amigos em São Paulo. "Ganhei um concurso nacional de baterista, o Batuca, e o produtor do Zé Ramalho leu em uma revista e entrou em contato comigo para eu ser o baterista dele, mas eu precisa me mudar para o Rio de Janeiro, e fui", conta.

Por causa de outros projetos que Sandro levava em São Paulo, ele se mudou para lá em 2004, ainda tocando com Zé Ramalho. Em 2006, ele recebeu o convite para participar de um projeto com Tetê Espíndola e Felipe Kadoshi, produtor musical francês. Foi então que encerrou o contrato com Zé Ramalho, arrumou as malas novamente e se mudou para Paris, onde ficou quatro meses.

Voltou para São Paulo, onde ficou por mais dois anos. Em 2008, o baterista deu preferência à qualidade de vida e retornou à cidade natal, Campo Grande, e começou a tocar com Almir Sater.

"Mesmo eu tendo muito contato e trabalho em São Paulo e encontrando algumas dificuldades profissionais por não estar no eixo, aqui eu tenho mais qualidade de vida", justifica Sandro, que, ao contrário dos outros, não pretende mais sair de Campo Grande, muito menos voltar a morar em São Paulo.

"Vivo na ponte aérea, mas faz parte", diz. Atualmente, o trabalho principal de Sandro Moreno é com Dani Black, com quem toca há 10 anos, e tem projetos com a banda Croa, toca em bares de Campo Grande e ainda arruma tempo para gravações em São Paulo.

Embora não faça parte da Croa, o baterista e percursionista Wlajones Carvalho, 32 anos, também deu os primeiros passos na música em Campo Grande e hoje faz da capital paulista o palco principal dos trabalhos. Ele foi para São Paulo em 2004, ficou dois anos, voltou para cá para tocar com o grupo Tradição, no qual Michel Teló era vocalista na época, e ficou até janeiro de 2009.

Porém, nestes três anos, ele dividia o tempo com as turnês e gravações em estúdio para alguns artistas, a maioria sertanejos, como Bruno e Marrone, Fernando e Sorocaba, Luan Santana, João Bosco e Vinícius, João Neto e Frederico...

Para se inserir no meio musical, Wlajones recorreu aos outros músicos. Antes de ir para São Paulo, ele passou um tempo em Portugal, onde aumentou o networking pessoal. Atualmente, ele é baterista do Fiuk e da cantora Tânia Mara.

Em São Paulo, Wlajones deu continuidade à carreira de produtor musical, que iniciou ainda em Campo Grande, com a produção do álbum de Léo Verão. Hoje ele tem seu próprio estúdio de gravação e não faz planos de voltar à terra natal. "A proporção da minha carreira aqui é bem maior, tenho mais oportunidades, meus trabalhos estão aqui, tive que escolher", conta.

Sandro Moreno (Foto: Gustavo Monge)
Sandro Moreno (Foto: Gustavo Monge)

Dedicação e estudo - Para quem pensa que todos esses músicos contaram simples e unicamente com a sorte para chegarem onde chegaram, vale ressaltar que o espaço foi conquistado pelo talento, muita dedicação e estudo.

Todos da mesma geração, eles muitas vezes ensaiavam juntos, em um estúdio nos fundos da casa de Sandro. "A gente se juntava e mandava ver, às vezes até com duas baterias montadas. Era muito bom. Aprendemos muita coisa juntos e crescemos musicalmente", lembra Sandro.

Nem o tempo ou a experiência tirou a ânsia de tocar de Sandro coma banda Croa, criada por ele, Magoo e Marcelinho. Em uma quinta-feira de Jazz de Quinta, no Barbaquá, onde ele se apresenta com outros artistas, três horas seguidas, sem qualquer intervalo, não foram suficientes para cansar o baterista. Neste dia, que fui ao bar para entrevistá-lo, tive que pegar o caderno, a caneta e o fotógrafo e ir embora, mais de uma hora da manhã, somente com a promessa de que teria o depoimento de Sandro outro dia.

Com um sorriso, ele fez apenas um pedido à reportagem: "Me liga depois das 11h". Muito simpático e atencioso, o baterista cumpriu o que prometeu, e encerrou a entrevista dizendo que a vontade de tocar só aumenta. "Não consigo parar".

Sobre os estudos, Sandro garante que, para ele, é necessário e uma obrigação prazerosa. "O músico tem que pesquisar, procurar novas conexões, ter uma rotina de ensaios", completa.

E o ritmo de estudos pode até ter diminuído por conta de tantos compromissos, mas a dedicação e reciclagem ainda fazem parte da rotina deles. "É muita correria, vivo na estrada ou em estúdio, gravando, então meu ritmo de ensaio diminuiu, mas não paro", diz Wlajones.

Embora seja muito bem conceituado com tecladista no meio musical, Magoo não se acomodou no dom e garante que, para não enferrujar, toca até mesmo quando está fora dos palcos. “Sempre me afundei na música, estudo todos os dias”, confessa Magoo.

Para Marcelinho, com o tempo, cada músico acaba criando sua própria identidade musical. "A maneira como toco é a minha assinatura. O cantor, para cantar bem precisa de uma boa base, harmonização, é aí que entra o instrumentista, o que não quer dizer que eu não posso enriquecer a música com uma frase", pontua o baixista.

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