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Comportamento

A autoescola lembra da seta, mas por aqui amnésia de motoristas é "cultural"

Em São Paulo não importa a distância ou se via está vazia, trocou sentido sem seta leva buzinaço na certa

Danielle Valentim | 24/05/2019 09:08
Veículo de passeio invade pista de motociclista sem dar seta. (Foto: Reprodução/TV News)
Veículo de passeio invade pista de motociclista sem dar seta. (Foto: Reprodução/TV News)

Por que os motoristas de Campo Grande insistem em realizar conversões ou trocarem de faixa sem dar seta? O Lado B decidiu procurar resposta direto na fonte, ou seja, nas autoescolas, já que nas ruas esse e o maior motivo de crítica.

É preocupante a quantidade de motoristas que desrespeitam regras tão simples. A reportagem flagrou 14 condutores sem seta em apenas dez minutos no cruzamento da Avenida Afonso Pena com a Rui Barbosa. Entre os flagrantes, o mais arriscado foi o de um Fiat Mobi que, sem sinalizar, trocou de pista na Afonso Pena no sentido shopping e fechou um motociclista. (Vídeo Abaixo)

Não dar seta no veículo é considerado infração grave, conforme o art. 196 do CTB (Código de Trânsito Brasileiro), com multa de R$ 195,23 e cinco pontos na carteira. O Detran não informou dados, mas garantiu ao Lado B, que o número de autuações é baixo, pois quando há presença dos agentes a postura do condutor muda.

Cultura da desobediência – É complicado afirmar que a desobediência é cultura de alguém. Mas o diretor da autoescola Primeira Opção, o empresário Paulo Silva, explica que o “dá tempo, não está vindo ninguém” é forte na vida dos motoristas daqui.

Para Paulo, o senso comum hoje é olhar pelo retrovisor e mudar de faixa sem dar seta, caso não veja ninguém.  (Foto: Paulo Francis)
Para Paulo, o senso comum hoje é olhar pelo retrovisor e mudar de faixa sem dar seta, caso não veja ninguém. (Foto: Paulo Francis)

Tudo é ensinado nas aulas teóricas e práticas, a seta é cobrada o tempo todo. Se o aluno não consegue cumprir a regra, não é liberado para o exame no Detran. "O examinador não vai te cobrar, porém se você não der a seta ele vai tirar ponto, e causar uma reprovação, caso já tenha atingido o limite. Quando você sai da autoescola para o trânsito se depara com uma endemia de não dar seta”, frisa Paulo.

Para ele, o senso comum hoje é olhar pelo retrovisor e mudar de faixa sem dar seta, caso não veja ninguém. Quando na verdade é obrigatório sinalizar com ou sem motorista atrás. Paulo está no trânsito de Campo Grande há 14 anos, mas sua experiência vem dos grandes tráfegos de São Paulo e Rio de Janeiro. Nestas regiões, a seta move o trânsito. Se o motorista decide virar ou mudar de faixa sem sinalizar recebe o alerta de uma buzina. Isso acontece independente se o outro motorista está longe.

“Mas também se você deu seta e está na condição de entrar, o carro de trás vai frear e vai te deixar passar. É outra cultura. Por aqui se alguém tenta mudar a faixa o outro motorista acelera para não deixar passar. A seta indica a direção e o trânsito é feito de sentidos”, frisa.

Paulo citou um dado do Detran que indica que 22% da população de Mato Grosso do Sul deixou de tirar a habilitação. “Não necessariamente os 22% estão nas ruas dirigindo se CNH, mas as blitz provam a quantidade de condutor não habilitado flagrado nas fiscalizações. Não adianta, um motorista sem CNH pode até dirigir bem, mas não sabe 100% das regras. Afinal são 45 horas/aula teóricas, depois mais 25 aulas práticas. As autoescolas ensinam e lá no Detran não tem placa de autoescola. Lá é o aluno é cobrado a partir do que sabe”, pontua.

O diretor de ensino da Autoescola San Marino, Ronei Santos da Silva, de 43 anos, destaca outro fato que precisa acabar. Há casos em que motoristas recém-habilitados sofrem represálias de condutores que se dizem mais experientes.

“Alguns chegam a tirar sarro do motorista que está fazendo tudo certo. Uns chegam questionar a quantidade de setas, como se não precisasse utilizá-la. Sentindo-se constrangido, o motorista que está com tudo fresco na cabeça, acaba entrando na “onda” dos erros e fazendo parte dessa cultura de desobediência”, frisa.

Ronei reitera que o uso da seta chega a ser mais cobrado que qualquer outra sinalização tanto na autoescola, como nos exames. “A seta não serve apenas para quem está trafegando atrás, mas também aos pedestres que precisa saber qualquer será sua direção”, disse.

Como mudar? A atual geração já vai na cultura da impunidade, mas as crianças cobram dos pais o que aprendem na escola. Ações educativas nas escolas de Mato Grosso do Sul são formas de mudar a cultura da desobediência.

Paulo ressalta que é preciso formar na base. "Eu digo isso com o exemplo do meu neto de 7 anos. Ele sabe que o sinal vermelho é para parar e que o amarelo é para ter atenção. E ele me cobra quando a gente sai junto”, disse.

Ronei também acredita na mudança de hábito, principalmente se houver ajuda do Poder Público com propagandas. “Eu acredito que é possível mudar o pensamento de um motorista antigo, mas nada impede que haja educação de trânsito nas escolas, nos primeiros anos. A partir do momento que a criança aprende a andar ela já é um pedestre”, finaliza.

Maio Amarelo – E nesta pegada de prevenir e ensinar as crianças, neste ano, #MEOUÇA é a assinatura da Campanha Nacional Maio Amarelo, que dedica 30 dias à conscientização e prevenção às mortes causadas pelos acidentes de trânsito.

O Observatório Nacional de Segurança Viária e a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) lançaram a campanha “No Trânsito, o Sentido é a Vida” e, por intermédio das crianças, sob a assinatura “#MEOUÇA”, levam reflexões sob o comportamento seguro, por exemplo, quando a criança vê o pai ou mãe pegar o carro para ir beber.

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Assista aos flagrantes:

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