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Comportamento

Acidente deixou cabeleireiro em cadeira de rodas e lição de que o simples é tudo

Paula Maciulevicius | 03/01/2017 06:05
Em janeiro de 2017, Jorginho conta 12 anos do acidente. (Foto: Fernando Antunes)
Em janeiro de 2017, Jorginho conta 12 anos do acidente. (Foto: Fernando Antunes)

Jorginho é um dos cabeleireiros mais tradicionais de Campo Grande. São três décadas de profissão aqui. Do Paraná, o cabeleireiro chegou nos anos 80, a convite de um amigo que à época era modelo e via a necessidade da cidade em profissionais de beleza.

Foram vários os salões onde ele já trabalhou e sócios, também. Mas foi justamente os oito meses em que não cortou e nem escovou ou tingiu cabelos que mais lhe ensinaram sobre a vida. 

Em janeiro de 2017, Jorginho conta 12 anos do acidente. "Foi dia 9 de janeiro de 2005 e assim, ele mudou realmente a minha vida. Eu estava no auge de tudo", conta Jorge Antônio Bataiotti, hoje com 62 anos.

À frente do seu Audi, ele dirigia de Campo Grande até o litoral paranaense, onde a família tem casa na praia, quando bateu o carro numa árvore, próximo a Nova Andradina. 

"Eu não tinha experiência, não me lembro do acidente. Mas as pessoas que viram, disseram que para eu não colidir com um caminhão, saí da pista", reproduz. O veículo teve perda total e a parte esquerda, do lado do motorista, fora a mais atingida.

"Essa perna foi para este lado, tive fraturas expostas, meu fêmur quebrou em vários lugares. É uma história muito grande", fala.

Sem Corpo de Bombeiros na região, Jorginho foi socorrido por uma viatura da Polícia e levado para Nova Andradina até ser transferido para Campo Grande. Com a Santa Casa em greve, ele bateu em dois hospitais até ser recebido no segundo, sem estrutura de CTI.

Amigos influentes do cabeleireiro quem conseguiram que ele chegasse à Santa Casa, onde já entrou em coma. Foram quatro meses de internação e 22 dias em coma. 

"Quer coisas mais importante do que você caminhar? Você só dá valor nisso quando fica numa cadeira de rodas", reflete Jorginho. (Foto: Fernando Antunes)
"Quer coisas mais importante do que você caminhar? Você só dá valor nisso quando fica numa cadeira de rodas", reflete Jorginho. (Foto: Fernando Antunes)

"Minha família toda veio para cá. Eu fiquei entre a vida e a morte, porque os médicos falaram que eu não passava de tal dia", recorda. Depois da alta, Jorginho tinha home care em casa e muita fisioterapia. 

"Fui me tratando e me restabelecendo. Foi bastante traumático e o que me ajudou foi Deus, porque a gente não vai embora antes da hora e estar num carro bom", atribui o cabeleireiro.

Na data do acidente, o salão de Jorginho era na Rua dos Vendas que ficou sendo tocado pela equipe dele. "Eu estava no auge, minha vida era uma loucura. Se eu quisesse, trabalharia das 7h da manhã às 10h da noite. As pessoas falam que eu tive o acidente para segurar um pouco a onda, pode ser...", reflete. 

Enquanto estava em casa, o salão não parou e uma das cabeleireiras que foi auxiliar de Jorginho, Sandra, quem também tomou à frente. "Na hora que eu mais precisava ela montou esse salão aqui e trouxe todos os meus funcionários e a clientela", agradece. 

Foi mais de um ano para se recuperar plenamente, mas em setembro, Jorginho já estava no salão. Assim que conseguiu levantar da cadeira de rodas, foi atender. "Minha mão, essa aqui tem sequelas, na época outra pessoa segurava o cabelo e eu cortava", lembra.

Do acidente, o cabeleireiro desenvolveu osteomielite, uma doença crônica na perna esquerda, mas que ele garante não atrapalhar em nada o trabalho. "Acho que as coisas não são por acaso. Tudo tem uma razão de ser e a gente não pode desistir nunca do que se propõe a fazer, dos seus sonhos..." E as palavras são interrompidas por lágrimas. 

Pode passar o tempo que for, falar do acidente e da recuperação ainda emocionam. "Da batida em si eu não lembro muito, mas me lembro das situações, do sacrifício, de muita dor. As coisas ficaram muito difíceis, eu estava numa cadeira de rodas, totalmente incapaz de trabalhar e graças a Deus, tiveram pessoas que me ajudaram. Isso não tem preço que pague", diz. 

Das lições que ele absorveu do episódio, o resumo é que nada na vida é por caso. "Em cada situação você tira proveito. Quer coisas mais importante do que você caminhar? Você só dá valor nisso quando fica numa cadeira de rodas. São as coisas simples que fazem uma diferença muito grande".

Não que antes do acidente, o cabeleireiro não valorizasse a vida, mas a última década trouxe consigo importantes mudanças na forma de enxergá-la. "Você acaba ficando mais humilde também, enxergando por outro ângulo e valorizando cada momento da sua vida".

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