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Comportamento

Antropóloga fala de "casais invertidos" que, por serem frágeis, duram mais

Mirian Goldenberg encerra o Diálogos Contemporâneos trazendo a tona o tema da infidelidade, da mulher livre, dos relacionamentos invertidos, e acima de tudo, do amor

Thaís Pimenta | 12/06/2018 08:15
Mirian Goldenberg encerrou o ciclo de quatro meses de conferências dos Diálogos Contemporâneos em Campo Grande. (Foto: Thaís Pimenta)
Mirian Goldenberg encerrou o ciclo de quatro meses de conferências dos Diálogos Contemporâneos em Campo Grande. (Foto: Thaís Pimenta)

Entender o ser humano observando comportamentos. Há poucas coisas pra nós, do Lado B, que sejam tão incríveis quanto isso. A antropóloga Mirian Goldenberg, que fechou ontem em Campo Grande mais um ciclo do projeto Diálogos Contemporâneos, segue no mesmo caminho, mas com pesquisa, há 30 anos, e já concluiu que até mesmo ''o amor é uma construção cultural e cotidiana''.

Na academia, dentro do mestrado e do doutorado, sentiu-se curiosa a estudar, a princípio, um comportamento que está muito atrelado ao amor: a infidelidade. Em 1988 ela passou a pesquisar o mundo encantado das amantes, ''da outra'', e a pesquisa reflete tanto daquele momento que se torna livro e entra para a lista dos best sellers da época, um livrinho de 112 páginas que cutucou - e muito- a sociedade.

''Esse relacionamento de traição é relatado como uma união que acontece puramente por amor pois o homem escolhe estar com aquela mulher que é independente financeiramente dele e que não tem nenhum laço de obrigação familiar, por exemplo, por isso seria uma relação mais verdadeira que o casamento do marido'', explica Mirian.

Nessa jornada, Mirian descobriu, por exemplo, que de todos os tipos de casais entrevistados, os mais felizes eram aqueles em que as mulheres eram mais velhas e os homens mais novos, os chamados relacionamentos invertidos, já que ''a sociedade está acostumada com o contrário, mulheres joverns com homens mais velhos''.

''São relacionamentos duradouros justo por eles mesmo pensarem que são frágeis por serem incomuns. Eles mostram sua melhor versão pro outro, enquanto que nos casamentos tradicionais, com a desculpa da intimidade, acabamos sendo a nossa pior versão. Por levarem na brincadeira, eles dizem que elas são muito mais leves, divertidas, maduras que as parceiras anteriores, e mais, elas os escutam, elogiam, e por isso são superiores. Para elas, os parceiros mais jovens são tão incríveis porque as fazem se sentir especiais e ainda sedutoras, mesmo com a idade''.

 

 (Foto: Thaís Pimenta)
(Foto: Thaís Pimenta)

Muito amada pelos homens, a atriz Leila Diniz chamou atenção de Mirian naquele tempo, depois de sua precoce morte, aos 27 anos, justamente por ter escancarado para a sociedade, em plena ditadura militar, que era possível amar para além da monogamia, e ser feliz com isso, mesmo se tornando um verdadeiro mito carioca.

''A Leila deixou claro pra mim que para além do infidelidade, em 1969 já existiam novas formas de amor, e isso me fez estudar sua vida por quatro anos'', conta.

Ela, que não tinha papas na língua dizia que se gostava de ''vários sabores de picolés por que é que precisava gostar só de um homem'', fez história a dar uma entrevista sobre amor e comportamento ao jornal ''O Pasquim'' no auge do regime militar, que multiplou em 200 mil vezes a tiragem da publicação ao falar sobre o tema com a graciosidade de uma mulher que fez revolução justamente por ser livre. ''Do seu jeito doce, Mirian falou 70 palavrões enquanto comentava sobre seu jeito de amar. Todos eles foram censurados com um asterisco. Então imagine a entrevista mais curiosa que se tinha acesso na época''.

Por conta da repercussão, a atriz ganhou uma lei de censura prévia que levava seu nome e, que apenas por ser ela mesmo, autêntica, ''deixou de ser um asterisco para ser uma revolucionária'', como conclui Mirian.

Antropóloga fala de "casais invertidos" que, por serem frágeis, duram mais

Mirian acha que as pesquisas ainda são atuais e que os homens traem mais que as mulheres, por motivos diferentes. ''Eles traem porque justificam ser poligâmicos por natureza, ou dizem ainda que foram infiéis porque são homens, como se algo em seu DNA comprovasse isso. Em momento nenhum ouvi mulheres dizendo o mesmo''.

Também existem vários tipos dentro desse universo, comenta. ''Existe ainda o monogâmico infiel, que é aquele que traiu por oportunidade, porque aconteceu, e o monogâmico fiel, que não trai por admirar sua parceira ou por ter preguiça de se envolver em outro relacionamento''.

Já as mulheres, de acordo com a pesquisa de Mirian, traem por ''vingança, por falta de atenção, de reconhecimento, de elogios de sexo e de diálogo''. O que deixa explícito outro tema que a antropóloga expõe, que é justamente o que cada gênero necessita para que o relacionamento feliz aconteça: elas precisam se sentir especiais e eles precisam se sentir em uma relação leve.

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O Campo Grande News é um dos apoiadores do evento, por acreditar na força do diálogo.

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