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Comportamento

Aos 102 anos, servidor mais antigo do Estado tem lucidez que impressiona

Ele também foi o primeiro morador da Rua dos Barbosas, no bairro Amamabai e não vai ao médico há 5 anos

Eduardo Fregatto | 28/08/2017 18:40
Jesuíno é muito lúcido e tem memória boa. (Foto: João Paulo Gonçalves)
Jesuíno é muito lúcido e tem memória boa. (Foto: João Paulo Gonçalves)

Dono de uma lucidez que chegar a impressionar, e de uma sinceridade digna de alguém que já viu muito da vida e do ser humano, o centenário Jesuíno da Silva Neto comemora, hoje, os seus 102 anos. Apesar da idade avançada, se orgulho em contar que não vai ao médico há 5 anos. "Iria pra que? Não sinto nada", garante.

Nessa longa trajetória, coleciona alguns títulos: foi o primeiro morador da Rua dos Barbosas, no bairro Amambai, e por isso ganhou apelido que carrega até hoje: Barbosinha. Além disso, é reconhecido como o servidor público mais antigo do Estado. "Pelo menos dizem que eu sou, né? Porque não encontraram nenhum outro mais velho que eu", diz, com certa incredulidade.

Jesuíno apagando as velinhas de 102 anos. (Foto: Acervo Pessoal)
Jesuíno apagando as velinhas de 102 anos. (Foto: Acervo Pessoal)
A comemoração oficial, que aconteceu ontem, para mais de 300 convidados. (Foto: Acervo Pessoal)
A comemoração oficial, que aconteceu ontem, para mais de 300 convidados. (Foto: Acervo Pessoal)

Quando chegamos para conversar, em sua casa, no final da tarde, ele estava sentado em sua poltrona, vendo televisão, sem camisa, por conta do clima quente. "Não quer colocar uma camisa, pai?", perguntou uma de suas filhas. "Não, vou ficar pelado mesmo", respondeu, sem pestanejar. Só vestiu a camisa, por vontade própria, na hora da foto com a família toda.

A casa de Jesuíno é lotada de filhos, netos, bisnetos e até tataranetos - o mais novo com apenas 5 meses. Hoje, alguns de seus familiares estavam, justamente, fazendo as contas para descobrir quantos descendentes já existem atualmente. "São 34 netos, 46 bisnetos e 9 tataranetos", bateu o martelo a filha Anice Silva Neto, dona de casa de 66 anos.

Apenas uma pequena parte da enorme família de Jesuíno. (Foto: João Paulo Gonçalves)
Apenas uma pequena parte da enorme família de Jesuíno. (Foto: João Paulo Gonçalves)

Todos mantém uma relação de afeto com ele, seja chamando de pai, avô, bisavô ou tataravô. Já Jesuíno é mais pragmático. "Não lembro o nome de todos. Mas pra quê? Eu acho que isso é uma bobagem. A gente morre e eles ficam, é assim mesmo", constata o aniversariante, sem rodeios.

Apesar do jeito duro, foi ele quem criou a maioria dos netos, além dos 13 filhos que teve com a esposa, Zoraides, que já faleceu há cerca de 30 anos. Os dois se conheceram na infância. Pergunto se ele sente muita saudade dela. "Agora já passou da hora de sentir falta, né?", indaga, sem hesitar, fazendo os filhos e netos caírem na risada, pela honestidade da resposta.

Aos poucos, vai nos contando sua história de vida e como entrou para o serviço público. Nascido na região rural de Rio Brilhante, foi criado pela mãe. O pai faleceu quando tinha 3 anos. Era o caçula de 10 irmãos, mas só ele está vivo atualmente. Estudou até a quarta série. Veio para a cidade por conta de trabalho. "Eu me criei junto com Campo Grande. Quando cheguei, era uma cidade muito pequena. Desse lado pra cá, não tinha ninguém", lembra.

Em 1953, conseguiu o trabalho na Prefeitura. Fazia poda de árvores da cidade e cuidava de jardins. Lembra de alguns episódios, como quando caiu de uma altura alta, enquanto trabalhava, e quebrou os pés. Só deixou o emprego em 1972, quando se aposentou. "Eu gostava muito do meu emprego", garante.

Na foto, ele tinha 23 anos, ao lado da esposa e da sogra. (Foto: João Paulo Gonçalves)
Na foto, ele tinha 23 anos, ao lado da esposa e da sogra. (Foto: João Paulo Gonçalves)

Na casa onde mora, na Rua dos Barbosas, está desde 1952. Vive junto com algumas das filhas, netos e bisnetos. Nesses anos todos, diz que o mundo mudou pouco. "O mundo é o mesmo, o povo é que não presta", resume.

No dia a dia, gosta de ler o jornal diário, que é assinante. Assiste a televisão e dá uma caminhada breve pela rua, com sua bengala. Antes conseguia andar mais, mas agora tem mais dificuldades. "Hoje eu vou na missa, sou católico. Ia mais, só que agora é mais difícil. Mas sempre vou no meu aniversário", destaca.

Ontem, mais de 300 pessoas da família, e alguns amigos, se reuniram numa chácara para celebrar a vida centenária de Jesuíno. "Fizeram uma festa muito boa, tinha muita gente, meus sobrinhos de fora vieram", conta, com sua lucidez e tranquilidade.

Pergunto se ele pensa na morte, sem medo do fim de sua vida. "A morte vem, a gente não sabe se é amanhã ou depois. Mas ela vem", reflete. "Quem tiver medo de morte, já está morto", finaliza Jesuíno.

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Jesuíno vestindo a camisa pra tirar a foto. (Foto: João Paulo Gonçalves)
Jesuíno vestindo a camisa pra tirar a foto. (Foto: João Paulo Gonçalves)
Ele gosta de caminhar, apesar da mobilidade mais difícil nos últimos meses. (Foto: João Paulo Gonçalves)
Ele gosta de caminhar, apesar da mobilidade mais difícil nos últimos meses. (Foto: João Paulo Gonçalves)
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