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Comportamento

Aos 22 anos, Thais enfrentou depressão e ajuda pessoas dividindo o que sentiu

Nas redes sociais e no seu canal no Youtube, ela tenta quebrar preconceitos que envolvem a doença e ensina como lidar com quem convive com o problema

Eduardo Fregatto | 05/08/2017 07:05
A atleta e professora de artes marciais se reconectou com a natureza em busca de paz e conforto. (Foto: Malcolm Carvalho)
A atleta e professora de artes marciais se reconectou com a natureza em busca de paz e conforto. (Foto: Malcolm Carvalho)

A atleta e professora de Taekwondo Thais Maia tem apenas 22 anos, mas já enfrentou várias batalhas contra a depressão e todos os preconceitos que chegam junto da doença. Por meio do contato com a natureza, esporte e pesquisando muito sobre o assunto, ela conseguiu melhorar e hoje está no Voz da Experiência para falar um pouco sobre sua trajetória. Thais relata que se sentia desamparada nos piores momentos e, por isso, hoje ela fala abertamente sobre a depressão nas suas redes sociais e em seu canal no Youtube, que pode ser acessado clicando aqui. Confira o relato de Thais.

Thais gravando seu último vídeo, que fala sobre depressão e ansiedade. (Foto: Acervo Pessoal)
Thais gravando seu último vídeo, que fala sobre depressão e ansiedade. (Foto: Acervo Pessoal)

Tenho 22 anos e, quase metade da minha vida, foi de batalhas pesadíssimas contra minhas próprias emoções. Há 10 anos, eu luto contra a depressão. No início, isso acabou com a minha vida, com meus estudos, com o meu corpo, com a minha energia. Eu sentia como se estivesse sendo punida em tempo integral pela minha própria cabeça.

A depressão é uma condição terrível, em que parece que somos testados emocionalmente a todo tempo e, infelizmente, muitas pessoas não conseguem suportar e desistem da própria vida depois de um tempo encarando a doença.

Nos primeiros anos, eu me afastei de absolutamente todas as pessoas que eu conhecia, até mesmo dos meus pais, do meu irmão (que sempre foi minha pessoa favorita no mundo), dos meus avós, dos meus amigos de infância e até mesmo dos meus cachorros. Eu não conseguia falar com ninguém. E isso me fazia sentir mais dor ainda, afinal, eu sentia falta das pessoas que eu amava, mas parecia impossível manter algum nível de comunicação com elas.

Então eu me isolei por anos, o que agravou mais ainda o meu estado. O isolamento dá mais autoridade à doença, faz com que ela ganhe uma proporção gigantesca e tudo fica completamente fora de controle. E esse é o nosso maior erro! Absolutamente todas as pessoas depressivas que eu conheço acabaram se isolando, cada um por um motivo particular.

Algumas pessoas escondem isso por medo da reação dos amigos/familiares, outras por vergonha de expor algo tão íntimo, e outras porque simplesmente querem parecer fortes e inabaláveis. Eu não fiz uso de nenhum medicamento pra tratar a depressão, o que agravou muito a minha situação. O que eu fiz para tentar melhorar foi basicamente ler muito - muito mesmo -, sobre o assunto e tentar entender quais as reações químicas que aconteciam no meu cérebro.

Comecei a buscar a origem de toda aquela angústia, toda aquela dor, todo aquele peso, e fiquei obcecada por tentar reverter aquele quadro. Eu não queria mais aquilo pra mim.

Hoje, eu vejo que se eu tivesse me sujeitado a tratamentos com certeza eu me recuperaria muito mais rápido. Algo que me ajudou muito a sair desse casulo foi me apegar novamente aos meus animais, à minha família e às plantas que eu amo cultivar. O contato com a natureza ajuda muito a encontrarmos Deus e nos dá forças pra quebrarmos esse ciclo vicioso. Assim, aos poucos, vamos sentindo amor novamente por cada pedacinho da vida.

Logo que eu comecei a melhorar percebi que as pessoas curiosas sobre o que de fato tinha acontecido comigo e como eu tinha superado. Em seguida, me formei faixa preta em Taekwondo e exerci a profissão de professora dessa arte marcial, e os meus alunos sempre desabafavam comigo depois das aulas. Foi quando eu entendi que tinha muita gente precisando de uma luz, de um colo, de uma atenção, eu não tava mais sozinha nesse barco e nem eles.

Contato com os animais foi um dos pontos que ajudaram Thais. (Foto: Acervo Pessoal)
Contato com os animais foi um dos pontos que ajudaram Thais. (Foto: Acervo Pessoal)

Em seguida disso comecei a receber vários pedidos de socorro pelas redes sociais, vi que aqui no Brasil as pessoas ainda ridicularizam muito a depressão e a ansiedade. Então, aos poucos, eu ia falando disso no meu Facebook e no Instagram, de maneira singela. Logo depois resolvi expandir isso pro Youtube e comecei a gravar sobre o tema.

Pra quem é muito sozinho, assim como eu sempre fui, é importante saber que alguém já passou por isso e conseguiu encontrar uma saída. Isso nos dá esperança. Falar abertamente sobre algo terrível que aconteceu na minha vida não é fácil, mas é necessário. Se há 10 anos atrás eu visse alguém de fora falando sobre isso, com certeza eu teria procurado ajuda profissional desde o início e teria evitado anos, anos e anos de dor intensa.

Eu sempre me disponho a conversar com todas as pessoas que se sentirem a vontade de falar comigo, e de fato eu faço. Queria ter encontrado alguém em que eu sentisse segurança lá na época que eu tinha 13 anos, mas tive que passar por tudo sozinha. E não desejo isso a ninguém, é importantíssimo termos alguém ao nosso lado, nos aproximarmos de Deus e plantarmos amor pra que nossa passagem aqui na Terra seja boa tanto pra nós quanto pra outras pessoas.

O conselho que eu sempre dou é que peçam forças pra Deus, e procurem alguém em que realmente confiem pra te ajudar e te incentivar a fazer um tratamento com um profissional da área. Tenham fé que aos poucos o amor vai tomando conta das nossas vidas novamente.

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