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Comportamento

Aos 59 anos, Miska não sabe o que é envelhecer e vai chegar aos 120 dançando

Artista plástica e cantora, aos 59 anos ela diz que as pessoas adoecem e envelhecem por apego aos bens materiais

Thailla Torres | 30/03/2018 07:10
Na sala de casa, Miska Thomé falou da arte de envelhecer ou não ao longo da vida. (Foto: Thailla Torres)
Na sala de casa, Miska Thomé falou da arte de envelhecer ou não ao longo da vida. (Foto: Thailla Torres)

Cantora e artista plástica, Miska Thomé é daquelas mulheres que, sem esforço, atraem os olhares. Na juventude, a beleza sem retoques era de emocionar no palco. As rugas vieram, os netos também, mas prestes a completar 60 anos, ela diz que não consegue envelhecer, considerando o sentido tão difundido por aí sobre o que é ser velho.

"A velhice é um estado de espírito, minha mãe tem 92 anos e não se sente velha. Limpa a casa, lava a roupa, é feliz e ninguém a proíbe de fazer nada. Então acho que envelhecer é um estado mental. As dificuldades podem até surgir, mas o grande barato é achar soluções para driblar essas coisas", diz.

Mãe de quatro filhos e com 4 netos, ela administra o tempo entre ser dona de casa, pintora, cantora, colecionadora, empreendedora e agora nova integrante de uma companhia de dança de flamenco, em Campo Grande.

Diariamente, além de todas as tarefas, ela se dedica a natureza que floresce dentro de casa.
Diariamente, além de todas as tarefas, ela se dedica a natureza que floresce dentro de casa.

Juntando a alegria de viver com a satisfação em chegar aos 59 anos, Miska diz nunca ter sentido um impacto com o envelhecimento. Pelo contrário, vê na maturidade a chance de fazer diferente e se reinventar o máximo que pode.

Sente que é a fase ideal para compartilhar o que aprendeu na vida com quem é mais jovem. E para que isso de fato aconteça, ela se solta e se diverte com as possibilidades que a vida lhe apresenta. "Tenho uma neta de 12 anos que compartilho com ela o que sei e ela me ensina todos os dias. Me diz, como é que a gente envelhece assim?", questiona.

Muitas mulheres sentem a pressão com a chegada da idade e a diferença que o corpo apresenta, principalmente, em relação ao cansaço. Por isso, Miska procura ser uma mulher sempre em movimento e aproveita de bons hábitos desde a infância.

"Eu vim de uma família onde havia mulheres de negócios, mulheres prendadas e não uma educação só voltada para por uma mulher do lar. Tive o privilégio de ter um infância feliz, perto da natureza, dos bons livros, da arte e da música. Então, como uma boa ariana, sempre quis coordenar várias coisas e desde de muito jovem nunca soube ficar parada"

Tudo isso fez Miska enxergar com outros olhos as primeiras mudanças, sem nunca pensar em camuflar a idade que tem. "Quando me aposentei, me enxergava no vídeo mais gordinha, percebi as rugas e sentia os poros da pele mais abertos. Desde então, busquei atividades que pudessem fortalecer o meu corpo".

Foi quando a cultura do flamenco, passou a fazer parte dos dias da artista. "Fui buscar qualidade de vida. Quando comecei o flamenco sentia a flacidez, por exemplo, no braço e através do pilates busquei um melhor condicionamento físico. Hoje, consigo sapatear como as outras dançarinas sem dores e com a intensidade que a dança exige".

Miska, aos 36 anos com o sorriso que não mudou nada.
Miska, aos 36 anos com o sorriso que não mudou nada.
Na juventude, em 1992, a beleza de Miska retratada por Reginaldo Fernandes.
Na juventude, em 1992, a beleza de Miska retratada por Reginaldo Fernandes.

É claro que no dia a dia, Miska precisou vencer desafios. Com uma carreira tripla, desde os 24 anos, como cantora, apresentadora e pintora, precisou conciliar o tempo que tinha para viver a família. "Sempre coordenei o tempo para ser uma mãe presente, costurando, fazendo comida, lanchinhos e bolos de aniversário. Mas isso tudo eu fazia porque gostava".

Longe do deslumbramento, a beleza em Miska sempre teve outro significado. "Eu lido com a beleza todos os dias, porque a arte em si, é lidar com beleza. Mas eu canto o que acho bonito e o que vai fazer bem para as pessoas. Como pintora não faço uma arte provocativa, mas gosto de pintar coisas suaves que acredito serem bonitas. E a arte nunca foi algo para eu me mostrar, entende? É como uma missão e tudo que eu tenho é pra dividir com muita gente".

Por isso, hoje ela acredita viver uma das melhores fases da vida. "Passei por três casamentos e apesar de não ficar sozinha em casa, hoje tenho a minha liberdade. Isso faz minha neta dizer que tem uma vó doida, colorida e divertida. Eu falo para ela que vou viver até os 120 anos dançando flamenco. Então, a gente vai se renovando e curtindo com essas coisas. Não dá para envelhecer"

Obviamente, Miska não faz com o corpo o que fazia aos 20 ou 30 anos, mas conclui que as pessoas são apegadas demais ao tempo e aos bens materiais que não suprem a felicidade que precisa ser trabalhada na alma. "A gente não pode desistir da alegria, dos relacionamentos, do prazer sexual e das amizades. As pessoas adoecem e envelhecem porque são muito apegadas aos bens materiais. Elas não têm outros significados na vida que não seja sobreviver e deixam de ter uma conexão com o universo".

O que faz diferença para ser feliz? Sem dúvidas buscar as respostas e a felicidade guardada dentro de si. "As pessoas buscam a felicidade fora delas, sendo que a felicidade está na gente. Vejo pessoas muito focadas no trabalho e ao mesmo tempo infelizes em seus relacionamentos interpessoais. É preciso ter essa busca pelo prazer de viver. Sentar com um amigo, tomar um café, escolher a profissão que ama. Com isso, não existe velhice, existe reinvenção".

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Confira a galeria de imagens:

  • Miska em 1976.
  • Capa da Revista West, em 1995, foto de Bolívar  Porto.
  • Miska e a família. (Foto: Carmen Rosa Vasconcelos Figueiredo)
  • Um dos retratos belíssimos na parede de casa.
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