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Comportamento

Aos 86 anos e com o título de heroína da família, vó estreia como blogueira

Naiane Mesquita | 14/10/2015 06:35
Carol, Nina e Elza montaram o blog juntas sobre maternidade (Foto: Gerson Walber)
Carol, Nina e Elza montaram o blog juntas sobre maternidade (Foto: Gerson Walber)

“Eu sou a Elza (não a do Frozen), avó das duas, Carol e Nina, e de mais três netas e dois netos. Sou também ‘bivó’ de 10 e agora blogueira. Chique no último!!! Idade? Faltam 4 para 90”.

É difícil resistir e não dar um sorriso ao ler a primeira frase de Elza Dória no blog Mãelabaristas. A empresária de 86 anos acaba de chegar de Budapeste (Hungria) e não há o que a faça parar. Tem ânimo não só para escrever em uma página da internet, como também para brincar de pique-esconde com os bisnetos pequenininhos. Sempre foi a heroína da família e agora divide com estranhos as histórias divertidas e até tensas da época em que foi mãe.

Carol, Nina e a filha Bárbara e a bivó Elza Dória (Foto: Gerson Walber)
Carol, Nina e a filha Bárbara e a bivó Elza Dória (Foto: Gerson Walber)

Mais jovem, conquistou espaço meio que no grito, em um tempo comandado pelos homens. Empresária, fazendeira, pioneira na inclusão da mulher em lideranças sindicais, brincalhona, médica, psicóloga da família, agora ela é blogueira. O convite de participar do blog Mãelabaristas surgiu por meio das idealizadoras e netas de Elza, Carolina Dória, 35 anos e Nina Dória, 32 anos.

“Eu tenho um bebê que está com 1 ano e 3 meses. Ela nasceu prematura e eu fui adiando a volta ao trabalho. Sou psicóloga e meu marido trabalha na fazenda da minha família e fica lá durante a semana. Mas, mesmo adiando a volta ao consultório, mãe cansa de ser só mãe, você sente vontade de voltar a sua rotina normal”, explica Nina.

Com o desejo de voltar a ser produtiva fora do expediente mãe, a neta de Elza procurou a prima Carol, que é jornalista, e a convidou para o projeto. “Nós sempre fomos muito próximas e como ela é mãe, eu acreditei que ela toparia”, afirma.

O convite deu certo e o blog saiu do forno há poucas semanas. Em busca de um diferencial e hiper ligadas à avó, Carol e Nina não hesitaram em convidá-la. “Não é que ela sabe o nome e a idade de todo mundo, ela sabe a roupa que cada um usa, se a pessoa emagreceu, a matéria que eu estou fazendo da minha pós-graduação. Ela é a primeira a saber dos nossos namoros, dos términos”, acredita Carol.

Para elas, ter a experiência da avó no cotidiano vai a contraponto com as barbaridades que surgem em uma breve pesquisa no Google para probleminhas maternais. “Toda mãe busca o Google e o resultado nunca é uma coisa mais segura. Vai lá e digita o que é um cocô de bolinha verde no Google e aparece sempre uma loucura”, brinca Nina.

No escritório da matriarca, as fotos que mostram momentos da carreira e da família. Tem até clique com Getúlio Vargas (Foto: Gerson Walber)
No escritório da matriarca, as fotos que mostram momentos da carreira e da família. Tem até clique com Getúlio Vargas (Foto: Gerson Walber)

Com título até de benzedeira, porque o que tem o aval de Elza costuma dar certo, ela estreia no blog contando como foi o parto normal da primeira filha, Marci, por volta do final dos anos 40, em um hospital, mas com parteira:

“Aos 18 anos deveria ter tido minha primeira filha, em Ponta Porã – MS, casa de madeira, fogão de lenha, fogareiro a álcool, geladeira de colocar gelo e luz elétrica das 18 às 22 horas. Mas… Minha companheira de caminhada na gravidez morreu de parto, e a família do Pedro, meu marido, apavorou! Lá fui eu para Campinas, terra deles, com mamãe, com um barrigão imenso, mais gorda 30 kg. Tinha-se que comer por 2. Pré Natal? O que era isso? Marci nasceu de parto “normal” na maternidade, mas com parteira. Correu tudo bem, não levei pontos, mas bota dor nisso… “

Depois, ela segue com as lembranças de nascimentos, mas dessa vez em uma fazenda de Ponta Porã.

“Meu marido era oficial do Exército e a segunda filha nasceu em Ponta Porã, na minha casinha e com parteira. Acabou a luz, acendemos lampião e a bebê encalhou! ‘Corre, vão chamar o médico amigo que mora aqui perto’ (telefone e carro ninguém tinha)”.

Os relatos que vão além de dicas maternais são lembranças históricas de um Mato Grosso uno ainda em construção. Elza que herdou da família a Fazenda Margarida e era apaixonada pela terra se tornou com muita dedicação e pitadas de feminismo, a primeira mulher no País a ser eleita para a diretoria de uma Federação Patronal, a Famasul (Federação de Agricultura de Mato Grosso do Sul).

Paralelo ao amor pela fazenda, ela desenvolveu um carinho especial pela escrita sendo colunista de alguns jornais do Estado e a maior incentivadora do livro “Retratos de Uma Época - Os Mendes Gonçalves e a Cia Matte Larangeira”, em homenagem ao seu tio avô paterno e que resgata a história da companhia, que atuou na exploração da erva-mate no sul do então Mato Grosso, atualmente a fronteira do nosso Estado com o Paraguai.

Agora que os anos já passaram, Elza se dedica ao mais prazeroso de todos os amores, o convívio com a família. “Toda quarta-feira eu reúno a minha família aqui para o almoço. Ficamos juntos, viajamos juntos. Pego um grupo e viajo, depois pego outro e faço a mesma coisa. Faço questão de juntar os bisnetos aqui, porque como a geração é longa, eles não teriam muito contato. Hoje, os dez são como primos-irmãos”, diz a matriarca, sempre com uma gargalhada de satisfação.

Confira o blog da Nina, Carol e Elza no endereço www.maelabaristas.com.br.

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