ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MARÇO, SEXTA  29    CAMPO GRANDE 22º

Comportamento

Após 14 anos, falta de apoio público compromete Parada da Diversidade

Paula Maciulevicius | 13/07/2015 16:23
A Parada estava prevista para o dia 26 de setembro.  (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
A Parada estava prevista para o dia 26 de setembro. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

A Fundação de Cultura do Estado negou apoio para a realização da Parada da Diversidade e Cidadania LGBT e a 14ª edição do movimento corre o risco de nem acontecer. Nesta segunda-feira (13), a presidente da ATMS (Associação das Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul) recebeu uma ligação dizendo que a estrutura e logística solicitada em ofício, no dia 14 de maio, não será atendida. A resposta vem dois meses depois do pedido e faltando pouco tempo para a realização do evento. A Parada estava prevista para o dia 26 de setembro. 

"Nós mandamos ofício em maio pedindo apoio para banda, som, trio elétrico, divulgação do evento, banheiro químico e as liberações das praças", descreve a presidente da ATMS, Cris Stefany. O mesmo documento foi protocolado tanto da Fundação do Estado, quanto na Prefeitura Municipal de Campo Grande.

"Hoje a pessoa ligou e disse que nada do que foi pedido eles iam poder ajudar. Na Prefeitura, a gente também não consegue diálogo com ninguém. Faz mais de dois meses que tento marcar reunião", relata Cris.

Parada inclui parcerias com organizações que lutam pelo reconhecimento de direitos LGBT e envolve também a participação da população. (Foto: Arquivo)
Parada inclui parcerias com organizações que lutam pelo reconhecimento de direitos LGBT e envolve também a participação da população. (Foto: Arquivo)

A Parada Gay é realizada há 14 anos e inclui, além da passeata pelas ruas, ações educativas e já chegou até a ter uma semana de programação incluindo palestras, com apoio do Governo Federal e a juntar mais de 30 mil pessoas nas ruas. Agora, mais enxuta, nem resumida a uma única data, pode não acontecer.

"Acredito que nós estamos vivendo um momento onde no fim do túnel não tem luz. A governabilidade está extremamente voltada para o fundamentalismo religioso e não para questão sociais. O Governo sempre colaborou, a Prefeitura, ano passado também sob pressão, mas colaborou", compara Cris.

Realizado pela ATMS a Parada inclui parcerias com outras organizações que lutam pelo reconhecimento de direitos LGBT e envolve também a participação da população. "Sempre tivemos apoio de outras instituições, das associações de mulheres do bairro, da causa negra, do combate ao HIV, entre outras. A gente faz teste rápido da HIV, hepatite. Tem todo um trabalho social, entrega de preservativo durante o evento até o momento da caminhada", reforça Cris.

Participante da Parada, a Rede Apolo (Rede de Homens Gays e Bissexuais de Mato Grosso do Sul), vê na resposta do Governo, a importância dada ao movimento. "A cada dia que passa eles vão tentando invisibilizar as nossas pautas e as nossas políticas públicas. Eles não têm verba mesmo, sabemos que a Prefeitura está numa situação bem pior, ainda mais tendo na direção um pastor, que além de tudo é fundamentalista, mas todos os LGBT's, nós não podemos nos calar. Devemos ir para a rua com faixa, bandeira, emsmo sem som, nossa luta é humanizada e muito maior", ressalta o presidente da Rede, David Andrade.

Eles mesmos passaram isso na pele. Faltando três semanas para a realização da Segunda Semana Cultural Apolo, no final do mês de junho, também veio a notícia de que o que eles haviam acordado de ceder à programação, não seria viável. "Três semanas antes, a Fundação disse que tudo que era terceirizado não poderia ser mantido, que eles não poderiam mais pagar som, iluminação, seguranças", conta David.

Resposta - O Secretário de Cultura do Estado, Athayde Nery, explica que embora o Governo tenha sempre ajudado, a Parada não depende do poder público. "A gente passa por um período de dificuldades mesmo, a gente está dizendo que não tem jeito de manter a estrutura que se estabeleceu, mas vamos manter um processo de diálogo", sustenta.

Athayde ainda argumenta que tem falado "não" para vários eventos do Estado. "Temos prioridades e vamos definir, como a inclusão da cultura nos municípios, a questão dos dois festivais, mas não vamos deixar de apoiar totalmente. Estamos em julho, é só em setembro", completa o secretário.

Ao Lado B, a Fundação de Cultura afirma que os gastos podem ser divididos entre Prefeitura e iniciativa privada. "Vamos conversar, dialogar, temos que fazer dentro daquilo que a gente pode", resume. Já a Prefeitura respondeu que tem ciência do pedido da ATMS e que está analisando. A resposta, segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura deve ser nos próximos dias.

A presidente da Associação disse que não vai desistir de realizar a Parada. Pela experiência dos anos anteriores, até já houveram entraves, mas nada que chegasse tão perto, como agora, de não haver a Parada. "Vamos procurar parceiros, apoio e acionar o Ministério Público. Eles gastam milhões em marchas para Jesus", finaliza Cris.

Nos siga no Google Notícias