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Comportamento

Bairro faz 30 anos, ganha grades, mas vizinhos ainda dividem o cafezinho

Apesar do crescimento e casas cada vez mais fechadas, moradores do Aero Rancho comemoram relação fácil com os vizinhos.

Thailla Torres | 27/05/2019 15:51
Dona Juvelina comemora poder tomar um café tranquila com os vizinhos. (Foto: Marina Pacheco)
Dona Juvelina comemora poder tomar um café tranquila com os vizinhos. (Foto: Marina Pacheco)

O primeiro contato de Norma Sueli Gonçalves, de 54 anos, com o Bairro Aero Rancho se deu em 1989. E foi a partir dali que ela conheceu a “melhor parte da cidade”, diz. Hoje, no aniversário de 30 anos do bairro mais populoso de Campo Grande, ela comemora a longa estadia no lugar que traz surpresas todos os dias, embora a trajetória carregue um histórico duro de violência e esquecimento quando o assunto é infraestrutura.

Agente comunitária há duas décadas, Norma sente todos os dias o sabor dos cafezinhos caseiros que adicionados ao calor humano dos moradores simboliza o bom resultado da tarefa de bater de porta em porta para saber da vida e saúde alheia. “Isso me fascina, é o que me mantém nesse bairro. Graças à profissão eu tive chance de conhecer melhor o Aero Rancho e seus moradores, isso faz a gente tentar resolver juntos os problemas”, explica a moradora.

Norma é agente comunitária há 20 anos e criou laços surpreendentes com a vizinhança. (Foto: Marina Pacheco)
Norma é agente comunitária há 20 anos e criou laços surpreendentes com a vizinhança. (Foto: Marina Pacheco)

Questionada sobre o que tem para comemorar nesses 30 anos, ela não pensa muito. “O carinho. Eu sinto que o bairro me abraçou. E pude ver muita gente crescer”, explica.

O bairro é grande, segundo os dados do Plano Diretor de Transporte e Mobilidade Urbana, de 2015, o Aero Rancho tem pelo menos 45 mil habitantes. Mas ainda mantém relações típicas de vilarejos. “Todo mundo se conhece por nome. Por causa da minha profissão, além de nome, conheço até por endereço”, acrescenta.

O clima que marcou o início da primeira década no bairro deixou saudades, principalmente, para quem vivenciou um bairro “aberto” e hoje vê a força das grades nas fachadas. “Nada disso aqui tinha muro, as casas eram abertas, algumas, com lindos jardins na porta. Isso é o que mais me faz falta”, desabafa Oswaldo Rodrigues Moraes, de 71 anos, morador desde o ano de fundação no bairro.

Casa rosa de dona Juvelina se destaca. (Foto: Marina Pacheco)
Casa rosa de dona Juvelina se destaca. (Foto: Marina Pacheco)

A casa em que ele vive foi tomada pelo muro “grudado” a varanda, para impedir assaltos. “É o jeito que todo mundo arranjou de garantir segurança, mas se ainda fosse passado, escolheria o jardim”, diz.

O bairro é especial até para quem não vive mais nele, mas decidiu crescer ali com negócios. Rodrigo Battene, de 28 anos, é cabeleireiro, cresceu no bairro e hoje mora distante. Mas quando decidiu abrir o próprio salão, abandonou o comércio que tinha no Coophatrabalho por acreditar no crescimento da região onde nasceu. “O fluxo aqui é muito grande, cada vez mais promissor para o comerciante. Com essas lojinhas de R$ 15,00, os hospitais e os supermercados, a gente tem bons clientes no bairro”, explica.

Rodrigo cresceu brincando pelas ruas. Entre as principais lembranças está a lagoa que era formada na porta de casa com a chuvarada. “Minha mãe chegou a fazer uma foto minha e dos meus amigos brincando de pescar. Não tinha nenhum peixe, mas a gente brincava”.

Seu Oswaldo sente falta do jardim. (Foto: Marina Pacheco)
Seu Oswaldo sente falta do jardim. (Foto: Marina Pacheco)
Casas ganharam muros e grades para vizinhança "driblar" violência. (Foto: Marina Pacheco)
Casas ganharam muros e grades para vizinhança "driblar" violência. (Foto: Marina Pacheco)

A violência também ainda é presente na memória do comerciante. “Cansamos de encontrar gente dentro de casa assaltando”, recorda. Mas nada parece apagar a maior conquista que permeia a lembrança de quase todos os moradores: o asfalto. “Sem dúvidas a chegada do asfalto foi a maior comemoração. Aqui era só lama quando chovia”.

O asfalto também somou para o gerente Adailton Ribeiro, de 48 anos, que há 21 trabalha no mesmo supermercado, negócio que começou com 100 m² e hoje ultrapassa um mil m², na principal rua do bairro, a Rachel de Queiroz. “Quando a gente chegou no bairro boa parte dele era uma fazenda, mas os poucos vizinhos nos abraçaram, com o tempo a gente cresceu, mas graças ao asfalto tudo deu certo. Não só para o supermercado, mas para os comércios que dominaram a rua”.

Na visão de quem chegou há pouco tempo, o bairro tem seus encantos. “Aqui tem tudo, fica mais perto do trabalho e o acesso ao Centro é rápido”, diz o autônomo Wellingon Martins, de 32 anos, que se mudou há quatro meses para o bairro.

Adailton, um dos comerciantes antigos.
Adailton, um dos comerciantes antigos.

Entre as figuras antigas, dona Juvelina Celestino da Silva, de 70 anos, se destaca. Não só pela simpatia, mas pela tonalidade rosa da fachada de quem não perdeu o amor pelas cores em meio a alvenaria sem reboco e cinzenta que domina a rua. “Sou velha, mas não deixei de gostar de rosa”, justifica, olhando pela grade, a escolha da cor. “Pintei assim pra dar mais alegria, deixar a casa mais viva, né”.

Ela é uma das moradoras que, há 20 anos, mantinha um belo jardim na porta. “Hoje ainda tenho as plantas, mas o muro é necessário”, diz. Mesmo assim, ela jura que nada mudou na relação com vizinhos. “A gente ainda conversa com todo mundo, toma cafezinho e joga conversa fora”, finaliza.

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Avenida Rachel de Queiroz, principal do Aero Rancho. (Foto: Marina Pacheco)
Avenida Rachel de Queiroz, principal do Aero Rancho. (Foto: Marina Pacheco)
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