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Comportamento

Carnaval em boate sertaneja famosa distribui máscara com piada sobre alcoolismo

Piada com a doença do ator Fábio Assunção, que sofre há anos com a dependência química, gerou discussões sobre sensibilidade e limite do humor

Izabela Sanchez | 04/03/2019 10:30
Ao lado da máscara de Bolsonaro, a imagem do ator Fábio Assunção distribuída na Valley (Foto: Direto das Ruas)
Ao lado da máscara de Bolsonaro, a imagem do ator Fábio Assunção distribuída na Valley (Foto: Direto das Ruas)

O humor tem limites? Para muitas pessoas, tem sim, principalmente, quando causa dor ao outro. Neste ano, o Carnaval foi marcado por uma discussão em particular: a tentativa de conscientizar as pessoas de que usar uma máscara ou qualquer adereço com o rosto do ator Fábio Assunção não é engraçado.

A discussão ganhou espaço, em especial nas redes sociais, com celebridades tentando proteger o ator de humilhações. Fábio luta, há anos, contra a dependência química, em especial contra o alcoolismo.

Mas na noite de domingo (3), a boate Valley não só exibiu pessoas com a máscara, como distribuiu de graça o adereço. No Carnaval da casa noturna mais famosas de Campo Grande, a cara de Fábio Assunção já era distribuído na entrada, ao lado de máscaras do presidente Jair Bolsonaro (PSL). 

Uma rápida pesquisa no Google já mostra qual o tom dado ao assunto. Ao digitar o nome do ator, as três primeiras ideias que surgem associadas a ele são “meme”, “música” e “doidão”. A segunda, alias, contou com a generosidade do ator, que vai doar os direitos autorais da música que leva seu nome para uma associação que auxilia dependentes químicos.

A máscara distribuída na Valley não agradou todo mundo, e foi reprovada até por quem sempre frequenta a boate e resolveu enviar imagens para o Campo Grande News.A professora Thais Velloso, 26, esteve no local no domingo, mas achou a "brincadeira" sem graça. “A princípio, quando começaram a fazer essa brincadeira de mau gosto não vi problema, até ver o problema real do ator, que ele estava enfrentando uma batalha contra essa doença”, comenta.

“Aí tomei o lado dele, falei: ‘ué, está todo mundo zoando um cara doente?’ Fiz uma cara de reprovação total quando vi [a máscara]. Um lugar assim, renomado, apoiar esse tipo de atitude, que não é legal. Não gostei, achei que poderiam usar outras máscaras, inclusive, tinha do Bolsonaro. Achei desnecessário. Eu acho que acaba que eles não têm muita noção porque você usar uma imagem de alguém que está doente, eu reprovo essa atitude, até porque eles poderiam usar da fama deles para divulgar alguma coisa do bem”, disse.

Na Esplanada Ferroviária também teve gente com a máscara. (Foto: Direto das Ruas)
Na Esplanada Ferroviária também teve gente com a máscara. (Foto: Direto das Ruas)

Coordenadora de um dos espaços do Grupo Amor Exigente, em Campo Grande, que ajuda dependentes químicos e famílias, Tânia Cardozo da Cunha afirma que além de mostrar insensibilidade, o uso da máscara indica que as pessoas incentivam o abuso de álcool.

“Muitas pessoas se manifestaram através do Facebook do lado contrário da piada, é uma doença, a gente não deveria brincar com a desgraça alheia, e está incentivando as pessoas a serem como ele. Tem duas partes da moeda. As pessoas não têm uma consciência do que é essa brincadeira. A pessoa que distribuiu essa máscara não tem nenhuma informação sobre o alcoolismo, é uma brincadeira de mau gosto”, disse.

Tânia explica que lidar com a doença não é um sofrimento individual, mas social e que abrange todo o ambiente de quem luta contra a dependência química.

“É um sofrimento muito grande, a pessoa que está passando por essa situação não quer, é uma cosia que ela não consegue se libertar, o que a família mais quer é que ela seja feliz, e isso afeta a família. O grupo existe para ajudar essa família”, conta.

A reportagem tentou contato com um dos proprietários, por telefone, que não atendeu as ligações. Pelo número fixo da Valley Pub, funcionária garantiu que os responsáveis entrariam em contato, o que não ocorreu.

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