ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MARÇO, SEGUNDA  18    CAMPO GRANDE 27º

Comportamento

Desde 1976, Salomão toca padaria no Amambaí, depois de escapar de uma guerra

Ele veio do Líbano, refugiado, durante a guerra, e de Campo Grande não saiu mais

Thaís Pimenta | 19/09/2018 07:55
Salomão é, na verdade, Sleiman Khalil Salame, que veio do Líbano durante a guerra para o Brasil e aqui toca padaria desde 1976. (Foto: Kisie Ainoã)
Salomão é, na verdade, Sleiman Khalil Salame, que veio do Líbano durante a guerra para o Brasil e aqui toca padaria desde 1976. (Foto: Kisie Ainoã)

Desde 1976, Sleiman Khalil Salame é Salomão aqui no Brasil. Libanês, o empresário teve que partir da terra natal para fugir da guerra e ganhou endereço tranquilo no Bairro Amambaí. Não pensou duas vezes ao escolher Campo Grande depois que soube que seu tio morava por aqui.

"Quando eu cheguei só sabia falar bom dia, obrigada, bem vindo", lembra ele. Salomão foi trabalhar como atendente na padaria do tio, a Pão Gostoso, com muito pouco, e em 1983 abriu sua própria padoca na Rua 26 de Agosto, a Padaria Salomão. Em 1989 seu parente decide fechar a Pão Gostoso, e é quando ele escolhe voltar para o ponto onde tudo começou, só que dessa vez com outro nome. 

"Eu até queria que mantivesse o nome da meu tio, seria uma homenagem, ele que me ajudou tanto. Mas na época achei que compensava mais colocar Salomão, para atrair clientela. Mas, por outro lado, isso aqui sempre vai ser a Pão Gostoso, pra gente", comenta ele sobre o prédio de 62 anos.

Orgulho de sua origem, Líbano é lembrado em quadro na parede. (Foto: Kisie Ainoã)
Orgulho de sua origem, Líbano é lembrado em quadro na parede. (Foto: Kisie Ainoã)
Na simpatia, ele diz que escolheu com amor o ramo com o que trabalha. (Foto: Kisie Ainoã)
Na simpatia, ele diz que escolheu com amor o ramo com o que trabalha. (Foto: Kisie Ainoã)
Sonhos, pães especiais, salgados, tudo faz sucesso na padaria. (Foto: Kisie Ainoã)
Sonhos, pães especiais, salgados, tudo faz sucesso na padaria. (Foto: Kisie Ainoã)

A Salomão tem cheirinho de padaria gostosa, de bairro, com pão fresquinho saindo a todo momento. Isso independente do ponto em que esteja, já que há mais de 1 ano e 8 meses teve de transferir a padaria para um espaço na quadra acima, na Avenida Doutor João Rosa Pires, porque seus primos venderam o antigo ponto, quase na esquina com a Afonso Pena.

O espaço deixa claro que se trata de uma padaria de bairro, antiga, mas que ao mesmo tempo quer se atualizar para não deixar os clientes na mão. Salomão incluiu um espaço para venda de horti fruti depois que notou faltar mercados na região. ''Coloquei aqui frutas e verduras que os clientes sentem dificuldade de achar em outros lugares. Tenho cebola roxa, três tipos de tangerina, uva sem semente, kiwi, pimentão, melancia baby'', pontua ele.

Com o sangue do comércio pulsando nas veias por conta de sua família, que na cidade de Balbeque, no Líbano, construiu um forte nome dentro do mercado de vestimentas e aviamentos, ele entende que o segredo para estar no ramo, com sucesso, há tantos anos, é o atendimento. Sleiman faz questão de cumprimentar todos, e sabe de cor o nome das maioria dos clientes que entram na padaria.

Salomão e as funcionárias que já estão com ele há anos, com destaque para a filham Fabiane, que é a terceira ao lado direito do pai. (Foto: Kisie Ainoã)
Salomão e as funcionárias que já estão com ele há anos, com destaque para a filham Fabiane, que é a terceira ao lado direito do pai. (Foto: Kisie Ainoã)

''Eu recebo tanto carinho dos meus clientes que faço questão de retribuí-los, no atendimento, na atenção. Somos uma grande família, há estou aqui no bairro há 37 anos, vivi mais tempo aqui do que no Líbano, então tenho clientes que estão comigo por todo esse tempo''.

Sua relação com os 10 funcionários também é como de uma grande família, com padeiros e motoristas trabalhando na padaria há 21 anos, 30 anos, ou seja, a tempo suficiente para se criar um laço de amizade e confiança. Seus filhos também o ajudam, assim como sua esposa, o que ajuda a criar um clima ainda mais acolhedor no local.

Mesmo com grande frequência de usuários de drogas, que passam constantemente pedindo comida e dinheiro, Salomão é um dos poucos que consegue enxergar por trás da primeira imagem destas pessoas. ''Isso aqui é recente pra mim. Desde que a rodoviária antiga foi abandonada eles migram pelo bairro. Mas eu faço questão de dar comida, um salgado, um café, pra mim não custa nada. Eles já me salvaram de enrascada'', diz ele, sem comentar mais afundo a questão.

Padaria mantem traços das padocas de bairro, funcionando também como mercadinho. (Foto: Kisie Ainoã)
Padaria mantem traços das padocas de bairro, funcionando também como mercadinho. (Foto: Kisie Ainoã)

Além dos pães franceses, é difícil encontrar os pães especiais quando a noite cai na padaria. De acordo com uma das funcionárias, são os primeiros que saem, seja pão de leite ninho, pão de batata ou o pão italiano. Os salgados, que vão de R$ 2.50 até R$ 4.50 são repostos e somem das prateleiras. 

''O pessoal gosta da chipa grega, da peta, da chipa. E tenho tudo, enroladinho, coxinha, fatia de pzza, pastel frito na hora. Eu escolhi manter meu preço antigo, sem aumentar o valor, em respeito aos clientes mesmo. Como vendo muito consigo compensar'', finaliza seo Salomão, que tem nas massas folheadas os maiores preços, R$ 4,50.

Cueca virada, rocambole, cuca e uma broa salgada, feita de milho, com pedaços de calabresa, são também queridinhos dos clientes.

Passar na Salomão é notar que nos horários de pico fica até difícil atender tanta gente. ''É difícil falar quando a padaria está mais lotada. De manhã o pessoal toma café aqui mesmo. A tarde eles costumam levar pra casa os pães'', comenta a filha que ajuda o pai ali desde os 13 anos, Fabiane Ovando M. Fraga.

O simpático libanês sonha em expandir a padaria, aumentar a área coberta para poder atender mais pessoas. ''Quero deixar aberto a parte externa, para que possam enxergar melhor a padaria'', completa ele. Se depender da tradição, não vai demorar muito para que isso aconteça.

Curta o Lado B no Facebook e no Instagram.

Ponto onde tudo começou, com antiga Pão Gostoso.
Ponto onde tudo começou, com antiga Pão Gostoso.
Ponto em que padaria está há 1 ano e 8 meses.
Ponto em que padaria está há 1 ano e 8 meses.
Nos siga no Google Notícias