ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
JUNHO, DOMINGO  15    CAMPO GRANDE 25º

Comportamento

Doada ao nascer, Marcilene luta há 43 anos para conhecer suas origens

A mãe biológica, Enezita Lúcia dos Santos, entregou a filha logo após o nascimento e nunca mais apareceu

Por Clayton Neves | 12/03/2025 08:35
Doada ao nascer, Marcilene luta há 43 anos para conhecer suas origens
Marcinele, a criança à direita, ao lado dos pais e das irmãs de criação. (Foto: Arquivo Pessoal)

Por toda a infância, Marcilene Grance Arguelho nunca se sentiu diferente dentro de casa. Cresceu cercada de carinho, foi muito bem cuidada e sempre soube que fazia parte daquela família. Mas, ao mesmo tempo, algo dentro dela sempre questionava: de onde eu vim?

A resposta começou a tomar forma quando ela tinha apenas sete anos. "Eu era a única branca e loira no meio de um monte de paraguaios", lembra. A frase, dita de forma leve, esconde um sentimento profundo. Marcilene foi adotada logo após o nascimento e, desde então, tem tentado preencher lacunas da própria história.

O que ela sabe sobre sua origem vem de relatos de sua mãe adotiva, que faleceu há 11 anos. A história começou em novembro de 1981, na Santa Casa de Campo Grande, onde sua mãe biológica, Enezita Lúcia dos Santos, deu à luz e onde sua mãe de criação trabalhava na cozinha.

No hospital, uma coincidência do destino ligou duas mulheres que nunca mais se veriam. A filha da mãe de criação, Rosalina, estava internada devido a uma ameaça de aborto. No mesmo quarto, também estava a mãe biológica de Marcilene.

Durante a internação, Enezita confidenciou que não poderia ficar com o bebê que esperava. A jovem, de apenas 17 anos, era do Rio Grande do Sul e estava em Campo Grande para estudar na Faculdade Dom Bosco. Sem condições de criá-la, decidiu entregá-la para adoção.

Doada ao nascer, Marcilene luta há 43 anos para conhecer suas origens
Atualmente Marcilene mora em um sítio na cidade de Rio Verde. (Foto: Arquivo Pessoal)

Rosalina não pensou duas vezes: ligou para a mãe, que estava trabalhando na cozinha do hospital, e sugeriu que a família adotasse a bebê. A mulher subiu correndo e conversou com Enezita. Ali, no hospital, as duas acertaram a adoção indireta e definiram o destino de Marcilene.

Dias depois, Enezita e uma tia levaram o bebê recém-nascido até o bairro Santa Luzia, onde a família adotiva morava. A pequena estava enrolada em um pano da Santa Casa.

Antes de ir embora, a mãe biológica disse que voltaria em 15 dias para entregar um cheque e ajudar no enxoval da criança. Mas os dias passaram, viraram meses, anos… e ela nunca mais voltou.

O nome que daria à filha também se perdeu. "Minha mãe adotiva disse que ela pediu para colocar um nome em mim, mas era um nome complicado. Quando o carro virou a esquina, ela decidiu que colocaria o nome que quisesse, afinal, quem iria criar era ela", conta.

Junto com a bebê, a mulher deixou alguns documentos, e foi por meio desses papéis que, anos depois, Marcilene descobriu o nome de sua mãe biológica e do médico que fez seu parto, Dr. Salvador, da Santa Casa.

Doada ao nascer, Marcilene luta há 43 anos para conhecer suas origens
Marcilene na juventude. (Foto: Arquivo Pessoal)

Aos 18 anos, movida pela curiosidade, ela procurou a Santa Casa em busca de mais informações. A resposta foi um balde de água fria: só com ordem judicial os documentos poderiam ser liberados.

Na época, sua mãe adotiva ainda ficou incomodada com a busca. "Pareceu se sentir enciumada, e eu parei de procurar", lembra Marcilene.

Mas antes de falecer, a mulher que a criou fez um pedido: "Quando eu morrer, quero que você procure sua mãe. Ela não ficou com você porque não pôde", recomendou.

Com o tempo, a vontade de encontrar a mãe biológica voltou a crescer. Não por mágoa, nem para cobrar explicações. Marcilene não sente raiva. O que ela busca é entender sua origem, saber quem é seu pai, se tem irmãos, conhecer sua história.

Recentemente, encontrou uma mulher no interior de Santa Catarina com o mesmo nome e idade de sua mãe biológica. A única diferença era um sobrenome a mais, que poderia ser de casamento.

Doada ao nascer, Marcilene luta há 43 anos para conhecer suas origens
Pele branca e cabelos loiros diferenciavam Marcilene da família de criação. (Foto: Arquivo Pessoal)

O coração acelerou, a esperança aumentou. Mas a resposta foi dura: "Ela disse que não era minha mãe, que nunca veio a Campo Grande e pediu para que eu parasse de procurá-la", conta. O bloqueio veio logo depois, quando o marido de Marcilene tentou contato pelas redes sociais.

Hoje, aos 43 anos, ela segue com o mesmo desejo de sempre: encontrar suas raízes. "Se minha mãe não quiser ter contato comigo, faz parte. Ninguém é obrigado a nada. Mas gostaria de saber de onde eu sou, com quem me pareço", finaliza.

Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News.

Nos siga no Google Notícias