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Comportamento

Em casa com arte, Gisele viu maneira de aliviar até emoções represadas

Projeto pensado por Gisele França promove encontros que resgatam saberes populares e acolhem corpo e alma

Por Mylena Fraiha | 30/07/2025 08:34

Por trás das portas de vidro de uma casa no bairro Santa Fé, em Campo Grande, arte e afeto andam de mãos dadas. Entre lenços coloridos, batuques, tintas e passos de dança, a terapeuta Gisele França, de 62 anos, conduz um trabalho que vai além da escuta e da palavra. “A arteterapia é uma forma de expressar as emoções represadas".

RESUMO

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Em Campo Grande, a arteterapeuta Gisele França utiliza a arte como ferramenta terapêutica para promover o bem-estar. No Espaço de Arteterapia Santa Felicidade, criado em sua residência, ela conduz sessões individuais e em grupo, integrando dança, pintura, colagem e outras expressões artísticas para auxiliar no tratamento de traumas e emoções. O projeto Dança Brasil, realizado mensalmente, explora danças populares brasileiras como samba de roda, frevo e maracatu, proporcionando aos participantes uma experiência cultural e terapêutica. A iniciativa visa a integração entre gerações e o resgate da cultura popular, promovendo a saúde emocional através da arte. A próxima oficina, em 2 de agosto, abordará o Cavalo-Marinho, patrimônio cultural imaterial do Brasil.

Gisele é arteterapeuta, dançaterapeuta em formação e pesquisadora da cultura popular brasileira. Natural do Rio de Janeiro, viveu a juventude em Mato Grosso do Sul, formou-se em Artes na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e voltou para Campo Grande em 2021, após quase três décadas longe. Trouxe na bagagem não só pincéis e tecidos, mas uma filosofia de vida: “O que acontece fora, acontece dentro”, diz, citando Carl Jung, base teórica de sua prática.

No quintal da própria casa, criou o Espaço de Arteterapia Santa Felicidade, um refúgio criativo onde promove sessões individuais e encontros em grupo com foco no cuidado integral, do corpo, da mente e da alma.

Lá, conforme explica Gisele, dança e pintura não são apenas performance, mas ferramentas terapêuticas que ajudam a reconectar histórias partidas, emoções represadas e memórias esquecidas. “Às vezes, a pessoa chega dizendo: ‘Estou despedaçada’. Então a gente faz mosaico. Junta cacos, pedaços de papel, vidro, cerâmica… e vai montando algo novo. A arteterapia é isso: ajudar a pessoa a se reunir”, explica.

Nas vivências, ela propõe atividades com aquarela, colagem, argila, tecidos, dança e teatro. “Se o cliente quer controlar tudo, sugiro aquarela, que se espalha, escorre, foge do controle. É simbólico. O corpo também precisa se mover, sentir".

Para isso, criou o projeto Dança Brasil, que acontece mensalmente no espaço. Cada encontro traz uma dança popular brasileira, do samba de roda ao frevo, passando pelo maracatu, coco, cavalo-marinho e outras manifestações. Gisele compartilha o contexto histórico, os ritmos, figurinos e convida os participantes a explorar movimentos e sensações. Ao final, sempre há um momento de expressão plástica e escuta coletiva.

“O que ferve dentro de você?” foi a pergunta lançada na oficina sobre o frevo. A resposta, segundo ela, veio em forma de tinta, movimento e fala. “Pode ser amor, alegria, mas também raiva, frustração. A arteterapia provoca esse encontro com as emoções".

Em casa com arte, Gisele viu maneira de aliviar até emoções represadas
Gisele e Monique durante apresentação do Cavalo-Marinho, folguedo popular da Zona da Mata Norte de Pernambuco e da Paraíba (Foto: Arquivo pessoal).

Entre as participantes está Monique Merlone, de 68 anos, artista visual e professora de Arte, especializada em Educação Especial e Superdotação. Ela conheceu Gisele ainda na faculdade e, hoje, é aluna das vivências de arteterapia. “Sempre fui curiosa com essa abordagem, mas foi agora que pude vivenciar de fato. É uma delícia poder se expressar de várias formas: dançando, pintando, até fazendo teatro”, conta.

Na última oficina, ela interpretou o personagem Bastião, do Cavalo-Marinho, com direito a figurino, maquiagem e dança. “Tenho mobilidade reduzida por causa de uma cirurgia na coluna, mas ali consigo me soltar. Me sinto bem, leve, com vontade de viver".

Monique destaca que a experiência vai além do lúdico. “É saúde emocional. A gente lida com saudade, frustrações, mas também com alegria e criatividade. E isso faz muito bem. Dançar, rir, pintar... é terapêutico".

Ela vê na iniciativa um espaço de encontro entre gerações. “Sou a mais velha do grupo, mas aprendo com os jovens e eles comigo. E tudo com muito respeito e acolhimento".

Próxima oficina — A próxima oficina de arteterapia, marcada para 2 de agosto, irá abordar o Cavalo-Marinho, tradição da Zona da Mata Norte, entre Pernambuco e Paraíba, reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. “São até 76 personagens, uma riqueza imensa. Claro que em uma tarde não dá tempo de tudo, mas o essencial é sentir, brincar e deixar a arte falar”, diz Gisele.

Ela explica que costuma viajar pelo Brasil em busca de novas referências culturais para trazer aos encontros. Neste semestre, a oficina percorreu o Nordeste; no próximo, planeja conhecer as manifestações da região Norte. Seu foco é valorizar o que o Brasil tem de mais rico: sua gente, suas danças, seus ritmos, suas histórias.

Para conhecer mais sobre o trabalho do Santa Felicidade, basta acessar o Instagram oficial @santafelicidadebrasil.

Em casa com arte, Gisele viu maneira de aliviar até emoções represadas
Fachada da casa no bairro Santa Fé, em Campo Grande, onde funciona o projeto de arteterapia (Foto: Redes sociais).

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