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Comportamento

Evangélicos são todos iguais? Argumentos diferentes provam que não

Elverson Cardozo | 04/10/2014 07:22
Pregação de Marcos Feliciano na Igreja Assembléia de Deus, em Campo Grande. (Foto: Simão Nogueira/Arquivo)
Pregação de Marcos Feliciano na Igreja Assembléia de Deus, em Campo Grande. (Foto: Simão Nogueira/Arquivo)

Por que evangélicos que proferem a mesma fé - e às vezes até frequentam a mesma igreja - pensam de maneira tão diferente sobre a homossexualidade e adotam discursos antagônicos? Se a base religiosa é a mesma, o que justifica “cristãos tradicionais” acharem errado e anti-bíblico dois homens ou duas mulheres se relacionando, enquanto outros, ditos “modernos” ou “contemporâneos”, enxergam a união homoafetiva como algo completamente normal?

O advogado e life choach José Pissini Neto, de 27 anos, que frequenta desde os 6 anos a Igreja Adventista do Sétimo Dia, começa respondendo que as palavras “tradicionais” e “modernos” podem significar muita coisa e que as chamadas “diferença no discurso” acontecem em todo lugar. “Às vezes na política, num grupo de amigos e, às vezes, até mesmo na igreja”, argumenta, ao dizer que acredita no “discurso único”, que, para ele, é a Bíblia Sagrada.

Sobre a justificativa para o que chama de “diversidade de tratamento aos homossexuais”, ela acredita que isso seja algo difícil de justificar porque “todo cristão está em uma caminhada, buscando melhorar todos os dias”, e garante:

“Eu convivo em uma comunidade em que esse tipo de divergência não acontece. E acredito que o entendimento sobre o que a Bíblia diz sobre a homossexualidade no mundo evangélico é quase unânime”.

A divergência pode, de fato, não representar o comportamento da maioria dos evangélicos e nem ser, como diz o advogado, a realidade da Igreja Adventista do Sétimo Dia, na comunidade onde ele frequenta, mas ela existe e é visível.

Um exemplo recente, que representa isso e que inclusive ganhou repercussão internacional, é o da teóloga américa, comentarista de religião do canal BBC News e cantora de rock cristão Vicky Beeching. Em agosto deste ano, ela assumiu ser lésbica ao jornal britânico “The Independent”.

A artista guardou segredo até os 35 anos e só resolveu revelar depois de descobrir que tinha uma doença auto-imune grave, que causava lesões na pele e poderia levar à morte. “Essa é a metade da minha vida: não posso perder a outra”, afirmou.

Cantora de rock cristão Vicky Beeching saiu do armário em agosto e diz que quer ser parte de uma mudança na igreja. (Foto: Estadão)
Cantora de rock cristão Vicky Beeching saiu do armário em agosto e diz que quer ser parte de uma mudança na igreja. (Foto: Estadão)

A cantora, de acordo com o jornal, pode se tornar um figura chave na liberação do anglicanismo e também deve ser criticada pela sociedade na qual está inserida. Mas Vicky se mostrou forte e quer continuar seguindo o que acredita, apesar de ir contra o que muitos chamam de “preceitos bíblicos”. Ela tem uma visão diferente da maioria.

“O que Jesus me ensinou é uma mensagem radical de boas vindas, inclusão e amor. Eu tenho certeza de que Deus me ama do jeito que sou, e eu tenho um grande senso para comunicar isso aos jovens”, afirmou a cantora à publicação. Questionada pelo jornal sobre o porquê de não abandonar a fé que a considera má, ela respondeu: “É de partir o coração”.

Declarou ainda: “Os ensinamentos feitos pela igreja foram a razão pela qual eu vivi com tanta vergonha, isolamento e com a dor durante todos esses anos. Mas mais do que abandoná-la e dizer que ela está quebrada, eu quero ser parte de uma mudança”.

Vicky quer ser a mudança. Rogério Braulio Cebalho, de 34 anos, sem saída, se adaptou à mudança. Fiel da igreja El Shadai, o representante comercial se diz um “cristão moderno”, mas, no discurso, fica evidente a postura mais tradicional e ainda muito conservadora.

E ele não esconde isso, ao contrário. Rogério é um evangélico que acha que a homossexualidade é uma “força do mal” e que, portanto, a manifestação dos desejos homossexuais é fruto de um “contexto da natureza”, justificados por influências que podem vir do nascimento, da convivência com outras pessoas, da geração (de pai para filho) e até motivado por algum abuso sexual na infância. “Um monte de fatores que gera isso”, resume.

Mas, apesar de achar tudo isso, ele garante que não tem o direito de julgar ninguém. “Hoje eu vivo a atualidade. […] Você tem que amar, falar para ela o caminho, tentar mostrar o que é certo, mas a pessoa é livre para fazer a escolha que quiser. Respeito a visão de cada ser humano, mas eu acho que o homem tem que ter esposa, filhos e família. Essa é a maneira correta, só que no mundo de hoje, com as informações e a liberdade para o ser humano, mudou o contexto”.

O representante comercial diz que é uma “coluna do meio”. Não fala nem que sim e nem que não. Sobre evangélicos que pensam diferente a respeito do tema homossexualidade, ele desconversa, tenta fugir da pergunta, mas acaba apontando uma possível justificativa: “Vai da metodologia que ele está buscando na igreja. […] Tem o crente de banco...”

A opinião dele representa a da maioria? Evangélicos são todos iguais? "Com certeza não. O mundo evangélico é muito diversificado. Existem milhares e milhares de igrejas diferentes. Mais importante do que a posição de cada Igreja, é como cada cristão tem vivido de acordo com o seu grande modelo (Jesus Cristo), ou seja, uma vida de amor, respeito e compaixão ao próximo", deixa claro o advogado e life choach José Pissini Neto.

"A Bíblia declara que a intimidade sexual é apropriada unicamente no casamento, entre um homem e uma mulher. Este foi o desígnio estabelecido por ele na criação. Porém, a Bíblia também é clara em garantir a liberdade de cada ser humano viver como bem entender e também o dever de cada cristão não só de respeitar, como também de amar todas as pessoas, inclusive aquelas que pensam e vivem de forma diversa ao que a própria Biblia diz", conclui.

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