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Comportamento

Everton ganhou amigos por memes e sua memória agora está em playground

Ele conseguia animar tudo a sua volta, gostava fazer brincadeiras e foi apelidado de Brincanagem

Alana Portela | 13/07/2019 07:15
Cirene Alves mostra a foto que tirou ao lado do filho Everton Alves da Silva (Foto: Marina Pacheco)
Cirene Alves mostra a foto que tirou ao lado do filho Everton Alves da Silva (Foto: Marina Pacheco)

Não tem como não se emocionar ao falar de Everton Alves da Silva, um sonhador e brincalhão que partiu cedo, aos 30 anos, após um acidente de trânsito em Campo Grande. Tinha uma alegria que contagiava todos a sua volta, e não existia tempo ruim que tirasse aquele sorriso de orelha a orelha do seu rosto. É, a vida é assim, imprevisível. Mas, sua passagem na terra é eternizada no playground do Parque Jacques da Luz, que agora recebe seu nome.

“O playground era o local onde ele trabalhava”, disse a mãe, Cirene Alves que não contem as lágrimas ao falar de Everton. “Era um filho maravilhoso, um menino bom tanto para a família quanto para os outros. Perto dele, ninguém passava aperto. Era o caçula e foi uma pena ter ido embora tão cedo”.

Everton era guarda municipal e estava concluindo o curso de Educação Física. Sua rotina era corrida, precisava dar conta do trabalho que exigia disposição por 24h e ainda ter tempo para estudar e dar andamento ao TCC (Trabalho de Conclusão de Curso).

“Ele morava comigo, trabalhava um dia por 24h, depois folgava. Na parte da manhã, era liberado para ir à faculdade”, contou. Os dias costumavam ser assim, corridos e cansativos, mas Everton não desanimava e tinha muitos planos pela frente. “Queria abrir uma academia, montar uma escola e gostava na guarda”, relatou a mãe.

Cirene falou sobre como  o filho, que está na fotografia que segura nas mãos, era (Foto: Marina Pacheco)
Cirene falou sobre como o filho, que está na fotografia que segura nas mãos, era (Foto: Marina Pacheco)

As coisas pareciam dar certo, entretanto, no dia 28 de março ocorreu imprevisto no meio do caminho. Estava pilotando uma moto, tinha saído do trabalho e estava indo para a casa onde morava no bairro Universitário, quando cochilou na direção e bateu em uma árvore. A colisão causou a morte de "Brincanagem".

Não parecia verdade, não dava para acreditar que uma fatalidade havia acabado de acontecer. Talvez, aquele acúmulo de coisas não o deixou descansar da forma que devia. Se tivesse mais um pouquinho mais de tempo para relaxar, talvez aquele acidente não havia de ter acontecido. “A vida dele era uma correria, mas tinha a diversão. Às vezes, ele reclamava que estava cansado, mas que tinha de continuar”, recordou Cirene.

“Naquele dia, ele estava voltando para comer em casa e depois ia para a faculdade”, disse. “Dos momentos que guardo, tem ele chegando no portão de casa e me chamando”, lembrou a mãe aos prantos devido à perda recente.

Edenilson Alves era irmão mais velho de Everton (Foto: Marina Pacheco)
Edenilson Alves era irmão mais velho de Everton (Foto: Marina Pacheco)

O irmão, Edenilson Alves é montador de móveis e relatou que "Brincanagem" não abusava da velocidade no trânsito. “Várias vezes passava por ele o chamava de tartaruga”. Uma prova de que Everton não estaria em alta velocidade seria o estrago da moto. “Amassou só um pouquinho o tanque, farol e retrovisor. Não dá para acreditar. Se estivesse correndo, a moto estaria destruída”.

Edenilson era apegado à Everton, pois foi quem deu o nome do irmão e o cuidou nos primeiros 15 dias de vida. “O nome dele era por conta de um jogador que tinha no Atlético Mineiro que depois foi transferido para o Corinthians. Na época eu tinha 15 anos. Everton nasceu em maio, e em novembro do mesmo ano tive um filho. Os dois foram companheiros inseparáveis”.

Entre as lembranças que tem de "Brincanagem", recordou de quando levava almoço para o irmão no serviço, no parque Jacques da Luz. O irmão deixou sua alegria e a essência de uma pessoa verdadeira e amável. “Nunca o vi brigar ou discutir. Você convive com a pessoa, mas não sabe como ela é fora de casa, e ele era sensacional. A Guarda Municipal prestou homenagens no velório”, disse.

Julio Alves Neto sente saudade do primo Everton (Foto: Marina Pacheco)
Julio Alves Neto sente saudade do primo Everton (Foto: Marina Pacheco)
Higor Soares Bandeiras Alves lembra das coisas que fazia com o tio Everton (Foto: Marina Pacheco)
Higor Soares Bandeiras Alves lembra das coisas que fazia com o tio Everton (Foto: Marina Pacheco)
Everton Alves da Silva gostava de tirar selfie (Foto: Arquivo pessoal)
Everton Alves da Silva gostava de tirar selfie (Foto: Arquivo pessoal)

O brincalhão - Everton era brincalhão e gostava de compartilhar memes em seu Facebook. Ao entrar na conta, é possível ver os comentários e reações dos seus amigos. “Era só alegria, desde criança. Chegava para animar, levantava da cadeira e já mostrava alguma coisa do celular. O rei dos memes e da tecnologia”, afirmou Edenilson.

Hoje a saudade aperta até mesmo o coração do sobrinho Higor Soares Bandeira Alves, 16 anos, que faz questão de lembrar-se dos momentos que viveu ao lado do tiozão. “Era incrível. Eu falava que queria ter um quarto igual o dele, pois desde pequeno quando entrava lá, via o vídeo game, computador e até me ensinou a mexer. Era um irmão mais velho, me ajudava”, contou.

“Jogávamos bola, brincava comigo quando era pequeno. Zoava bastante. Quando falaram [do falecimento] não acreditei”, falou. Como forma de amenizar a dor da perda, Higor está organizando seu quarto, como comentava ao tio. “Faço o que falei pra ele, vou montar um quarto igual o dele. Já tenho computador e vídeo game”.

Wellington Castro era amigo de infância de Everton (Foto: Marina Pacheco)
Wellington Castro era amigo de infância de Everton (Foto: Marina Pacheco)

Companheirismo - Everton era querido por todos, e quando falam em seu nome, muitos têm histórias se manifestam. Até seu primo Júlio Alves Neto, 28 anos, quis recordar os momentos que viveu ao seu lado. “Me zoava muito, gostava de me assustar. Era o tempo todo ouvindo música, vendo animes. Me ensinou tudo e fazíamos as coisas juntos”, disse.

Júlio é cadeirante, nasceu prematuro com cinco meses, e "Brincanagem" gostava de cuidá-lo. Como mora na quadra debaixo, sempre que estava de folga do serviço, passava para buscá-lo. “Hoje faço as mesmas coisas que fazíamos juntos, o problema é que não tenho mais com quem conversar”.

Além das memórias, "Brincanagem" também deixou seu cachorro Joselito e o gato Oiorus, que continuam fazendo a alegria das pessoas que entram na casa onde morava com sua mãe.

O cachorro Joselito ao lado de Cirene (Foto: Marina Pacheco)
O cachorro Joselito ao lado de Cirene (Foto: Marina Pacheco)

Ficava sempre com ele, me zoava muito, me assustava era o tempo todo brincadeira, escutando música, vendo animes. Assistia Cavaleiros, quando estava de folga eu vinha pra cá, me buscava em casa. É difícil porque ele foi o cara que me ensinou tudo, escutar música, fazíamos tudo junto. Faço as mesmas coisas, mas o duro é que não tenho mais com quem conversar, a gente era próximo.

O bombeiro, Wellington Castro chegou durante a entrevista com a família e também falou sobre os momentos que viveu ao lado do seu melhor. Eram companheiros de infância. “Tínhamos uma cumplicidade. O apelidado "Brincanagem" era uma sátira dele, pois foi ele quem deu esse apelido. Usava esse termo quando éramos crianças”. “Acho que a homenagem é justa, um espaço para brincadeiras, crianças. Ele tinha esse hábito de se divertir”.

A mãe se emociona, o irmão mostra o orgulho, o sobrinho tem admiração, ao primo um irmão de outra mãe, e ao amigo o homem honesto e brincalhão. É assim que preferem lembrar de um homem que gostava de viver e de estar com a família e amigos.

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O playground tem brinquedos para as crianças se divertirem(Foto: Kisie Ainoã)
O playground tem brinquedos para as crianças se divertirem(Foto: Kisie Ainoã)
As crianças brincam na gangorra no Parque Jacques da Luz (Foto: Kisie Ainoã)
As crianças brincam na gangorra no Parque Jacques da Luz (Foto: Kisie Ainoã)
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