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Comportamento

Figura no bairro, Petronilha não para e faz até a própria calçada aos 70 anos

Paula Maciulevicius | 16/02/2017 07:40
Senhorinha está fazendo a própria calçada nas "horas vagas" para não ter mato crescendo na lateral de casa. (Foto: Alcides Neto)
Senhorinha está fazendo a própria calçada nas "horas vagas" para não ter mato crescendo na lateral de casa. (Foto: Alcides Neto)

Não tem quem não conheça dona Petronilha na região do Jardim Itatiaia, próximo à lagoa, no bairro Tiradentes, em Campo Grande. Se não fosse pelo carrinho de reciclagem que ela empurra pra baixo e pra cima, seria pela calçada que ela mesma está fazendo. Nas "horas vagas", a senhorinha mistura o cimento e assenta para que o mato não tome conta da calçada lateral de casa.

Na mesma casa desde 1977, quando a gente se perde na numeração e pergunta aos vizinhos, todo mundo indica onde mora a senhorinha. Sem campainha, é na bateção de palmas que ela atende ao portão. No nosso caso, não teve resposta imediata e só depois de ouvir alguém remexendo entre entulhos, que a gente percebe que ela está lá fora. "Ô minha filha, eu estava tomando banho", se desculpa. Como se precisasse... 

Petronilha é dona de uma bagunça organizada. O quintal de casa é lotado de reciclados, mas todos devidamente agrupados: papel de um lado, latinha, ferro e plástico de outro. Só o que acabou de voltar da última andada que não fora separado ainda.

Não tem quem não conheça a figura em volta da lagoa. (Foto: Alcides Neto)
Não tem quem não conheça a figura em volta da lagoa. (Foto: Alcides Neto)
Quintal da dona Petronilha é assim, mas recicláveis ficam organizadinhos. (Foto: Alcides Neto)
Quintal da dona Petronilha é assim, mas recicláveis ficam organizadinhos. (Foto: Alcides Neto)

"Sabe como é, o pai da gente mandou trabalhar, então tem que trabalhar", se justifica Petronilha Pereira da Silva, quase nos 70 anos. Nascida em Camapuã, os pais eram baianos e ela herdou como ensinamento 'mor' que deveria trabalhar e para sempre. Apesar de ser aposentada, é na reciclagem que ela é feliz.

"Eu sempre fui feliz de mexer com isso. Os freguês é bom, vem aqui, compra, leva tudo e paga direitinho. Depois eu limpo, carrego mais e torno a por aí", conta sobre a rotina. Petronilha diz que "anda esse mundo inteiro" e sai do CCI (Centro de Convivência do Idoso) Vovó Ziza com carrinho, passando pela escola, onde a diretora sempre deixa reciclados para ela. 

"E o que eu gosto de fazer? Tudo quanto há, tudo que há de bom", cantarola. De óculos, chapeuzinho e camisa de manga comprida, a senhorinha diz que se protege do sol todo dia, há mais de 30 anos.

E quando calçada ficar pronta, a gente vai lá conferir. (Foto: Alcides Neto)
E quando calçada ficar pronta, a gente vai lá conferir. (Foto: Alcides Neto)

Foi com o marido, que era pedreiro, que ela aprendeu a fazer calçada e ri quando a gente pergunta por que está a fazer tal coisa nas "horas vagas".

"Todo dia me filmam. Estava cheio de mato, primeiro eu capinei no fim do ano e depois comecei a fazer a carçada porque tem que fazer uai", responde aos risos.

O mato que cresce onde não tem cimento incomoda mais à senhorinha porque ela precisa pagar alguém, ver um serviço malfeito e ainda assim ter de aceitar. "Agora não mais. Então eu vou comprando material devagarzinho e fazendo".

Depois que o marido pedreiro morreu, ela diz que nunca mais achou homem que prestasse. "Que trabalhe, seja honesto e faça calçada? Hoje em dia não tem não. É tudo drogado e ladrão. Então, para a gente pegar este troço e por dentro de casa? É melhor ficar com Deus", dá o recado.

Assim que a calçada ficar pronta, ela disse que vai chamar a gente para comemorar.

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"Depois que o marido pedreiro morreu, ela diz que nunca mais achou homem que prestasse. "Que trabalhe, seja honesto e faça calçada? Hoje em dia não tem não", brinca.
"Depois que o marido pedreiro morreu, ela diz que nunca mais achou homem que prestasse. "Que trabalhe, seja honesto e faça calçada? Hoje em dia não tem não", brinca.
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