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Comportamento

Floriza mantém temperos e plantas na porta de casa após sobreviver a acidente

Além das plantas medicinais, dona Floriza mantém flores e mudinhas que são doadas quando alguém precisa.

Thailla Torres | 16/02/2019 07:26
Com sorrido de quem enxerga o valor da plantas, ela mantém jardim na porta de casa. (Foto: Thailla Torres)
Com sorrido de quem enxerga o valor da plantas, ela mantém jardim na porta de casa. (Foto: Thailla Torres)

Todo dia é a mesma cena. Floriza levanta, toma o café e sai no quintal para conversar com as plantas. O “bom dia” principal é na calçada de casa, onde mantém um jardim com temperos, plantas medicinais e flores, para o bem da família e até dos vizinhos. Um exercício diário que se tornou terapia e agradecimento pela vida.

Aos 70 anos, Floriza Oliveira Rodrigues sobreviveu a um grave acidente de trânsito ocorrido em 2017, na MS-080, saída para Rochedo. O dia havia amanhecido normal naquele dia quando ela e o marido deixaram a chácara para fazer compras no Centro de Campo Grande. Recorda-se sempre dos detalhes daquele dia.

“Meu marido veio cedo e minha neta Gabriela que dirige me trouxe. Mais tarde ela o levou para cortar o cabelo, fizemos as compramos e quando deu 17h30 nós saímos daqui. Quando passamos o Clube do Laço, onde tem uma subida, uma caminhonete que vinha no sentido contrário desviou do trator que entrou na estrada sem luz, e veio de frente com a gente. Ficamos presos nas ferragens, a sorte é que estávamos de cinto”, detalha.

Plantas e temperos ajudam a família e aos vizinhos. (Foto: Thailla Torres)
Plantas e temperos ajudam a família e aos vizinhos. (Foto: Thailla Torres)

Floriza perdeu a memória daquele instante, mas a família lembra bem o que aconteceu depois que ela e o marido foram socorridos. “Me contaram tudo. Quando eu entrei no hospital tive derrame, uma perfuração nas tripas, meu rosto é cirurgia plástica e ainda quebrei o braço”.

Foram três dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e cerca de 15 hospitalizada. O marido permaneceu 20 dias dentro do hospital após graves fraturas no corpo. Hoje, morando no Jardim Seminário, ela refaz a cena do acidente na cabeça para agradecer a sobrevivência. “Eu falo que Deus permitiu que isso acontece para que a gente dê mais valor à vida, as amizades, porque a gente não sabe agradecer”, diz.

Cozinheira desde à juventude e apaixonada por plantas, Floriza diz que nunca deixou de trabalhar e, por isso, o acidente trouxe um ócio que ele não foi capaz de se acostumar. “Quando deu um mês e meio parados em casa, eu comecei a olhar o capim alto na minha porta de casa e não podia fazer nada. Com meu marido deitado se recuperando e minha neta de olho em mim, eu pensava que podia fazer algum. Um dia, não tinha ninguém me olhando, peguei a enxada e fui tirar o capim”.

De hortelã à cebolinha, ela planta de tudo. (Foto: Thailla Torres)
De hortelã à cebolinha, ela planta de tudo. (Foto: Thailla Torres)
Boldo não falta entre os cercadinhos. (Foto: Thailla Torres)
Boldo não falta entre os cercadinhos. (Foto: Thailla Torres)

A neta chegou e Floriza não contou que havia feito o serviço. “Meu marido a chamou no canto e contou, não adiantou nada. Mas eu não podia deixar tudo na terra, senão ia nascer capim de novo, decidi plantar remédio aqui na frente”.

A “farmácia natural” de Floriza é composta por açafrão, capim cidreira, hortelã, coentro japonês, alfavaca, boldo, manjericão e orégano. Plantas que são colhidas para chás e temperos da família, mas também doados aos vizinhos ou quem bate palmas na casa pedindo uma mudinha. “Eu dou sem problemas. Muita gente me pede muda, eu faço. Devia ter plantado mais, o espaço ficou pequeno”, diz mostrando o jardim que ganhou cercado de madeira azul.

O cuidado especial que talvez alguns não enxerguem é vivido por Floriza como um recomeço. “Virou uma terapia, um jeito da gente se recuperar”, diz a moradora que ainda aguarda decisão na justiça sobre o acidente e ainda não consegue trabalhar. “Os médicos deram pelo menos dois anos para meu marido estar bom novamente”.

Floriza diz que não deixa uma planta se quer morrer. “Tem planta aqui dentro que eu achei no lixo e se alguém me doar eu pego, a plantão não tem culpa de nada”.

Com um olhar que enxerga o valor de cada tempero, ela também reconhece o cuidado dos vizinhos. “Ninguém estraga e quando eu preciso sair, minha vizinha ainda vem regar as plantinhas”, diz agradecida.

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