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Comportamento

Igreja evangélica com pastora trans quer acolher público LGBTQIA+

Espaço, localizado na região central, foi inaugurado neste fim de semana em Campo Grande

Aletheya Alves | 14/03/2022 07:04
Pastora Luana Dhara Arruda Ferreira é líder da Igreja Evangélica Inclusiva Sou Casa na Capital. (Foto: Aletheya Alves)
Pastora Luana Dhara Arruda Ferreira é líder da Igreja Evangélica Inclusiva Sou Casa na Capital. (Foto: Aletheya Alves)

“É uma igreja normal, tem louvor, oferta, ministração e oração. O único diferencial é aceitar todo mundo”. Liderando a Igreja Evangélica Inclusiva Sou Casa, a pastora Luana Dhara Arruda Ferreira resume que o espaço, inaugurado neste fim de semana, veio para acolher e levar a Palavra ao público LGBTQIA+ na Capital.

Localizada na Rua Maracaju, a igreja recebeu cerca de 30 pessoas durante a noite de sábado (12) para seu primeiro culto oficial e, com a pastora transexual à frente, foi inaugurada. Assim como Luana apontou, a decoração da igreja e seus ritos se assemelham aos de uma igreja convencional, tendo como diferença essencial o acolhimento daqueles que costumam ser rejeitados pela tradição.

Contrastando com as três paredes brancas, a área do altar foi pintada de preto e recebeu uma cruz iluminada ao centro. Já em cima do espaço, um púlpito de madeira foi alocado para receber a pastora ao lado do grupo de louvor.

Placas decorativas em uma das paredes da igreja. (Foto: Aletheya Alves)
Placas decorativas em uma das paredes da igreja. (Foto: Aletheya Alves)

Do começo ao fim, canções preencheram o tempo do culto em conjunto com as pregações. Nos momentos de fala, as argumentações seguiram a linha de agradecimento, confiança e obediência a Deus, com alguns comentários entrelaçados sobre como o público que estava ali não era rejeitado por Ele, mas amado como todas as outras pessoas.

Até chegar à inauguração, Luana conta que muita coisa aconteceu para que a instituição da igreja fosse efetivada. Antes de chegar a Campo Grande, outras sedes do espaço foram inauguradas em Três Lagoas e Dourados, por isso, a pastora foi convidada pela bispa para também se tornar uma liderança.

Foram seis meses orando, até que no dia 23 de junho do ano passado, nós começamos uma célula. Trabalhamos, convidamos pessoas e agora, inauguramos a igreja oficialmente, diz.

Em 2019, Luana contou ao Lado B sobre sua história até enxergar a própria sexualidade. Na época, ela detalhou que mesmo durante tempos difíceis, nunca havia deixado de crer na religião e que seu sonho era um dia se tornar pastora.

Pensando sobre as próprias dificuldades vividas em ambientes religiosos, ela diz que a diversidade sexual não costuma ser acolhida e, por isso, o principal objetivo da igreja é criar um ambiente seguro. “A gente quer amar as pessoas como elas são e isso é o mais importante. No futuro, queremos abrir a igreja em outros bairros, mas existe uma luta para conseguirmos estabelecer a igreja. Querendo ou não, há uma resistência para essa aproximação.”

De acordo com a organização da igreja, o espaço não é dedicado exclusivamente ao público LGBTQIA+. Por isso, pessoas heterossexuais também apoiam a causa e se integraram aos cultos.

Culto inaugural contou com mais de 30 pessoas. (Foto: Leonardo Almeida)
Culto inaugural contou com mais de 30 pessoas. (Foto: Leonardo Almeida)

Sem se esconder

Integrante da igreja, o arquiteto Julio Cesar Barão, de 56 anos, explica que já frequentou outras igrejas inclusivas fora da Capital, mas na cidade, essa é a primeira que declara abertamente suas bandeiras. “É importante, porque você vai cultuar num lugar em que você está sendo acolhido e de uma forma que Deus te vê do jeito que você é. Você não precisa se esconder, pode ser honesto”, conta.

Julio defende que muitas das acusações feitas por igrejas tradicionais surgem a partir de traduções feitas na Bíblia no decorrer da história e que este é um ponto necessário de ser discutido. “Até porque se o que dizem ser errado, você ter um relacionamento com outra pessoa do mesmo sexo, se fosse tão grave assim, Deus não faria tantas maravilhas na minha vida como tem feito.”

Também argumentando sobre a importância de existir igrejas que não escondam a diversidade, o pastor Lincio Júnior Assunção Nogueira, de 36 anos, conta que ele mesmo sofreu por anos. “Eu lutei com essa questão do que se coloca como libertação. Eu chorava, era depressivo, jejuava por semanas e eu via que não era uma escolha minha ainda que a igreja trouxesse isso muito à tona”, explica.

Para Lincio, a instituição da igreja também em Campo Grande significa que, assim como aconteceu com ele, as pessoas consigam se manter em contato com a religião sem se sentirem recusados.

Mais informações sobre os cultos podem ser obtidas no perfil @igrejasoucasa.campogrande no Instagram.

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