ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MAIO, TERÇA  07    CAMPO GRANDE 23º

Comportamento

Índio com nome de branco, branco com nome de índio e Pink Floyd na aldeia

Lenilde Ramos | 12/10/2014 07:57
Lenilde com com o cacique guarany kaiowá da aldeia Jaguapyru. (Foto: Angela Finger)
Lenilde com com o cacique guarany kaiowá da aldeia Jaguapyru. (Foto: Angela Finger)

"Depois de exterminada a última nação indígena" vai sobrar o quê? Lembranças? A verdade criminosa é que vivemos o genocídio das nações indígenas e MS é o carro chefe desse episódio macabro. Quando pequena, conheci os Guaicuru da Bodoquena e os Terena, de Aquidauana e Miranda.

Uma vez, assisti no colégio uma banda de música de Xavantes do Norte do Mato Grosso. Foi curioso vê-los de camisa branca imaculada, calça de casimira azul, cabelos longos e... descalços. Tocavam trombone, trompete, clarinete, mas se recusavam a por sapatos. Também fazíamos campanhas pelas missões indígenas e "batizávamos" crianças Bororo e Xavante com nomes de artistas de cinema.

Fui crescendo e tentei me redimir colocando nomes tupis guaranis nos meus filhos: Uirá Ramos (pássaro), Arany Metello (guerreiro) e Aruã (pacífico). Em 1980, no Congresso Indígena do MS, conheci o Xavante Juruna e o Guarani Marçal de Souza e o ciclo se refez. Foi Marçal que deu nome ao meu filho Arany.

Sempre gostei de ter índias terenas me auxiliando em casa. Uma delas, da Aldeia Cachoeirinha, nunca chamava meus meninos pelo nome. Perguntei por quê e ela disse: "As pessoas não vão tratar eles mal?". Perguntei como se chamavam seus filhos e ela foi dizendo: "Cleidson, Jefferson...".

Tive a honra de ouvir o célebre discurso de Marçal de Souza no Teatro Glauce Rocha, chamando seus irmãos à luta contra o genocídio que começou nos tempos coloniais das Entradas e Bandeiras. Os homens brancos se preocupam mais em saber sobre Teoria da Relatividade do que entender a dinâmica da cultura indígena, o "timming" diverso que rege o universo deles.

Na década de 1990 trabalhei na produtora de vídeo da Missão Salesiana. Documentei as aldeias do Norte e ficava sem fôlego com a beleza dos magníficos Xavante. Saí da aldeia, extasiada com o canto e a dança deles, mas uma oca me chamou a atenção pela antena parabólica e a sonoridade familiar que saía ali de dentro. Ralentei o passo e apurei os ouvidos. Era Pink Floyd!

Nos siga no Google Notícias