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Comportamento

Motéis reclamam de mudanças nos hábitos; será o fim da era do espelho no teto?

Adriano Fernandes | 23/02/2016 06:23
No inicio do ano motel ganhou as cores da diversidade mas deve fechar até o dia dos namorados. (Foto: Fernando Antunes)
No inicio do ano motel ganhou as cores da diversidade mas deve fechar até o dia dos namorados. (Foto: Fernando Antunes)

Ponto das fugidinhas amorosas, os motéis sempre foram sinônimos dos rompantes mais “calientes” e sigilosos entre os casais. Mas em tempos onde os hábitos sexuais e o próprio sexo já não é tabu, o que mudou nessa ramo do comércio?

O Lado B pesquisou entre os motéis mais antigos da cidade e descobriu que este tipo de negócio já não faz tanto sucesso. A visibilidade gay até tornou a procura mais variada, aumentando o movimento, mas já ficou no passado o tempo de ouro das casas dos famosos letreiros luminosos.

Quarto indiano no Stillu´s Motel. (Foto: Divulgação)
Quarto indiano no Stillu´s Motel. (Foto: Divulgação)

Tem até motel que fala em fechar no próximo Dia dos Namorados, para virar moradia para estudantes. É o que prevê a simpática dona Nilse Saito, dona do motel Seq Sabe, na Avenida Euler de Azevedo. Com a experiência de quem há 33 anos trabalha no ramo, ela conta que o segmento perdeu a utilidade.

“Não é mais necessário! Hoje em dia os pais, por exemplo, são mais liberais quanto aos hábitos sexuais dos filhos e até aceitam que eles se relacionem dentro de casa”, comenta. O público jovem é justamente o que menos frequenta o local, desde quando foi inaugurado, em 1982.

Mas parece que as mudanças ficam por aí. Quem frequenta, costuma repetir comportamentos que são velhos conhecidos. “A procura dos jovens sempre foi muito pequena, mas hoje é raro. Desde que o Seq Sabe foi aberto até hoje, o movimento é maior entre os 'senhores e senhoritas', fugindo da rotina do casamento”, ela brinca.

Em janeiro deste ano, como parte de uma reforma geral no motel, toda a fachada do imóvel foi pintada nas cores da diversidade, mas não adiantou. O movimento continua minguando.

Agora, dona Nilse jura que pensa em encerrar as atividades até o próximo dia 12 de junho, para que o imóvel vire quartos de aluguel para estudantes, semelhante ao que ocorreu com o antigo "Motel Verônica" na Vila Ipiranga.

A data escolhida para o fechamento é simbólica. “Foi no Dia dos Namorados que o Seq Sabe foi inaugurado e esta é a data escolhida para fechamento e talvez alugar o espaço para os estudantes. Só me resta saber se vou ter coragem de fechar o motel depois destes 33 anos”, comenta, sem convencer muito.

Quarto Country no Stillu´s Motel. (Foto: Divulgação)
Quarto Country no Stillu´s Motel. (Foto: Divulgação)

Já no Bairro Nova Lima, outro velho de guerra resiste graças à clientela fiel. Inaugurado em 1978, o atual proprietário do “Motel Tudo Bem”, Oscar Mishima, também reclama da queda no movimento. Mas a tradição de frequentadores no local, que passou de uma geração para a outra, ainda é um alento.

“Tem clientes de família em que o avô já frequentava o motel, em seguida veio o pai e agora, o filho. A terceira, geração da família”, comemora. Mas o perfil dos clientes ele conta que foi variando a cada década.

“Até os anos 90, quem mais frequentavam eram os homens, que queriam sair da rotina com a amante, ou uma garotas de programa. Daí em diante até os anos 2000, foram as mulheres quem aprenderam a frequentar o motel com os ´garotões`. Atualmente o movimento é misto. Casais héteros, gays que querem quebrar a rotina do estress do dia-a-dia”, comenta.

Ainda segundo Oscar, o público mais humilde também representa boa parcela dos clientes de “momento” no motel. “Frequentam o motel desde o vendedor de loja ao entregador de gás”.

A crise econômica também diminuiu o movimento nos últimos 4 meses no temático "Stillu´s Motel" na Vila Popular. Por cinco anos, depois que foi inaugurado no ano de 1999, o motel manteve os ares de local tradicional: cama redonda, espelho no teto e banheira.

Mas investir na decoração foi a forma que a administração do local encontrou para agradar novos públicos. Hoje em dia, o local tem quarto temático grego, pantaneiro e até indiano. Com tanta irreverência o público mais jovem é que passou a frequentar o local. “Durante o dia, o movimento é modesto e a maioria de pessoas mais velhas. Já a noite, são os mais jovens que procuram o local por que gostam da temática dos quartos”, ele conta.

Um pouco mais “jovem” que os outros citados na matéria, o motel "Gruta do Amor" tem três endereços em Campo Grande. Ele foi inaugurado em 2001, mas a proprietária das unidades, a empresária Nádia Peralta se queixa que o movimento caiu em até 40% no último ano.

De situações engraçadas que ela presenciou nesse período, teve até cliente querendo entrar sem pagar dentro do porta-malas, uma tática que não é luxo só de tempo de crise mundial.

Na rotina dela, poucas coisas mudaram em relação ao sexo entre os frequentadores de motéis. “Perdi a conta de quantas vezes a esposa pegou o marido em flagrante no motel”, ri.

O aumento da procura do público LGBT é a luz no fim do túnel. “Nos últimos 4 anos a demandas de casais homossexuais só cresceu. Atualmente a média de frequentadores é semelhante ao de casais heterossexuais”, avalia.

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O Motel Gruta do Amor tem três unidades em Campo Grande. Uma na Euler de Azevedo, próximo ao Seq Sabe. (Foto: Fernando Antunes)
O Motel Gruta do Amor tem três unidades em Campo Grande. Uma na Euler de Azevedo, próximo ao Seq Sabe. (Foto: Fernando Antunes)
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