No asilo, são as crianças grandes que pedem presentes ao Papai Noel
Eles têm pelo menos seis vezes a idade dos pequenos que esperam presente no dia 25 e nem assim, deixaram de acreditar em Papai Noel. Na velhice, eles voltaram a ser criança, mas com a simplicidade de dizer que o que vier do bom velhinho já está bom.
A coordenadora de cuidadores, Dejanira Ranchil, é quem nos apresenta aos vôzinhos do Asilo São João Bosco, como ‘enviados’ do Papai Noel. Neste Natal, são 100 idosos esperando presentes que vão além dos materiais. Atenção, carinho, a visita de familiares e um sorriso. Mesmo que eles não enxerguem ou não ouçam como antes, o coração ainda sente.
“Esta é a Paula, a Paulinha, sabe por quem ela foi enviada aqui? Pelo Papai Noel... É que ele quer saber o que a Amélia quer ganhar de Natal”. O jeito como Dejanira fala é o mesmo modo como se contasse a história a uma criança. Talvez a velhice seja isso. Poder brincar com a vida novamente.
Amélia faz uma cara de quem não acredita que o Papai Noel pudesse fazer isso. Aos 76 anos, Amélia Pereira da Silva, pede uma colcha para forrar a cama no dia de Natal. A cuidadora diz que isso ela mesma já se encarregou de arranjar. “Pode pedir outra coisa Amélia, esse eu já vou te dar”.
Ela retoma. “Então, de Papai Noel eu quero tudo de bom na minha vida. Saúde, paz e se eu merecer um presente, que ele traga pra mim uma blusa vermelha pra eu usar com a minha saia preta”. Como enviada do Papai Noel, é preciso colher todos os dados certinhos. Amélia veste tamanho GG.
Ao lado, José Sebastião de Brito, não tem tanta idade assim, mas é um dos moradores do asilo. Aos 63 anos, ele pede um rádio para tocar fitas, porque o que já tem, quebrou. “Sou apaixonado por música”, diz. É bem humorado, um jeito meio carioca de ser e falar.
O asilo tem histórias de vida de quem já foi e voltou a ser criança. De quem já empinou pipa, brincou de boneca, trabalhou, casou, teve filhos e sem que querer, pelo destino, parou ali.
Claudinho hoje é cego. No passado tocou nos bares de Campo Grande e o desejo maior é que Papai Noel lhe presenteie com um violão. Os dedos, ele garante que continuam os mesmos.
“Quero voltar a tocar violão, um modelo Giannini, e tocar Felicidad”, diz cantarolando a polca. Não que Papai Noel não saiba, mas eu precisava anotar, Claudinho, chama Cláudio Vilhalba e tem 73 anos.
Deitada na cama como uma criança, Rosinha estava encolhidinha, coberta por um lençol. Dizia estar se sentindo mal, mas foi só engatar a conversa que ela logo se levantou. Enxerga pouco e nem por isso deixou ser fotografada sem antes pentear o cabelo.
Até o jeitinho de falar é de menina. Voz fininha e usando as palavras na forma que eu julgo mais belas, tudo no diminutivo. “Tenho bastante vestidinho, então não preciso. Mas gosto muito de uma sandalinha e eu estou com medo de ela arrebentar. Faz anos que eu tenho ela”, conta.
Peço licença para tirar o calçado do armário. A dona Rosinha, que na verdade chama Rosa Gonçalves e tem 76 anos, avisa que está limpinha, foi lavado ontem. O modelo, ela sabe que não vai ter outro igual, da marca infantil Klin em tamanho 31/32, porque tem este há muitos anos. “Eu gosto, porque ela não machuca o meu pé”.
No Natal, é preciso voltar a ser criança. Eles, sem perceber, voltaram no tempo para viver os últimos anos, como os primeiros de vida.
As visitas ao asilo tem horário. Pela manhã, das 9h30 às 11h e durante a tarde, das 14h às 17h, todos os dias. Dos 100 velhinhos, 55 homens e 45 mulheres. O telefone para contato é o 3345-0500 e o endereço é avenida José Nogueira Vieira, 1.900.