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Comportamento

O homem que tratava a mãe como passarinho e a enterrou como rainha

Lenilde Ramos | 13/09/2014 07:52
Jonir e a mãe, dona Nhanhã (Foto: Rachid Waqued).
Jonir e a mãe, dona Nhanhã (Foto: Rachid Waqued).

Conheço o artista plástico Jonir Figueiredo desde a divisão do Estado, quando fomos colegas de trabalho na Fundação de Cultura. Jonir lidava com o expediente, suas criações artísticas, amizades e altos agitos mas, uma coisa era sagrada: os cuidados com sua mãezinha.

Dona Nhanhã estava velhinha e o filho se desdobrava com carinhos e comidinhas, enfeitava seus cabelos brancos e enchia sua cama com bonecas de pano, que ela adorava. Algumas vezes, no meio de uma conversa ele dizia: "tenho que correr porque está na hora do iogurte do meu passarinho".

Quando sentiu que sua mãe estava para alçar voo, Jonir a levou para a Chapada dos Guimarães e ali, entre manhãs iluminadas, tardes sombreadas e noites calmas, dona Nhanhã fez sua passagem. Em vez de levá-la para alguma funerária, Jonir fez o velório na capela do velho cemitério de trezentos anos.

Percorreu os arredores, voltou com primaveras lilases e coloriu o chão com elas. Colheu acácias amarelas e enfeitou cuidadosamente o caixão, junto colocou a bonequinha que ela mais gostava, trouxe um pequeno rádio, espalhou música suave por todo o ambiente e ali ficou, reverenciando a vida de sua mãe.

Às duas da manhã chegou o carro funerário para fazer o translado até Campo Grande. O dia estava quente e a viagem cansativa. Quando entraram em Coxim, Jonir pediu ao motorista que parasse uns instantes na praça da cidade, ao lado do Pé de Cedro.

Desceu para comprar água e avistou por ali o amigo Paulo Carvalho. que se assustou ao ver que Jonir viajava num carro fúnebre e, mais ainda ao ouví-lo dizer: "venha se despedir de minha mãe", Paulo, conhecendo a impetuosidade de Jonir pensou que ele ia abrir o caixão e ficou branco! Também se encontraram com Henrique Spengler, nosso saudoso historiador, que se despediu carinhosamente de dona Nhanhã.

Depois o féretro seguiu para Campo Grande, onde foi realizado o enterro. Fiquei emocionada ao ver dona Nhanhã rodeada de flores e de todo o amor de seu caçula Jonir.

Lenilde Ramos é jornalista, sanfoneira, escritora e uma ótima contadora de histórias.

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