ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 24º

Comportamento

O mundo dá voltas e, de vilão, Batman se tornou um querido no colégio Dom Bosco

Thailla Torres | 22/11/2016 06:05
 Com o 'dom' de estar em todos os lugares, Edilson acabou ganhando apelido com nome de super-herói. (Foto: Alcides Neto)
Com o 'dom' de estar em todos os lugares, Edilson acabou ganhando apelido com nome de super-herói. (Foto: Alcides Neto)

Retornar ao cenário do tempo de escola, seja por visita ou como profissional, traz aquele filme à cabeça de quem teve muita história ali. No colégio Dom Bosco, para alguns alunos, pessoas ganharam significado especial ao longo dos anos. Foi assim com "Batman", o inspetor mais conhecido e temido dos corredores, que só atinge outro status quando o estudante pentelho vira ex-aluno. 

Aos 52 anos, Batman é na verdade Edilson da Silva Pereira. Dono de um sorriso tímido e de um jeito simples na hora de conversar, demonstra pouca vaidade quando comento da admiração que ganhou ao longo dos anos.

Um dos funcionários mais antigos, ele já trabalha há 28 anos na escola. A primeira função foi como auxiliar de limpeza e manutenção do pátio. Depois que o reconhecimento bateu à porta, veio a promoção para inspetor, na dura função de manter a ordem, repreendendo os alunos que passam dos limites.

Dono de um sorriso tímido, Batman se tornou um querido. (Foto: Alcides Neto)
Dono de um sorriso tímido, Batman se tornou um querido. (Foto: Alcides Neto)

Quem olha Batman sentadinho na cadeira em um dos corredores do primeiro andar, até pensa que ele nasceu para isso. O jeito paciente e observador é característica fundamental para lidar diariamente com os adolescentes. "Quando eu entrei aqui, nem eu sabia como ia ser trabalhar com crianças e adolescentes. Nunca tinha tralhado assim na vida, mas acho que eu tive jeito, porque passa ano e entra ano, enquanto eu via mudar o quadro de funcionários, eu acabei ficando. Acho que gostaram de mim, né", sorri. 

Tanto gostaram que Batman se tornou uma figura importante, para não dizer um mito. O apelido engraçado de super herói foi um presente dos alunos, graças a sua habilidade física de estar em todo os lugares e quando menos se espera.

"Eu era ligeiro, eu andava aqui e ali, ia na surdina ver o que os alunos estavam fazendo. Quando eles menos esperavam eu já estava no meio da roda. Ai eles começaram a dizer que eu era o Batman, que aparecia do nada e tinha jeito de detetive", brinca.

Hoje, nas redes rociais, além das mensagens de carinho de quem é ex-aluno, tem gente que faz revelações. Há quem garanta que o inspetor conhecia até a cor do chinelo de alguns. Tática para identificar quem ficava escondido no banheiro, na esperança de fugir da aula. "Não é reeprender, mas manter a disciplina. Senão sabe como é né, vira bagunça. Eu fico de olho em tudo, pra não deixar aluno matar aula, ficar demorando muito no banheiro, passeando pelo corredor, fumar ou beber dentro da escola", argumenta.

Placa de Bat-movel foi presente dos alunos que Batman guarda com todo carinho. (Foto: Alcides Neto)
Placa de Bat-movel foi presente dos alunos que Batman guarda com todo carinho. (Foto: Alcides Neto)

Edilson nasceu em Coxim e passou parte da vida trabalhando em fazendas. Quando veio para a cidade, o primeiro emprego já foi na escola. O segredo em lidar bem com os alunos? Ele explica com a mesma calma de sempre. "É paciência e respeito. Eu sempre procuro tratar todo mundo igual, é claro que a gente tem um carinho muito grande, porque tem aluno que passa mais tempo com a gente na escola do que em casa. Então o jeito é não ser grosseiro, porque com o filho da gente é uma coisa, mas aqui estou lidando com o filho de outras pessoas."

Enquanto não está no intervalo ou andando pelos corredores de olho em cada passo dos alunos, Edilson fica parte do tempo sentado em frente a sua sala. O lugar acabou ganhando nome. "Eles chamam aqui de Batcaverna. Direto fazem uma plaquinha e colam em cima da porta. Aí alguém vem aqui e tira. Mas eu já nem ligo mais. Tem gente que entra e sai da escola sem nunca descobrir o meu nome, porque todo mundo só me chama de Batman", se diverte.

A diversão é tanta, que os alunos fizeram uma placa para o carrinho que Edilson usa na entrega das apostilas. "Eu fico responsável pela conferência e a entrega na escola. Ai toda vez que saia no corredor, eu já ia pedindo licença. Um dia vieram e deram essa placa. Agora toda vez que eu saio com o carrinho, eu coloco ela", conta.

Apesar de fazer história na vida dos alunos, que já perderam as contas de quantas vezes foram levados até a coordenação pelo Batman, no fundo ele acabou ganhando o carinho de todo mundo. Batman já deu conselhos, emprestou dinheiro para o lanche, escutou desabafos e muitas vezes até encara uma boa conversa para evitar levar o aluno à coordenação. "Primeiro o jeito é investir em uma boa conversa e fica tudo certo", garante. 

Sobre os anos dentro da escola, hoje Edilson diz que é um homem realizado. "Todo ano muda aluno, as vezes funcionários e a gente tem sempre que se adaptar novamente. Eu falo que trabalhar com gente não é fácil, tem que ter paciência, mas acho que meus melhores dias são dentro da escola", afirma.

Curta o Lado B no Facebook.

Nos siga no Google Notícias