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Comportamento

Por respostas, Carlos busca há 50 anos pais que o abandonaram em estação de trem

O último contato com a família foi aos 5 anos de idade, a mais de 600 km do lugar onde vive hoje em Mato Grosso do Sul

Liniker Ribeiro | 26/01/2019 08:06
Imagem aérea da estação de Araçatuba, na década de 1970. (Foto: Arquivo do Museu Araça)
Imagem aérea da estação de Araçatuba, na década de 1970. (Foto: Arquivo do Museu Araça)

Já se foram quase 50 anos desde que o mecânico Luiz Carlos dos Santos foi abandonado em uma estação ferroviária do município de Araçatuba (SP). A mais de 600 quilômetros de distância de lá, a busca por respostas do passado continua em Mato Grosso do Sul. O desejo de conhecer os pais ou a possibilidade de ter irmãos faz com que o morador de Aquidauana não perca a esperança de descobriu o que aconteceu.

“Meu maior desejo é saber quem são eles e o porquê do abandono”, revela o mecânico de 54 anos, que hoje é pai de 6 filhos, três deles frutos do casamento que já dura 19 anos e outros três de relacionamentos anteriores.

É do final dos anos 1960, inicio dos 70, a última lembrança dos pais. Após eles anunciarem uma viagem de trem que teria como destino Campo Grande, onde visitariam seus avós, o menino não imaginava que a chegada à estação ferroviária seria seu último contato com a família.

“Minha mãe me deu dinheiro e disse para eu ir até um bar comprar doce, porque dentro do trem era muito caro. Quando voltei, encontrei a minha malinha ao lado de um banco. Não havia ninguém, não sei se o trem já havia partido. Só sei que ali estava apenas o guarda da estação”, conta.

O relato leva a uma sensação desesperadora, de medo diante do abandono, mas o tempo parece ter cicatrizado a dor e sobrou a curiosidade. “Até isso eu gostaria de saber, se eles são meus pais verdadeiros ou me pegaram para criar”, conta ele.

Carlos hoje vive em Aquidauna e trabalha como mecânico. (Foto: Arquivo Pessoal)
Carlos hoje vive em Aquidauna e trabalha como mecânico. (Foto: Arquivo Pessoal)

A primeira noite sozinho foi em um banco de praça. Depois veio o abrigo público só para dormir. “No outro dia cedo, tinha que sair e ia procurar meus pais na cidade”, contou Carlos em entrevista ao jornal o Pantaneiro. Foi assim durante 1 ano, passando os dias pedindo de porta em porta.

“Um dia, à tarde, estava deitado no banco da Igreja Matriz da cidade, queimando de febre. Eu vi uma mulher, que estava na missa, sair da igreja e fui atrás. Sentei na frente da casa dela. E foi quando a dona Inês, mãe dela, me viu e mandou que entrasse. Lá, as empregadas me deram banho, remédios e trocaram a minha roupa”, lembra.

A família tinha terras em Aquidauna, ajudaram o garoto com vaga em um seminário e só aos 14 anos ele embarcou para Aquidauana, para trabalhar na fazenda da família Scaff.

Da infância, Carlos lembra do Rio Tietê, do pai trabalhando com barcos. “Como não tinha Corpo de Bombeiros naquele tempo, ele resgatava corpos afogados depois de grandes temporais".

Também sabe que morou em Buritama, perto de Birigui, interior de São Paulo, de onde surgem cenas também dos pais em lavouras de tomates.

Hoje, a certidão de Carlos apresenta dois nomes: o de Maria Aparecida dos Santos e José dos Santos. Mas, segundo ele, esse casal – que de acordo com suas buscas já não estaria mais vivo – seria apenas quem o registrou após novos recomeços. “É que, naquela época, qualquer um podia pegar uma criança e registrar o nome que quisesse e ficava por aquilo mesmo. Mas, pelo que eu me lembro, minha mãe se chamava Creuza Gasparini e meu pai Cícero Prates”.

A última vez que ele viu os pais foi na entrada da estação ferroviária.(Foto: Arquivo do Museu Araça)
A última vez que ele viu os pais foi na entrada da estação ferroviária.(Foto: Arquivo do Museu Araça)

A mãe era morena, alta de cabelos compridos. O pai baixinho, branco e sempre de chapéu, com andar singular por mancar de um lado de uma perna. Ela fumava e ele gostava de beber, diz.

O caminho de buscas já vem se construindo há muitos anos. Apesar disso, todas as tentativas de localizar o casal não saíram como esperado. Antes de vir para Mato Grosso do Sul, Carlos chegou perto. Encontrou uma senhora que garantiu conhecer uma mulher com as características apresentadas por ele. No entanto, depois veio a resposta de que ela havia mudado de endereço. O então adolescente também chegou a entrar em contato com uma empresária da cidade de Araçatuba, que tinha o mesmo sobrenome de sua mãe. “Mas ela afirmou desconhecer o relato de um parente desaparecido”, conta ele.

Carlos não gosta de falar de dores do passado, mas comenta que uma marca em especial pode o ajudar a localizar seus pais. “Tenho uma cicatriz no dedo que foi feita em uma fábrica de colchão na cidade de Guararapi. Me machuquei com um gilete”, conta ele.

Qualquer informação sobre o possível paradeiro dos pais de Luiz Carlos pode ser passada por meio do telefone 9.9832-7910.

*A pauta e a maior parte das informações desta reportagem foram colaborações da equipe do Jornal do Pantaneiro.

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