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Comportamento

Qual a chance de alguém conhecer o grande amor ainda bebê e nunca se separar?

Paula Maciulevicius | 06/04/2015 06:12
Quem tirou o retrato na época podia até desejar, mas nunca imaginou que estaria diante de um casal que diria "sim" um ao outro 20 anos depois.(Foto: Arquivo Pessoal)
Quem tirou o retrato na época podia até desejar, mas nunca imaginou que estaria diante de um casal que diria "sim" um ao outro 20 anos depois.(Foto: Arquivo Pessoal)

Em preto e branco, "parzinhos" desde a infância, Débora e Marcelo exibem uma graciosidade de se apaixonar. O álbum de fotos mostra que desde os 2 anos eles já eram grudadinhos. Quem tirou o retrato na época podia até desejar, mas nunca imaginou que estaria diante de um casal que diria "sim" um ao outro 20 anos depois. Afinal, qual é a chance de encontrar o amor em quem se conhece desde sempre?

Sorte ou destino, os dois cresceram lado a lado e na adolescência reconheceram, um no outro, o sentimento. De um passado para um presente e um futuro, Débora tem lembranças de Marcelo desde que nasceu e vice e versa. Os dois são de Campo Grande, mas atualmente moram no interior do Mato Grosso.  

"Dividindo tios", eles frequentemente se encontravam entre festas de família, onde eram feitos tais registros em fotos. "A mãe dele tem uma irmã que era casada com o meu tio. Meu marido era sobrinho da mesma tia que eu" nos situa a psicóloga Débora Figueiredo Oliveira de Araújo, de 44 anos, protagonista desta história.

Aos 2 anos, Débora dá um beijo no rosto de Marcelo. (Foto: Arquivo Pessoal)
Aos 2 anos, Débora dá um beijo no rosto de Marcelo. (Foto: Arquivo Pessoal)

As mães dos dois se conheciam desde a adolescência, por frequentarem a mesma igreja, se casaram na mesma época, engravidaram praticamente juntas - com 9 meses de diferença entre um e outro - e sempre torceram por um casamento entre os dois. "Nos conhecemos desde bebê, porque as famílias eram conhecidas", explica Débora.

Das brincadeiras de criança o que ficou na memória dela foi de uma tarde em que os tios em comum dos dois levaram o casalzinho para tomar sorvete. "Meus tios me pegaram em casa, ele já estava no carro. A gente devia ter uns 7 anos e fomos medir nosso tamanho. Estávamos discutindo quem era o maior, deitamos no banco de trás do carro para ver quem alcançava o pé na porta. Tenho bem guardada essa recordação da infância", descreve.

Por muito tempo os parentes brincavam que eles ainda iriam namorar. Débora e Marcelo estudaram juntos alguns anos na mesma sala, um convívio além do familiar. Na adolescência começaram as "armações". "Tinha por exemplo um jantar dos namorados que uma entidade promovia, as tias organizavam pra gente ir junto, exemplifica Débora.

A família era torcida declarada pelo namoro. "Mas sabe como é, a gente não tinha interesse de namorar. Ele sempre muito tímido, eu já mais expansiva, comunicativa. Quando vinha o assunto eu torcia o nariz, nem rolava muito papo entre a gente", lembra.

Concretizar a ideia dos pais nem passava pela cabeça do casal. "Meu pai não me deixava sair com um namorado que eu tinha e falava sempre 'se você namorasse o Marcelo, aí sim...' eu só resmungava mas que porcaria tem esse menino, eu não vou namorar só porque vocês querem", lembra.

Os dois no casamento, em 1993. (Foto: Arquivo Pessoal)
Os dois no casamento, em 1993. (Foto: Arquivo Pessoal)

Nos preparativos da festa de 15 anos da irmã de Marcelo, os dois caíram juntos como par para dançar a valsa. "Minha sogra que organizou pra gente dançar junto, era ensaio todo domingo e ali era um pretexto para a gente se encontrar e ficar mais próximo".

Nessa época, Débora tinha 17 e o Marcelo 18. "Começamos a ensaiar e ali ele passou a ficar mais solto, a brincar mais e com aquilo eu comecei a ficar intimidada", descreve. Nos ensaios, os dois ouviam a orientação para olharem um para o outro, princípio básico para quem vai compartilhar os mesmos passos de dança. Mas no caso deles, encarar um ao outro era cultivar um sentimento que talvez existisse desde sempre.

"Um dia ele falou já que você não consegue olhar para mim eu arrumei uma máscara. Era uma brincadeira", lembra Débora. No penúltimo ensaio, já às vésperas do aniversário, Marcelo não foi e logo chegou a notícia e o pedido. "O melhor amigo dele tinha falecido e a mãe dele perguntou se eu não podia ficar com ele, fazer companhia. Foi aí que começamos a conversar um pouco".

No dia da valsa, um pouquinho antes dos dois entrarem no salão, Marcelo beijou Débora. Não com a ingenuidade de criança, mas com o sentimento de quem começava a reconhecer um amor. "Já tinha interesse da parte dele comigo, mas eu na época tinha um paquerinha. Na hora de dançar ele me deu um beijo, eu não poderia ter reação nenhuma, brigar, nem nada. Dançamos e depois fomos conversar".

Após a festa, Débora colocou na balança: de um lado o paquera de antes, do outro: Marcelo, de sempre. "Esse menino, que eu estava paquerando, ele era mulherengo, danado. Eu olhava e via que não ia dar certo. O Marcelo era muito respeitoso, eu via que aquela relação na verdade começaria de uma grande amizade", avaliou à época.

Da perda do melhor amigo, os dois se aproximaram muito, foi aí que começou a nascer um sentimento diferente. Em dezembro de 1988 os dois iniciaram o tão esperado - entre as duas famílias - namoro. Dois meses depois, Marcelo foi cursar Medicina Veterinária em Presidente Prudente.

"Ele fez toda a faculdade, eu tinha liberdade aqui, saía com minhas amigas e ele lá, saía com os amigos deles. Era um relacionamento tranquilo, saudável, mas quando ele estaca para fazer o último ano, tivemos um rompimento", narra Débora.

Do término, os dois concluíram que só voltariam se fosse para casar. Aí que as duas famílias entraram com as responsabilidades. "Como elas queriam muito que desse certo, nossos pais se propuseram a nos ajudar, cada pai arcaria com as despesas dos seus filhos. Nos casamos e todo mundo esperava que logo aparecesse minha barriga, achavam que eu estava grávida, mas ainda demorou cinco anos", brinca a psicóloga.

Na versão de Marcelo, a história ganha um detalhe a mais. O interesse dele por Débora começou antes da valsa, no dia do seu aniversário de 18 anos. "Eu fiz uma comemoração no domingo, durante o dia e no finalzinho ela apareceu junto com o pai e a mãe dela. Foi a primeira vez que me despertou, no sentido de namoro. A gente estudou no Ensino Médio juntos, encontrava ela quase todo dia, mas era só um 'oi, oi'".

"Quando as pessoas veem essas fotos nossas, com 2 aninhos juntos abraçadinhos, nós sempre perguntamos: sabem quem é? Somos nós". (Foto: Arquivo Pessoal)
"Quando as pessoas veem essas fotos nossas, com 2 aninhos juntos abraçadinhos, nós sempre perguntamos: sabem quem é? Somos nós". (Foto: Arquivo Pessoal)

Juntos, os dois admitem que a história é como poucas por aí. Daria mais que uma matéria, um livro, uma novela. "Quando as pessoas veem essas fotos nossas, com 2 aninhos juntos abraçadinhos, nós sempre perguntamos: sabem quem é? Somos nós", brinca Débora. 

E desde pequeno eles eram assim. "Eu estou com a cara emburrada e ele está me abraçando. Para a nossa história, isso fez diferença".

Não foi de cara, no início do namoro, que veio a certeza de que ali estavam, 21 anos depois, os dois diante dos amores de suas vidas. "Eu não era apaixonada por ele, tinha o interesse, mas não era ainda, só que assim eu podia ver a forma como ele tratava a família. Era respeitoso e tudo isso despertou em mim um interesse de conhecer mais. Isso foi me encantando e me apaixonando, a forma como ele é, eu vejo muito daquilo que aprendeu na infância". 

Marcelo e Débora tem hoje dois filhos: de 16 e 12 anos, que assim como eles, são apaixonados pela história de amor protagonizada pelo casal. "É uma coisa que passa pra gente. Eu fico imaginando, será que um dia vou encontrar alguém assim também? Igual a eles, não tem", diz a filha, Maria Eduarda Araújo.

Marcelo e Débora tem hoje dois filhos: de 16 e 12 anos, que assim como eles, são apaixonados pela história de amor. (Foto: Arquivo Pessoal)
Marcelo e Débora tem hoje dois filhos: de 16 e 12 anos, que assim como eles, são apaixonados pela história de amor. (Foto: Arquivo Pessoal)
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