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Comportamento

Quer saber a história de alguma família de Campo Grande? Pergunte à dona Eny

Paula Maciulevicius | 01/11/2013 06:41
Vontade de passar adiante a história da própria família vem da angústia de não ter conversado com a avó e ter descobertos fatos apenas pelo livro. (Fotos: Cleber Gellio)
Vontade de passar adiante a história da própria família vem da angústia de não ter conversado com a avó e ter descobertos fatos apenas pelo livro. (Fotos: Cleber Gellio)
Retrato dos bisavós mostram a importância que ela dá às histórias da família.
Retrato dos bisavós mostram a importância que ela dá às histórias da família.

Aos 79 anos, Eny Ávila Vieira de Paula é mais uma personagem que cai como um presente para o Lado B contar a história. Uma senhora que não parece estar a um ano de virar octogenária. Parente das famílias Rezende, Pereira, Ávila e Lima, é debaixo de uma mangueira, na nascente do córrego Bandeira, que ela conta com orgulho quem foram os que hoje dão nome às ruas e bairros de Campo Grande.

Logo de cara, a situação se inverte. Ela vira repórter e nós, entrevistados. Uma das primeiras perguntas é quanto ao sobrenome. Dona Eny diz que até tenta resistir e não perguntar, mas como no fim das contas, ela sempre conhece mesmo, não deixa passar. 

Os nomes das placas de rua são coincidem com a árvore genealógica da família dela. Quem não é de perto, tem parentesco no sangue dos avós. “Manoel da Costa Lima era tio da minha avó, ela inclusive foi criada com esse tio, Sebastião Lima era tio também. Rita Vieira era minha tia avó. Toda essa família veio na época do José Antônio Pereira”, narra.

A vontade de passar adiante a história da própria família vem da angústia de não ter conversado com a avó e ter descobertos fatos apenas pelo livro A Saga das Famílias Pioneiras de Campo Grande. “Eu senti muito de não ter conversado mais com a minha vó, perguntado da história dela. A gente era muito nova, eu nunca perguntei nada e só vim a saber que ela foi criada pelo tio, no livro”.

Escrito por Lygia Carriço de Oliveira Lima, parente da Eny e lançado em 2011, a história é livro de cabeceira da nossa personagem e reúne boa parte dos nomes de ruas e bairros da cidade. Motivo de orgulho para Eny. “Acho importante e legal, as pessoas brincam que eu tenho família muito grande, quem não é parente da Eny é casado com parente”, conta.

Os tataravós vieram de Minas Gerais com os filhos, depois que José da Costa Lima comprou uma fazenda onde foi a Rancharia, na avenida Três Barras. O bisavô também dá nome à rua, Joaquim Cecílio. “Ele teve seis filhos, entre eles a Olímpia, minha avó, aí vem o papai, Joaquim Ávila de Lima”.

Todos eram pecuaristas e viviam numa época em que o dinheiro e as terras eram sinônimo de poder. Boa parte deles ganhou o título de coronel. Um dos bairros mais valorizados hoje leva o nome de uma pessoa muito querida, segundo Eny, Rita Vieira era uma mulher por ela mesmo e uma excelente parteira.

Eny foi a terceira geração da família a ajudar na construção, pela terceira vez, da paróquia Santo Antônio. (Foto: Marcos Ermínio)
Eny foi a terceira geração da família a ajudar na construção, pela terceira vez, da paróquia Santo Antônio. (Foto: Marcos Ermínio)

A história de vida dela está tão enraizada em Campo Grande que sem saber, Eny foi a terceira geração da família a ajudar na construção, pela terceira vez, da paróquia Santo Antônio. A surpresa veio na escritura da igreja, mas quem sabe se a conversa de família surgisse antes, ela saberia pela boca dos avós e não pelos documentos.

“Eu morava na travessa Lídia Baís, a igreja ali ficou só a capela, ninguém nem queria mais ser festeiro de Santo Antônio. Eu falei para o João Terra que tinha o estacionamento, vamos construir a igreja? Formamos um grupo e íamos fazendo reunião, bingo, almoço, churrasco”.

O projeto de arquitetura da paróquia veio das mãos do filho de Eny. Ela até sugeriu para que ele, que à época terminava a faculdade, que fizesse. Mas o jovem preferiu fazer surpresa e só contou que havia feito quando o projeto foi aprovado.

Depois da obra pronta, é que Eny descobriu que erguer igreja ao santo estava no seu sangue ao ver que na escritura do terreno doado pela família Baís, estava o nome do seu bisavô. “Ele fazia parte da comissão de construção e doou 100 vacas para construir a segunda igreja e eu não sabia. Meu outro bisavô ajudou quando construiu a primeira igreja, ainda de pau a pique. Então foi uma coisa do universo, eu não sabia. Só tinha aquela vontade de ir fazer, alguém tinha que dar o pontapé”.

A senhorinha que diz ter tido a felicidade de gostar de todas as fases da vida se sente realizada em contar o que sabe e passar adiante a história da família. Apenas um dos netos, de nome Caio, que é mais interessado em saber. Ao final da entrevista, dona Eny elogia e diz que eu só podia ser mesmo neta da Mariana. Ela também conhece a minha família.

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